Doria desistiu, mas não resolveu o enigma tucano. O
PSDB continua em cima do muro, agora balançando entre Simone Tebet e
Eduardo Leite. Adiou a decisão para a próxima semana.
Ficar com Eduardo
Leite escancara o golpe contra Doria, o vencedor da prévia do partido;
ir para Tebet mostra a carência de nomes tucanos, ao adotar a candidata
do MDB. Nessa segunda, ele chegou ao encontro com seus correligionários
já decidido, de discurso pronto e acompanhado da mulher, dona Bia, e do
irmão Raul. Lançou uma frase destinada a ser lapidada: "Me retiro da
disputa com o coração ferido, mas com a alma leve". Afinal, fora rezar
em Goiânia na véspera. O choro, depois, nos braços de Bia, fez lembrar a
Pietà — e pareceu tão sincero quando o recolhimento com as mãos postas,
em oração. E ainda fez uma frase de marketing, projetando seus 2%:
"Agradeço aos seis milhões de brasileiros que manifestaram a intenção de
votar em meu nome para presidente". Doria sendo Doria. PSDB sendo PSDB.
O episódio faz parte de um problema mais amplo: a
ausência de nomes conhecidos e populares em grandes partidos. O MDB e o
Cidadania (novo nome do PCB) se reúnem para apontar candidato e —
perguntar não ofende — será que vão mesmo convergir para Simone Tebet? A
senadora, ex-prefeita de Três Lagoas (MS), se tornou conhecida na
patética CPI da Covid, mas não muito. Além das divisas do seu estado,
vai ser difícil conquistar eleitores. No próprio MDB, há divergências — e
até aparece o nome de Temer como candidato. Como já se viu num jantar
em Brasília entre senadores do MDB e Lula, a preferência do partido no
Nordeste é pelo ex-presidente.
De Minas para o Sul, as preferências são
aderir a Bolsonaro. O Cidadania vai a reboque, e o União Brasil já caiu
fora, com o candidato autoescolhido, o presidente do partido, Luciano
Bivar, outro quase desconhecido, a não ser pelos iniciados em política.
Imagino o quanto o DEM esteja se lamentando de ter-se juntado ao PSL
para formar o União Brasil. E também imagino que a via dos eleitores do
DEM e do PSL leva a Bolsonaro.
Nem mesmo o PT está seguro de sua escolha. As trocas de
comunicadores e marqueteiros mostram isso. E até há petista sonhando
com Ciro Gomes, que teria menos rejeição que Lula, cujo passado o
condena. Também há petistas tentando atrair Ciro, mas Ciro está convicto
de que é alternativa a Lula. Tanto que faz críticas a Lula e parece
esquecer Bolsonaro. O presidente que busca a reeleição, por sua vez,
está aceitando todos os convites para eventos e levando seus ministros
para apresentar pelo Brasil resultados de obras todas as semanas.
As
multidões que atrai servem como água fria sobre as pesquisas que põem
Lula na frente, o candidato que evita as ruas.
Uma via de meia-volta foi vista na Justiça. A Corte foi
unânime em recusar ação do ex-presidente do PT Rui Falcão e de Fernando
Haddad para obrigar o presidente da Câmara a despachar pedidos de
impeachment do partido.
E, agora, Alexandre de Moraes volta atrás e
revoga sua liminar que proibia o presidente da Câmara de convocar
eleição para substituir os membros da Mesa Diretora, inclusive o vice
Marcelo Ramos, ferrenho crítico de Bolsonaro. Lira já convocou eleição
para esta quarta. Parece que o Supremo deu uma relida no segundo artigo
da Constituição, sobre Poderes independentes e harmônicos. A via da
Constituição não comporta contramão. [Bolsonaro é o POVO e o POVO sabe o melhor para o Brasil. Ainda temos dúvidas que o Povo Nordestino vá votar em ladrão.]
Alexandre Garcia, colunista - Correio Braziliense