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segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

O Juro baixo bota na nossa poupança? - Jorge Serrão

Nunca dá para afirmar que o Rentismo esteja condenado ao fim em Bruzundanga. O vício de ganhar dinheiro com um mínimo ou nenhum trabalho, via “aplicação” ou especulação financeira, está arraigado no Brasil que teve juros altíssimos por décadas. Agora, com tendência de juro baixo (com remuneração praticamente zero diante da taxa de inflação) parece que a grana terá de ser direcionada para investimentos realmente produtivos. Tomara...
Enquanto tal esperança (ou milagre) não se consolida, fica uma pergunta no ar: como fica a situação da Caderneta de Poupança considerada uma das aplicações mais populares? Se a principal taxa de juros (a Selic) ficar igual ou abaixo da inflação (em torno de 4%), a poupança se transforma em “prejuízo”. Os brasileiros têm, atualmente, R$ 825 bilhões aplicados na poupança. A modalidade é usada por 66% das pessoas que “guardam dinheiro” – segundo pesquisas do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil).
Fabrizio Gueratto, Financista do Canal 1 Bilhão Educação Financeira, chama atenção para o problema: “Quando a Selic está abaixo de 8,5% a poupança sempre vai render 70% desse valor + a Taxa Referencial, que hoje é zero. Dessa forma, agora o seu rendimento anual é de 3,15%. Se você for comparar com a inflação acumulada dos últimos doze meses, que é de 3,27%, o seu dinheiro vai render menos do que os preços aumentam. É o fim da poupança. O brasileiro precisa se mexer para buscar novos investimentos e em breve irá impactar também os CDBs com liquidez diária”.Gueratto dá um exemplo didático de como a inflação pode corroer os ganhos. “Vamos supor que você tenha R$ 2 mil guardados na poupança por um ano e agora quer comprar um celular de mesmo valor. No cenário atual da poupança, você não conseguiria comprar esse celular, pois os seus R$ 2 mil, valeriam R$ 2.057,83 em um ano, mas o preço do celular passaria para R$ 2.072,00, se levarmos em consideração a inflação atual
O financista também adverte que o Certificado de Depósito Interbancário (CDI), que remunera 100% da taxa Selic, sofrerá o mesmo efeito da poupança: “Considerando essa mesma inflação, em breve, se a taxa Selic continuar caindo, alguns investimentos que rendem 100% do CDI também perderão para a inflação. Hoje CDBs que rendem 90% da taxa DI, fáceis de encontrar nos grandes bancos, já empatam com a inflação, quer dizer, têm ‘ganho real’ igual a zero”.
O mercado desenha cenário de inflação contida com tendência de baixa de juro no Brasil. Grandes bancos avaliam que o Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil (o famoso COPOM do BC do B) pode baixar ainda mais a taxa Selic. A previsão é de 4% em 2020. A queda compromete a remuneração dos investimentos de renda fixa. A perspectiva apavora rentistas sem criatividade e sem hábito de investimento produtivo. Como a recuperação econômica ganha tração, é hora de encontrar uma maneira produtiva de ganhar dinheiro, com menor risco possível. Os viciados no jogo do rentismo piram...
Terça feira (17) o BC do B divulga a ata do Copom. Quinta-feira (19), sai o Relatório Trimestral da Inflação (RTI). Os dois documentos vão indicar os rumos econômicos para o ano que vem. Diante de um risco concreto de fuga de dinheiro da poupança, ninguém se surpreenda se o governo Bolsonaro tomar alguma medida para melhorar o rendimento do mais popular dos “investimentos” financeiros. A bola está com o time de Paulo Guedes... Os tempos de juro baixo são um novo desafio para a economia brasileira que terá de se reinventar produtivamente. Isto é tudo de bom... Ainda mais se a corrupção for barrada...

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