O presidente dilapida o próprio capital ao depreciar suas escolhas
Traço marcante da personalidade de Jair Bolsonaro é querer fazer as coisas do jeito dele. O problema é que do seu jeito atabalhoado, simplista, primitivo e muitas vezes rude não tem dado certo. Isso não é dito por nós, integrantes da imprensa que na visão do presidente o persegue com as piores das intenções. O mau resultado está demonstrado nas pesquisas e na opinião de boa parte de seus eleitores que se expressam na internet em oposição a várias de suas ações e/ou declarações. Os primeiros acordes da sinfonia do mandato presidencial sinalizavam acertos.Independência para Paulo Guedes, carta branca para Sergio Moro, aposta na eficiência de quadros oriundos das Forças Armadas nomeados para postos-chave em seu entorno para tocar o dia a dia do Palácio do Planalto. Por ignorância, ingenuidade, voluntarismo ou tudo isso junto, Bolsonaro tem promovido uma inusitada e perigosa queima de seus mais eficazes ativos. O presidente dilapida o próprio capital político, administrativo e institucional quando trata de maneira desprezível suas melhores escolhas de equipe enquanto celebra o convívio com as mais tóxicas companhias.
Óbvia e comprovadamente não foi a escolha ideal, mas precisamos conviver com essa realidade levando adiante o exercício da crítica civilizada e consistente. [para tristeza de grande parte da imprensa e da turma do 'quanto pior, melhor', Bolsonaro será, com as bênçãos de Deus, o presidente da República até 31 dez 2022.
O titular da Justiça é reiteradamente desdenhado em suas propostas, exposto à realidade de submissão de seus planos ao imperativo presidencial não raro em sentido contrário. Os militares são aceitos pela sociedade na proporção inversa do prestígio conferido a eles por Bolsonaro, e aqui, nesta análise, sobra Paulo Guedes, da Economia.
Dele depende a reforma da Previdência, a qual está ligada a uma boa e consistente base parlamentar que Bolsonaro não tem nem indica intenção de ter. O presidente não confere sustentação parlamentar ao ministro, que à falta dela pode decidir não prosseguir dando ao presidente aquele apoio profissional que permitiu aval à sua trajetória rumo ao Palácio do Planalto. Desse jeito, o jeito dele, não vai dar certo.
Publicado em VEJA de 22 de maio de 2019, edição nº 2635