O mote da
década de 50 acompanhou por anos a vida dos consumidores: “vale quanto
pesa”. O símbolo da balança na embalagem garantia a legitimidade do
sabonete e reforçava o conceito da “verdade verdadeira”. De lá para cá, a
verdade passou a perder substantivos e a ganhar superlativos, dando
vazão ao bordão desses tempos virtuais: “vale muito mais do que pesa”.
Que embala propagandas, expressões sobre pessoas, políticos, jogadores
de futebol etc.
E cai bem no momento em
que a política começa a rejeitar velhos paradigmas. Nesse ano
eleitoral, enquanto o superlativo dominará a política, a verdade se
cobrirá de fake news, dividindo os mundos real e virtual, a serem guiados por três ferramentas cognitivas: a razão, a emoção e a polarização. O cenário da razão abriga
eleitores conscientes, autônomos, que já não agem ao estilo “Maria vai
com as outras”. Esse campo disputará o processo decisório com o da
emoção. Basta medir a temperatura ou ver o desfile de adjetivos nas
redes sociais entre bolsonaristas e oposicionistas.
Indignação, revolta, ódio
se amalgamam nas bandas que dividem a sociedade: os adeptos do
presidente Jair; os oposicionistas que não leem pela cartilha da
direita-radical-conservadora; e os centristas, que olham em volta à
procura de novos protagonistas.
Mas a movimentação social
no Brasil mostra que a razão, no processo de tomada de decisões, amplia
adeptos até nos setores populares, tradicionalmente emotivos. Os
comportamentos racionais hoje em dia indicam reordenamento de valores,
princípios e visões dos grupamentos sociais sobre sua cidadania. É o caso de perguntar: que vetor influenciará mais na campanha deste ano? Atente-se para o ethos nacional,
que agrega valores como cordialidade, improvisação, exagero, paixão,
solidariedade. A “alma caliente” dos trópicos se contrapõe à frieza
anglo-saxã. Ou seja, a emoção ganha da razão.
Mas o processo racional
se expande ao correr do avanço civilizatório. As mudanças começam no
campo individual. A pessoa, escondida no anonimato, descobre que pode
ser cidadã. A cidadania deixa de ser bandeira de instituições e se torna
desejo. Isto é, amplia-se a consciência do “EU” em contraponto ao
conceito do “NÓS”, esteira da propaganda política. Maior autonomia
desenvolve autogestão técnica, pela qual os indivíduos traçam rumos e
selecionam meios de atingir seu intento. As pessoas já não aceitam as
regras do poder normativo e fogem dos “currais” psicológicos que
enclausuram pensamentos.
O campo social alarga os
discursos, propicia a rebeldia das formas e provoca a rejeição a tudo
que se assemelhe a totalizações. Classes sociais e categorias
profissionais desfraldam suas bandeiras. Se muitos ainda votam com a
emoção, outros fazem uso da razão: o voto sai do coração para subir à
cabeça.
Frase do dia
Toffoli
Gaudêncio Torquato é jornalista, professor titular da USP e consultor político
Blog do Noblat - Ricardo Noblat, jornalista - VEJA