As mortes mais terríveis já registradas podem ser vistas no Youtube
Quem cresceu nos anos 80 e 90 deve se lembrar de As Faces da Morte.
O primeiro filme da série, de 1979, misturava dramatizações e cenas reais de pessoas morrendo. Eram cenas absolutamente terríveis, que ficaram na memória de um monte de gente da minha geração. O filme foi banido em dezenas de países e por aqui as locadoras o escondiam, mas mesmo assim ele viralizava em cópias VHS passadas de mão em mão. Hoje ele é encontrável no Youtube, mas está longe de ser a coisa mais aterrorizante de lá.
Só descrever isso já é suficiente para saciar a minha curiosidade mórbida e me deixar meio desnorteado. O que esse tópico e seus mais de 7 mil comentários me lembraram é que com a profusão de câmeras hoje em dia, é cada vez mais comum que a morte das pessoas seja capturada – e que as filmagens antigas sejam eternizadas. Pode ser pelas câmeras onboard dos carros, pelos smartphones ou as onipresentes câmeras de segurança. A morte não é mais mistério.
Porque além de capturar o momento fatal, divulgar é trivial. Se o Youtube tem uma política bastante restrita e bane rapidamente qualquer coisa que se assemelha a pornô, o mesmo não acontece com vídeos violentos. Atualmente, se algum membro da família do morto reclamar, o Youtube (ou o Twitter) remove a cópia em questão, mas nada impede que outras ressurjam. Essas regras foram bastante discutidas alguns meses atrás quando os terroristas do Estado Islâmico divulgaram a decapitação do jornalista James Foley. Qual o direito que prevalece? O da dignidade ou liberdade de expressão? Alguns dias depois, o Twitter acabou suspendendo a conta de várias pessoas que divulgaram fotos da decapitação, mas a regra é um pouco vaga. E, seja como for, sempre haverá sites como o Liveleak.com que têm zero regras para hospedar vídeos.
Será que coisas assim deveriam ser proibidas? Em 1993, quando o finado programa policial do SBT Aqui Agora transmitiu um suicídio ao vivo, houve uma enorme discussão sobre os limites do jornalismo. E dá para dizer que aquilo foi o ponto mais baixo dos policiais televisivos em rede nacional – o debate foi útil para traçar alguns limites. Mas hoje qualquer pessoa pode ser dona de sua “emissora”, no Youtube, e “mortes violentas” seria equivalente a só mais um programa noturno. Seja como for, o efeito dessa profusão de imagens violentas, sem censura, a gente ainda não sabe.