Adultos precisam parar de arrastar crianças para suas fantasias sexuais
O mundo da moda não é exatamente famoso por sua moralidade. No entanto, até mesmo para os padrões da moda, a polêmica do ursinho sadomasoquista foi esquisita.
Balenciaga, a polêmica campanha acusada de incitar pedofilia e abuso infantil - Foto: Reprodução
Em uma das imagens, a criança está em pé na cama segurando o ursinho proibido para menores. Em outra, ela está deitada de bruços em um sofá, com uma expressão desolada, cercada por taças de vinho, com dois desses estranhos brinquedos na parte de trás. Um dos ursinhos de pelúcia parece estar usando uma espécie de arreio de couro, do tipo visto em festas BDSM.
Vai piorar. Outra foto mostra uma bolsa sobre uma pilha de documentos. Parece inocente. A bolsa é bonita. Só que os detetives da internet deram zoom na imagem e descobriram que um dos documentos é uma impressão de algo relacionado ao processo “Ashcroft contra a Coalisão de Liberdade de Expressão”, a decisão de 2002 da Suprema Corte dos Estados Unidos que derrubou uma seção do Projeto de Lei de Prevenção à Pornografia Infantil e determinou que a pornografia infantil falsa está protegida como liberdade de expressão. Uau.
Difícil saber o que é pior. Que alguém tenha achado que seria divertido colocar crianças com uma expressão abatida junto com ursos de pelúcia que parecem ter acabado de sair de uma masmorra depravada em West Hollywood ou que ninguém na Balenciaga tenha pensado: “Não ficou um pouco estranho?”.
A Balenciaga é uma potência no mundo da moda. Ela é amada pelas Kardashians. Está em todos os tapetes vermelhos. Mesmo assim, sua famosa atenção aos detalhes parece ter falhado quando foi mostrada uma criança num sofá sendo observada por um urso de pelúcia azul usando um traje que parece ter saído do filme Parceiros da Noite.
Parece ter havido um apagamento dos limites entre adultos e crianças, o que significa que as crianças são cada vez mais arrastadas para um mundo que costumava pertencer aos adultos
De outra forma, porém, faz um sentido absurdo que ninguém na cadeia de comando da moda tenha parado para se perguntar se tudo isso não seria um pouco esquisito. Porque o triste fato é que esse estilo “pedofilia chique” está em toda parte agora.
Em um mundo saturado de imagens de crianças usando roupas de adulto, quando crianças ouvem canções de pop e hip hop sexualmente explícitas, e quando não é incomum ver crianças acariciando homens vestidos de cachorro na Paradas do Orgulho LGBT ou rindo com drag queens em trajes mínimos, por que qualquer um hesitaria diante da imagem de uma menina na cama com um urso de pelúcia pervertido?
O estilo “pedofilia chique” é uma das tendências mais preocupantes do nosso tempo. Parece que estamos testemunhando uma onda de sensibilização pedófila. Não, isso não quer dizer que alguém na Balenciaga seja pedófilo, nem que um pai seja um abusador se deixar seu filho andar com “transexuais” sem sutiã nessa orgias e bacanais de amor-próprio misturado com autocomiseração que os eventos do Orgulho LGBT se tornaram. Mas de fato parece que o imaginário pedófilo, a imagem de crianças como seres sexuais ou como figuras que podem ser expostas a seres sexuais está tendo uma retomada. E precisamos falar sobre isso.
Vimos o surgimento de drag queens infantis. Elas “desfilam”, elas “arrasam na passarela”, elas são “um luxo”, dizem os veículos de mídia mainstream sobre essas crianças que adotam trejeitos exagerados de artistas drag adultos.
Não é preciso ser a ativista conservadora Mary Whitehouse para achar isso problemático. Preocupar-se que a cultura pop, sempre adorada pelos jovens, tenha adquirido um elemento pornográfico, com crianças entoando letras como “correntes e chicotes me deixam excitada” — obrigado, Rihanna. Achar preocupante que tantos professores norte-americanos estejam determinados a ensinar a suas classes que existe uma centena de gêneros e que você pode ser o que você quiser. Ficar preocupado com as reportagens sobre um professor canadense com uma prótese de seios de tamanho extragrande ensinando adolescentes ou livros de educação sexual contendo informações sobre orgias ou aplicativos de sexo. Tudo bem dizer que isso não é normal. Ou até — preparem-se, relativistas morais — dizer que isso é ruim.
Parece ter havido um apagamento dos limites entre adultos e crianças, o que significa que as crianças são cada vez mais arrastadas para um mundo que costumava pertencer aos adultos. As consequências podem ser sinistras. Vamos pensar em Mermaids, a instituição de caridade voltada para a juventude trans. Ela não só publicou imagens de crianças com maquiagem e roupas sexualizadas sentadas na cama com drag queens. Um membro de seu conselho também fez um discurso em uma conferência para “pessoas atraídas por menores” (isto é, pedófilos) que escreveu sobre a dança de um garoto de 12 anos, que ele estava “reproduzindo atos sexuais, repetindo as evoluções dos movimentos pélvicos tão fáceis de reproduzir”. Outro membro de sua equipe, um homem, posou como uma colegial em fotos explícitas. De novo, isso não é normal.
Mais adiante, nos recônditos mais excêntricos da política identitária, conversas solidárias sobre “pessoas atraídas por menores” estão se tornando cada vez mais comuns. Até o USA Today publicou uma reportagem sobre “O que o público continua entendendo errado sobre a pedofilia” — desde então a manchete foi corrigida para “A complicada pesquisa por trás da pedofilia”. E se a “atração por menores” for só mais uma identidade com que as pessoas nascem, ponderou o jornal? Ele cita especialistas que acreditam que precisamos conversar sobre “desestigmatizar a pedofilia”.
Não sejam pudicos, os wokes dizem para os pais que ficam bravos que seus filhos estejam sendo bombardeados com besteiras sobre fluidez de gênero e participando de aulas de educação sexual que beiram a pornografia. O julgamento se tornou o grande pecado. E esse abandono do julgamento abriu a porta para exigências cada vez mais loucas para que se “respeite a minha identidade!”, sendo que “identidade” muitas vezes significa “perversão”. Que alguns pedófilos de fato agora estejam exigindo sua parcela de não julgamento, como noticiou o USA Today, não é uma surpresa. Pessoas atraídas por menores, eu deveria dizer. Não queremos censurar suas perversões.
Precisamos enfrentar o culto da infantilização. A infantilização dos adultos de hoje em dia leva, perversamente, à adultização das crianças. Por que se os adultos são crianças crescidas, adolescentes permanentes que relutam em aceitar as responsabilidades de ser maior de idade, então sem dúvida não existe tanta diferença entre eles e as crianças. Pouco a pouco, o velho limite que separa adultos e crianças está se apagando, de modo que os adultos podem parecer crianças — morando com os pais até os 30 anos, sendo excessivamente emotivos e alérgicos ao compromisso —, e as crianças podem parecer adultos. Vestir-se como adultos, falar de sexo como adultos, ir a shows de drag como adultos. A destruição dessa fronteira entre a infância e a vida adulta significa que todos nos encontramos em um território novo e perturbador em que bebês e pessoas crescidas estão dizendo, vestindo e fazendo o que não deveriam.
Isso vai muito além dos ursos de pelúcia da Balenciaga. Não precisamos de nada além da restauração total da autoridade adulta. De uma compreensão de que crianças são crianças, e não são como nós. Apenas a volta da sensibilização adulta vai acabar com a sensibilização pedófila que está ganhando um terreno assustador neste jovem século.
Brendan O’Neill é repórter-chefe de política de Spiked e apresentador do podcast da Spiked, The Brendan O’Neill Show.
Ele está no Instagram: @burntoakboy
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