Vozes - Guilherme Fiuza
Teste de segurança eleitoral - Foto: Divulgação/TSE
– Essa urna é confiável mesmo?
– Claro. Totalmente. Por que?
– Sei lá. Estou um pouco inseguro.
– Então quem não é seguro é você. A urna não tem nada a ver com isso.
– Pode ser. Mas estou com uma sensação estranha.
– Quer um calmante?
– Não, obrigado. Queria uma confirmação.
– Que tipo de confirmação?
– De que o meu voto realmente vai pro candidato que eu escolher.
– Pode confiar.
– Confiar em quem?
– Na urna. O que você digitar nela é o que vai valer.
– Será? Dizem que não tem como auditar...
– Como assim?
– Que não tem como saber se o número que eu teclar é o mesmo que vai pro boletim dos votos daquela urna.
– Fake news. Confia no sistema e entrega.
– Mas e se eu continuar inseguro depois de votar?
– Sei lá. Procura uma terapia.
– Não. Digo inseguro com o destino do meu voto.
– Aí é fácil. É só pensar positivo.
– Como é pensar positivo?
– Pensa no Barroso, no Fachin e no Alexandre de Moraes.
– Isso é pensar positivo?
– Claro. São os guardiões do sistema eleitoral. Se quiser te mando um DVD com os melhores momentos dos discursos deles.
– Ainda existe DVD?
– Ah, desculpe. Te mando um clipe. É que quando a nossa urna eletrônica foi criada ainda não existia DVD, então fiquei com essa referência de modernidade.
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– Modernidade é importante.
– Sem dúvida. E pra seu governo, ainda tenho um DVD que funciona perfeitamente.
– Fico mais tranquilo.
– Que bom. Vou preparar o seu clipe. Você quer com mais Fachin, com mais Barroso ou com mais Alexandre?
– O que você sugere?
– Todos são bons. Posso fazer um medley do Fachin falando que o sistema eleitoral brasileiro é como um tanque de guerra no meio do tiroteio, o Alexandre de Moraes dizendo que o gabinete do ódio existe porque todo mundo sabe disso e o Barroso respondendo à pergunta da deputada do Jorge Paulo Lemann sobre como evitar a reeleição do Bolsonaro. Tá bom assim?
– Tá. Mas não sei por que, ainda estou inseguro.
– Assiste o DVD e depois a gente conversa.
– O clipe.
– Isso.
– Só mais uma pergunta.
– Pois não.
– E se na hora da eleição eu digitar o número de um candidato e na tela aparecer o de outro? Posso denunciar?
– Pode. E pode ser preso também.
– Por que?
– Fake news.
– Mesmo se a urna tiver mudado o meu voto?
– Sim. A urna é segura. Você é inseguro. Portanto ela sabe o que faz, você não.
– Entendi. Se eu votar errado a urna corrige.
– Exatamente. Tá mais tranquilo agora?
– Ufa. Estou. Muito obrigado.
– De nada. Viva a democracia.
– Viva.
Guilherme Fiuza, colunista - Gazeta do Povo - VOZES