Bastou um clique para ter início uma desarrumação digital, a quarta nos últimos dois anos
Já dizia
o mestre João Ubaldo Ribeiro, “O que eu faço com o computador? Porque isso é
uma máquina de fazer maluco!”
Tudo
corria bem, até que, ao final de uma semana intensa de trabalho, fui desligar o
computador e apareceu uma mensagem convidando a atualizar o sistema operacional
e oferecendo duas opções: reiniciar ou desligar ao final. Bastou um
clique para ter início uma desarrumação digital, a quarta nos últimos dois
anos. Computador travado, a maldita “tela azul”, não restou alternativa além de
chamar um amigo técnico e formatar a máquina mais uma vez.
Desta
vez, senti não o estresse costumeiro das outras vezes; apenas um desânimo
analógico, uma falta de vontade de reorganizar tudo (configurar a máquina),
instalar programas, aplicativos e retomar a rotina de dependência desse mundo
plugado, opressor, implacável, incompreensível para a maioria de nós, simples usuários
que queremos apenas continuar fazendo nossas coisas comuns. Mesmo
usando somente produtos originais, tive ainda um monte de contratempos
creditados à incompatibilidade entre sistema, programas e aplicativos. O
antivírus de última geração não estava nem um pouco interessado em conversar
com o ambiente do meu banco e também andou atrapalhando meu acesso a alguns
sites de notícias.
Os
dicionários só voltaram a me fazer companhia porque abri mão da versão mais
recente do sistema operacional, em favor de uma versão mais velha e mais
confiável, que mantive guardada na estante. Era para uma emergência, virou
definitiva. Cheguei a
ligar para as editoras dos nossos dois dicionários mais importantes e vi que
não havia solução, que as pessoas que me atenderam nunca abriram seus próprios
livros.
A dança
de arquivos entre HDs é sempre mais lenta do que deveria, e desanimadora pela
estupidez do processo. Fico me perguntando como, até aqui, ninguém conseguiu
uma solução simples e rápida para essas situações. Pensei
nos tempos rudimentares da informática, quando máquinas e programas eram bem
mais simples, não passavam de ferramentas de apoio. Hoje, nós somos as
ferramentas cobaias de apoio desse mundo cada vez mais cheio de inutilidades
obrigatórias, que saltam na tela deixando a nítida impressão de que têm vida
própria.
Confesso
– e não tenho como negar – minha enorme saudade das velhas Remington, Olivetti,
Facit, Royal, Olympia…, cujos problemas eram simples de resolver. Quase sempre,
trocar a fita ou limpar com álcool os caracteres. Vez ou outra, levar a uma
oficina para o mecânico limpar e lubrificar as engrenagens. Voltavam com o som
engraxado e macio, a digitação leve com tudo parecendo encaixado.
Algumas
tiveram versão elétrica, que era um luxo. Até que chegamos ao superluxo das
IBM, com direito a corretor. Primeiro, as de esfera. E no último estágio antes
dos computadores, as de margarida. Todas
elas, manuais ou elétricas, umas fofas dóceis que não tinham nenhum interesse
em nos tirar do sério, como esses bestas desses computadores sem personalidade,
que planejam dominar o mundo e até invadir a área do pensamento com sua
inteligência artificial.