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sábado, 9 de maio de 2020

Que Democracia é a nossa? Fábio Chazyn

Era uma vez, muitos anos antes de Cristo, numa terra famosa pelos sábios que sabiam de tudo, dois deles discordavam em um tema que é atual até hoje. Um deles achava que os homens são iguais uns aos outros. O outro achava que são diferentes. O que achava que os homens são diferentes entendia que eles são dotados de doses diferentes de conhecimento, de coragem e de desejo.


O que achava que os homens são iguais, assim pensava porque os via como seres racionais e fracos interiormente. E por causa disso, tinham que viver numa comunidade administrada pela política. Coerente com o seu pensamento, o primeiro achava que, como os homens são diferentes, eles deviam ser administrados pelos mais ricos que, por serem os mais educados, detinham o conhecimento. Já, o sábio que achava que os homens eram iguais era da opinião de que a luta de “um por todos, e todos por um” era o melhor sistema porque configurava o governo do povo, pelo povo e para o povo, ou seja, a Democracia.

Com o passar do tempo, porém, a realidade foi mostrando que ‘na-prática-a-teoria-é-outra’. Quando o poder vem de cima, como no caso dos sistemas de governo com o poder centralizado, esse poder acaba sendo exercido por uma casta burocrática que acaba invertendo a relação entre o Estado e o povo. Ou seja, ao invés do Estado servir ao povo, é o povo que serve ao Estado. É o caso do Brasil atual em que depois de pagar o funcionalismo público, o governo não tem mais dinheiro para melhorar a vida dos cidadãos.

É muito comum também que na escolha os seus representantes, o povo seja seduzido pela lábia de alguns mais aptos na arte de enganar. No final, estes marqueteiros iludem o povo vendendo a imagem de que sabem interpretar a ‘vontade-geral’, mas de fato são melhores na retórica do que na racionalidade. Vendem gato-por-lebre... Apesar de todo esse “defeito-prático”, se passou mais de 2 mil anos e ainda não encontramos uma fórmula infalível que não permita que o Estado seja usurpado do povo por uns metidos-a-déspotas se achando salvadores-da-pátria, por loucura ou por hipocrisia...

A Democracia ainda é vista como o melhor regime para resistir aos avanços dos outros modelos não tão comprometidos com a liberdade individual. A alternância de poder que a Democracia garante, ainda que não seja o melhor meio de escolher os melhores, é um jeito de impedir que os piores fiquem no poder para sempre... Obcecado em blindar a Democracia dos déspotas usurpadores de poder, um calejado juiz bolou um sistema em que um poder controla o outro. Deu o nome de sistema de “separação-de-poderes-por-meio-de-freios-e-contrapesos”.  Deu certo em muitos lugares, mas não aqui na terrinha. Mais “conspiradores” do que em muitas outras paragens, onde o espírito do Patriotismo é genuíno, no papel redigido em 1988, o Brasil adotou o sistema do Barão de Montesquieu, mas, na prática, passou a funcionar no sistema do Centralismo Democrático inventado por Lênin – um dos pais da extinta (?) União Soviética.

No início do século XX, os russos redescobriram a Pedra da Roseta com o ‘mapa-da-mina’: os segredos de como tirar proveito de todo o mundo em nome de todo mundo, isto é, “democraticamente”. A “invenção” do Centralismo Democrático. desde então, fez escola em todos os cantos e recantos da vida de todo mundo, no Mundo todo. Há sempre um “Conselho de Administração”, ostensivo ou clandestino, decidindo nas costas do povo.

Os franceses chamam de ‘petit-comité’ quando se quer designar o grupo de poucos que decide, nas sombras dos gabinetes, o futuro de muitos. Os russos chamaram de “Politicheskoye Byuro”, vulgo Politburo, preconizando que o melhor método é o de sete membros com a “liberdade de discussão, unidade de ação”. Aqui, na terrinha, ainda não ficou claro quem é o sétimo membro...
Vamos augurar para que, no nosso Centralismo Democrático, pelo menos, o obscuro “sétimo membro” não se apoie no corona-vírus para adquirir uma “Golden-Share”... 



Fabio Chazyn, autor dos livros “Consumo Já! Projeto Vale-Consumo” (2019) e “O Brasil Tem Futuro? Projeto A.N.O.R. – Inteligência Artificial Coletiva” (2020)