O
ano que termina trouxe de volta velhas práticas ao cenário nacional. No
entanto, diferentemente de outras épocas, quando havia uma tentativa de
esconder esse modus operandi, agora a certeza da impunidade permite que
os sócios do clube falem abertamente sobre as vantagens de ser
associado.
É claro que
há diferentes níveis de associados neste clube, e isso depende de
algumas questões como cargo que exerce, poder decisório e, claro, a
amizade com a diretoria. Há o associado premium, que tem um programa de
milhagens infinitas e pode viajar pelo mundo hospedando-se nos hotéis
mais luxuosos, comendo nos restaurantes mais badalados, mobiliando a
sede campestre do clube com os móveis mais sofisticados. Essa categoria é
reservada ao presidente honorário do clube e sua digníssima esposa.
Há os
associados VIPs, que exercem cargos no clube, porém sem a vantagem de
morar na sede.
É formado por uma catrefa deslumbrada, que também tem um
programa de milhagens quase infinito, além de outras vantagens, como
fazer parte de conselhos em estatais, que lhes permitem multiplicar
enormemente seus salários, aos quais sequer fazem jus, uma vez que
muitos dos cargos que ocupam sequer precisariam existir.
Mas estão ali
para alegria de um outro grupo: o trans-sócio, que se identifica como
sócio, mas não é.
Porém, é preciso mantê-lo com a ilusão de que o clube é
para todos.
Há, claro,
os membros da diretoria. Esses são os que mandam, de fato.
A eles, além
das demais vantagens, é facultado decidir as regras do clube. Sobretudo
silenciar e perseguir os que acham que o clube é um abuso. Gente chata,
cobrando coerência e vergonha na cara.
Uns estraga prazeres. Melhor
silenciá-los ou prendê-los.
Mas, claro, em nome da “defesa da
democracia”.
Além disso, à diretoria é permitido, por exemplo, cancelar
multas de sócios antigos e trazê-los de volta, garantindo com isso
algumas mega senas da virada aos seus familiares, já que não há mais
problema que estes trabalhem em causas julgadas por aqueles.
Uma decisão
muito inteligente da diretoria para manter tudo dentro da lei.
Tem um
grupo de sócios que garantem que tudo pareça estar dentro da
normalidade.
São os legitimadores, formados por veículos de comunicação
sedentos por verbas publicitárias, jornalistas militantes e/ou simples
puxa sacos.
A função deles é afirmar diariamente que tudo está
perfeitamente correto. E acusar de radical, antidemocrático e coisa pior
quem ousa apontar o dedo para essa suruba institucional.
Mas quem
paga toda essa farra? Os mensalistas, pobres mensalistas. Eles sustentam
o clube e todas as suas vantagens. Alguns até pagam alegremente a
diversão dos sócios, na ilusão de que fazem parte dela. Mas não fazem.
Ninguém faz.
A maioria dos mensalistas sabe que está, mais do que
sustentando, enriquecendo uma corja desavergonhada.
Mas só pode olhar
pela cerca do clube e torcer para que a farra tenha fim.
A boa
notícia? A cada dia o fim se aproxima. Porque toda soberba precede a
ruína.
Os mensalistas, que sempre foram a maioria, estão cada vez mais
despertos e conscientes de que o clube precisa acabar.
Ainda que leve
tempo, suas atividades serão encerradas e serão apenas uma triste
lembrança de nossa história.
* O autor, Gustavo Lopes, é escritor, documentarista e ex-Secretário Nacional do Audiovisual. @gustavochlopes