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segunda-feira, 20 de junho de 2022

Teste de segurança eleitoral - Gazeta do Povo

Vozes - Guilherme Fiuza

 
Teste de segurança eleitoral

Teste de segurança eleitoral - Foto: Divulgação/TSE

– Essa urna é confiável mesmo?

Claro. Totalmente. Por que?

– Sei lá. Estou um pouco inseguro.

Então quem não é seguro é você. A urna não tem nada a ver com isso.

– Pode ser. Mas estou com uma sensação estranha.

Quer um calmante?

– Não, obrigado. Queria uma confirmação.

Que tipo de confirmação?

– De que o meu voto realmente vai pro candidato que eu escolher.

Pode confiar.

– Confiar em quem?

Na urna. O que você digitar nela é o que vai valer.

– Será? Dizem que não tem como auditar...

Como assim?

Que não tem como saber se o número que eu teclar é o mesmo que vai pro boletim dos votos daquela urna.

– Fake news. Confia no sistema e entrega.

– Mas e se eu continuar inseguro depois de votar?

– Sei lá. Procura uma terapia.

Não. Digo inseguro com o destino do meu voto.

– Aí é fácil. É só pensar positivo.

– Como é pensar positivo?

– Pensa no Barroso, no Fachin e no Alexandre de Moraes.

– Isso é pensar positivo?

– Claro. São os guardiões do sistema eleitoral. Se quiser te mando um DVD com os melhores momentos dos discursos deles.

– Ainda existe DVD?

– Ah, desculpe. Te mando um clipe. É que quando a nossa urna eletrônica foi criada ainda não existia DVD, então fiquei com essa referência de modernidade.

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Modernidade é importante.

– Sem dúvida. E pra seu governo, ainda tenho um DVD que funciona perfeitamente.

– Fico mais tranquilo.


– Que bom. Vou preparar o seu clipe. Você quer com mais Fachin, com mais Barroso ou com mais Alexandre?

– O que você sugere?

Todos são bons. Posso fazer um medley do Fachin falando que o sistema eleitoral brasileiro é como um tanque de guerra no meio do tiroteio, o Alexandre de Moraes dizendo que o gabinete do ódio existe porque todo mundo sabe disso e o Barroso respondendo à pergunta da deputada do Jorge Paulo Lemann sobre como evitar a reeleição do Bolsonaro. Tá bom assim?

– Tá. Mas não sei por que, ainda estou inseguro.

– Assiste o DVD e depois a gente conversa.

– O clipe.

– Isso.

– Só mais uma pergunta.


– Pois não.


– E se na hora da eleição eu digitar o número de um candidato e na tela aparecer o de outro? Posso denunciar?


– Pode. E pode ser preso também.

– Por que?

– Fake news.

– Mesmo se a urna tiver mudado o meu voto?

– Sim. A urna é segura. Você é inseguro. Portanto ela sabe o que faz, você não.

– Entendi. Se eu votar errado a urna corrige.

Exatamente. Tá mais tranquilo agora?

– Ufa. Estou. Muito obrigado.

De nada. Viva a democracia.

– Viva.

Guilherme Fiuza, colunista - Gazeta do Povo - VOZES