Para o economista Armínio Fraga, é profundo o tamanho do buraco. Ele
calcula que será necessário, em recursos, o equivalente a oito pontos do
PIB para sairmos dessa. [Com Bolsonaro presidente. Sem Bolsonaro e desrespeitando a vontade de quase 60.000.000 de eleitores, haja PIB para salvar o Brasil - o nosso destino será competir com a Venezuela para saber quem chegará primeiro ao fundo do mais profundo do poço.]
Nesse ponto é que uma reflexão política pode ajudar. O governo segue
dois caminhos perigosos. Ambos tornam a tarefa mais difícil. A visão atrasada da política ambiental pode ser um obstáculo
decisivo, pois consegue, ao mesmo tempo, afugentar investidores
internacionais e desvalorizar os produtos brasileiros lá fora. [a política ambiental não tem razões convincentes, justas e patrióticas para alterações profundas - nossas florestas estão acima do limite, redução houve na dos países que tentam impor regras.] Ou, no
limite, até tornar alguns inviáveis. A política sanitária negacionista completa esse quadro. O desempenho
brasileiro no combate ao coronavírus também não ficará barato para a
Nação. Pontualmente, o mercado da carne foi atingido. Mas o turismo
dificilmente se recupera rápido. O fato de sermos uma região onde o
vírus não é controlado significa inúmeros transtornos, que repercutem
até na dificuldade do Flamengo de contratar um técnico de futebol no
exterior.
A existência de um governo com essas características torna a tarefa de recuperação, com a demanda de recursos que implica, gigantesca, quase impossível. O ponto central no momento é a reforma tributária. O pulo do gato é um imposto sobre transações eletrônicas, bastante aceleradas sobretudo depois que a pandemia se instalou no País. É uma CPMF adaptada às condições da nova situação criada pelo coronavírus e que, de certa maneira, já se verificava como consequência da revolução digital. Aí reside outro nó político. Como convencer a sociedade, devastada pela crise sanitária, a pagar um novo imposto, ela que já o recusou em outras circunstâncias? A única possibilidade de atenuar a resistência será um esforço visível do governo para reduzir os custos da máquina. Nos cálculos de Armínio Fraga, isso poderia representar três pontos do PIB, sem perda de eficácia da máquina.
A própria ordem dos fatores dificulta essa saída. O governo, primeiro, pensa em introduzir um novo imposto. Só depois, possivelmente, falará em reforma administrativa. Mesmo assim, não se conhece em detalhes o que ele pensa sobre isso. Haveria mesmo uma racionalização convincente da máquina, uma certeza cristalina de custos menores pela prestação dos serviços públicos? A previsão é de que, mesmo sem orçamento de guerra em 2021, o governo seja pressionado a gastar. A dívida no longo prazo torna-se problemática e a tendência será buscar dinheiro com prazos cada vez mais curtos.
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Artigo publicado no Estadão em 24/07/2020
A existência de um governo com essas características torna a tarefa de recuperação, com a demanda de recursos que implica, gigantesca, quase impossível. O ponto central no momento é a reforma tributária. O pulo do gato é um imposto sobre transações eletrônicas, bastante aceleradas sobretudo depois que a pandemia se instalou no País. É uma CPMF adaptada às condições da nova situação criada pelo coronavírus e que, de certa maneira, já se verificava como consequência da revolução digital. Aí reside outro nó político. Como convencer a sociedade, devastada pela crise sanitária, a pagar um novo imposto, ela que já o recusou em outras circunstâncias? A única possibilidade de atenuar a resistência será um esforço visível do governo para reduzir os custos da máquina. Nos cálculos de Armínio Fraga, isso poderia representar três pontos do PIB, sem perda de eficácia da máquina.
A própria ordem dos fatores dificulta essa saída. O governo, primeiro, pensa em introduzir um novo imposto. Só depois, possivelmente, falará em reforma administrativa. Mesmo assim, não se conhece em detalhes o que ele pensa sobre isso. Haveria mesmo uma racionalização convincente da máquina, uma certeza cristalina de custos menores pela prestação dos serviços públicos? A previsão é de que, mesmo sem orçamento de guerra em 2021, o governo seja pressionado a gastar. A dívida no longo prazo torna-se problemática e a tendência será buscar dinheiro com prazos cada vez mais curtos.
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Artigo publicado no Estadão em 24/07/2020