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quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Linha vermelha - O Globo

A humilhação pública a que foi submetido o embaixador do Brasil em Israel, Frederico Meyer, pelo Estado de Israel, sendo repreendido no Museu do Holocausto diante de jornalistas, é exemplar da passionalidade que o tema desperta no povo judeu. E do erro grosseiro, diplomático, histórico e ideológico cometido pelo presidente Lula ao comparar uma reação excessiva de Israel ao ataque terrorista do Hamas à política de dizimação em massa levada a efeito pelos alemães contra os judeus na Segunda Guerra Mundial.

A única maneira de Israel voltar atrás na declaração de que Lula é persona non grata seria o Brasil pedir desculpas, e o recrudescimento da crise com a convocação do embaixador brasileiro de volta e a correspondente reprimenda ao embaixador de Israel no Brasil mostra que dificilmente teremos uma solução rápida para uma crise desnecessária.

Já que foi dito, seria preciso encontrar uma maneira que explique a frase, por meio de um comunicado, sem pedir desculpas. Mas a própria primeira-dama Janja já demonstrou como é difícil a tarefa de enrolar a língua de volta à boca. Se a ideia era criticar o governo israelense, e não o povo judeu, o improviso de Lula foi um ato falho revelador de seus sentimentos políticos.

O comentário do assessor especial da Presidência, Celso Amorim, de que quem deve desculpas é Israel, e não a Lula, à Humanidade, reflete bem o estado de espírito que tomou conta do governo brasileiro depois do escandaloso episódio. 
Não se trata mais de um conselheiro, mas de um militante de uma causa, sem a devida cautela. Ao se referir ao Estado de Israel, e não ao governo de Israel, um diplomata experiente como Amorim sabe que transforma uma política de governo numa política de Estado, jogando a acusação para Israel.

O Brasil tem todo o direito, e o dever, de denunciar os abusos do governo de Israel no combate ao Hamas. Se fizer uma conta rápida, dos milhões de judeus assassinados inequivocamente para exterminar um povo, com o que está acontecendo hoje em Gaza, não é possível aceitar uma comparação tão absurda. Além do mais, o assassinato em massa, com recursos tecnológicos para se repetir em escala industrial, denota o objetivo de eliminar uma etnia.

A reação do Estado de Israel ao ataque terrorista do Hamas, justificada pela barbaridade perpetrada, deveria ter sido controlada para evitar os excessos de força claramente havidos. 
Mas não há nem mesmo genocídio, segundo a Corte Internacional de Justiça (CIJ), em Haia, já passando para o campo da retórica política a qualificação que o governo brasileiro adotou em sua linguagem diplomática corriqueira, noutro deslize. Seria preciso tomar providências, de acordo com a CIJ, para evitar um ambiente político que leve ao genocídio, o que é muito grave, mas substancialmente diferente.
O presidente da República tem de ter mais conhecimento histórico, ou mais responsabilidade, cada vez que abre a boca. Ainda mais um que se pretende líder mundial e almeja papel relevante no cenário internacional, numa ação frenética em busca dos holofotes. Esse açodamento em busca do protagonismo acaba levando a armadilhas, como ser identificado pelo grupo terrorista Hamas como seu defensor, a ponto de ser elogiado numa declaração formal, prejudicando os palestinos que não têm nada a ver com terrorismo. 
 
Mistura alhos com bugalhos de maneira absurda, com consequências graves. A não ser por uma tendência ideológica contra o Estado de Israel, completamente fora da política tradicional brasileira, é inexplicável o que aconteceu.

Merval Pereira, colunista - O Globo



segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Palpite suspeito, Constituição de 88 (e Rêgo Barros) - por Vitor Hugo

Blog do Noblat

O deputado abusou da inteligência do país 

Transição de outubro para novembro de 2020 – o tempo mais sombrio e desesperador de que tenho lembrança – é quando começa, nas redações dos jornais e revistas, nos sites, blogs e outros portos de informações nas redes sociais, o levantamento de dados e fatos que os 12 meses do calendário legaram ou nos tragaram, para o bem ou para o mal. Desde já, peço espaço para indicação do “palpite mais infeliz e suspeito do ano”, da lavra do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP/PR), representante destacado do Centrão no nosso parlamento.

Misturando alhos com bugalhos, a começar por comparar a mobilização democrática da sociedade chilena pela Constituinte (que joga no merecido lixo da história, a Constituição herdada da ditadura de Augusto Pinochet), com a Constituição brasileira de 1988: nascida da Assembleia Nacional Constituinte depois do fim da ditadura militar. O deputado abusou da inteligência do país e da paciência de qualificados juristas e políticos que reagiram, sem meias palavras, à proposta golpista embutida na sugestão feita durante debate promovido pela Academia Brasileira de Direito Constitucional. Pois é!

Partindo de achismo pessoal, de que “o Brasil está ingovernável”, Barros propôs saída à chilena. “Para que possamos refazer a carta magna e escrever muitas vezes nela a palavra “deveres”, porque a nossa carta só tem direitos”, justificou. E recebeu o primeiro “chega prá lá” na lata, dentro do próprio evento – denominado “Um dia pela Democracia” – na voz do ministro Luiz Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (e presidente do TSE). Ele assinalou que o Brasil tem uma democracia “bastante resiliente, que vive sob a Constituição de 1988, há 32 anos recém completados”. Para o jurista, além de qualquer retórica, nós temos as instituições sólidas, que têm resistido aos constantes vendavais.[uma 'constituição' em que o presidente da República = Poder Executivo = não governa, o Congresso Nacional = Poder Legislativo = não legisla e o Supremo Tribunal Federal = instância máxima do Poder Judiciário = julga, governa, legisla, investiga, denuncia.

Um único ministro do STF pode em decisão monocrática suspender a vigência de uma lei - que foi decretada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo presidente da República.

Com um detalhe: a decisão solitária do supremo ministro só será modificada por decisão do colegiado do STF, quando apreciar o mérito da liminar solitária. Porém, quem decide quando a liminar será apreciada é o próprio ministro.]

Outra reação expressiva partiu da política. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM/RJ) frisou: No Brasil, o marco final do processo de redemocratização foi a Constituição de 88. “No Chile esse processo não se concluiu até hoje”, disse Maia, que conhece as duas realidades e considera imprópria a comparação. Com visão estratégica e objetiva, dos fatos, o ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, foi direto ao ponto. Em mensagem na rede social, o ex-juiz condutor da Lava Jato escreveu: “O que dificultou a governabilidade do Brasil nos últimos anos foi a corrupção desenfreada e a irresponsabilidade fiscal, não a Constituição de 1988 nem a Justiça ou o Ministério Público”. Ponto.

Para o jornalista, porém, o alerta amarelo parece acender, de fato, com o texto do general Otávio Rêgo Barros, rompendo em ressonante estilo com Bolsonaro e seu governo, publicado no Correio Brasiliense. Mesmo que, aparentemente, não tenha relação direta com a proposta da “nova constituinte” do bolso do colete do parlamentar do Centrão. Em sua análise do governo, o ex – porta-voz escreve: “As demais instituições dessa república – parte da tríade do poder – precisarão blindar-se contra atos indecorosos, desalinhados do interesses da sociedade, que advirão como decisões do “imperador imortal”. Deverão ser firmes, não recuar diante das pressões. A imprensa, sempre ela, deve fortalecer-se na ética para o cumprimento de seu papel de informar, esclarecendo a população os pontos de fragilidade e os de potencialidade nos atos do Cesar”. Precisa desenhar? [o ministro foi eloquente e suas palavras se sustentam parcialmente  na teimosia do presidente Bolsonaro em conceder 'entrevistas de corredor', 'conversas de cercadinho';

O presidente Bolsonaro, em teimosia extrema, insiste em não seguir o protocolo ideal: 
-  só se manifestar através de um porta-voz;
- entrevistas só em circunstâncias excepcionais - a juízo do presidente da República - com perguntas apresentadas previamente,  por escrito e, exclusivamente, a jornalistas credenciados.] 

Blog do Noblat - Ricardo Noblat, jornalista - VEJA

 E-mail: vitors.h@uol.com.br  - Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta.



sexta-feira, 17 de maio de 2019

Queima de ativos

O presidente dilapida o próprio capital ao depreciar suas escolhas

Traço marcante da personalidade de Jair Bolsonaro é querer fazer as coisas do jeito dele. O problema é que do seu jeito atabalhoado, simplista, primitivo e muitas vezes rude não tem dado certo. Isso não é dito por nós, integrantes da imprensa que na visão do presidente o persegue com as piores das intenções.  O mau resultado está demonstrado nas pesquisas e na opinião de boa parte de seus eleitores que se expressam na internet em oposição a várias de suas ações e/ou declarações. Os primeiros acordes da sinfonia do mandato presidencial sinalizavam acertos. 

Independência para Paulo Guedes, carta branca para Sergio Moro, aposta na eficiência de quadros oriundos das Forças Armadas nomeados para postos-chave em seu entorno para tocar o dia a dia do Palácio do Planalto. Por ignorância, ingenuidade, voluntarismo ou tudo isso junto, Bolsonaro tem promovido uma inusitada e perigosa queima de seus mais eficazes ativos. O presidente dilapida o próprio capital político, administrativo e institucional quando trata de maneira desprezível suas melhores escolhas de equipe enquanto celebra o convívio com as mais tóxicas companhias. 
 

O exemplo já batido são os três filhos para os quais não há, na atuação do presidente, nenhum filtro ou medida. Caso básico, e clássico, de pai culpado. Em princípio, os motivos não nos interessam, à família pertencem. Por isso mesmo não é justo que Bolsonaro compartilhe com a nação suas questões particulares sendo complacente com a prole em questões de Estado.  Em tese não teríamos nada a ver com isso. Só que passamos a ter quando o presidente da República faz de seus alhos particulares os bugalhos do país. Jair Bolsonaro mistura as coisas por falta de sentido do que seja República. Foi eleito sem ter experiência no tema. Atributo também ausente, se não ao todo, certamente a boa parte das pessoas que viram nele uma boa solução.

Óbvia e comprovadamente não foi a escolha ideal, mas precisamos conviver com essa realidade levando adiante o exercício da crítica civilizada e consistente. [para tristeza de grande parte da imprensa e da turma do 'quanto pior, melhor', Bolsonaro será, com as bênçãos de Deus, o presidente da República até 31 dez 2022.
Porém, se ouvir milhões de brasileiros que mostram a impossibilidade dele governar dando atenção ao 'aiatolá' de Virginia e dando aos filhos autonomia para intromissão nos assuntos do Poder Executivo, chegando a dar a impressão que o Brasil é uma monarquia e colocar tais 'aspones' no devido lugar - que não é o de assessoria ou tutela - a reeleição, devido ao excelente governo que poderá realizar, é algo possível.
Felizmente, parece que o presidente resolveu ouvir os milhões de apelos, incluindo o da deputada Janaína Paschoal - leia aqui.]   A melhor resposta aos insultos são os fatos, que, aliás, existem à farta. Os mais evidentes deles dizem respeito a Sergio Moro e aos militares.

O titular da Justiça é reiteradamente desdenhado em suas propostas, exposto à realidade de submissão de seus planos ao imperativo presidencial não raro em sentido contrário. Os militares são aceitos pela sociedade na proporção inversa do prestígio conferido a eles por Bolsonaro, e aqui, nesta análise, sobra Paulo Guedes, da Economia.

Dele depende a reforma da Previdência, a qual está ligada a uma boa e consistente base parlamentar que Bolsonaro não tem nem indica intenção de ter. O presidente não confere sustentação parlamentar ao ministro, que à falta dela pode decidir não
prosseguir dando ao presidente aquele apoio profissional que permitiu aval à sua trajetória rumo ao Palácio do Planalto. Desse jeito, o jeito dele, não vai dar certo.
 
 

Publicado em VEJA de 22 de maio de 2019, edição nº 2635