Reforma
política é tema recorrente na história do Brasil. Em 1870, numa reunião
ministerial, dom Pedro 2º, citado por Humberto de Campos ("Brasil
Anedótico", 1945), dizia: "As eleições, como elas se fazem no Brasil,
são a origem de todos os nossos males políticos". Todos, frisou –não só
de alguns.
Em 1930, fez-se uma revolução, de cujo temário central
constava a questão eleitoral: voto direto e secreto, voto feminino,
partidos nacionais. Mas o país esperaria 15 anos para eleger pelo voto
direto um presidente da República. Em 1958, Carlos Lacerda, então
deputado federal, constatou que a reforma política, na profundidade
necessária, jamais ocorreria, pois o Parlamento resistiria a mudar um
sistema que, bem ou mal, o tinha eleito.
Desde a
redemocratização, há 31 anos, entra governo, sai governo, e, a cada novo
escândalo que surge, repete-se que a reforma política é prioridade, a
mãe de todas as reformas. No entanto, a reforma não sai. E não sai
basicamente pelo motivo que Lacerda diagnosticou. Só a pressão da
sociedade –e ela, hoje, mais do que nunca, se faz presente– muda essa
equação. Em 2007, fui relator de uma proposta de reforma política
abrangente na Câmara que, entre outras coisas, alterava o sistema
político. Foi derrotada. O erro foi tentar fazê-la de uma vez,
abrangendo todos os aspectos. Não houve consenso. Hoje, já temos data
para votá-la: 8 de novembro, começando no Senado.
Optou-se desta vez sabiamente pela gradualidade, buscando-se o consenso das duas Casas legislativas. As
lideranças na Câmara e no Senado decidiram iniciar o processo pelos
pontos mais convergentes: cláusula de desempenho, estabelecendo
quociente mínimo para que um partido tenha funcionamento parlamentar,
acesso às verbas do fundo partidário e tempo de rádio e TV; e fim das
coligações proporcionais, em que um candidato a deputado bem votado
arrasta consigo outros sem votos suficientes para eleger-se, ensejando
as mais bizarras alianças.
Como regra de transição ao fim das
coligações proporcionais, concebeu-se a criação de uma federação de
partidos. Consiste em permitir que as legendas que ainda não estão em
condições de cumprir a cláusula de desempenho se coliguem nas eleições
proporcionais. Mas, diferentemente de hoje, terão de se manter unidas na
ação parlamentar por pelo menos três anos. Hoje, a coligação
proporcional cessa após as eleições. Unem-se partidos antípodas, com
objetivo meramente utilitário, produzindo verdadeiros adultérios
ideológicos, que ludibriam o eleitor e depreciam moralmente a política.
Esses
três pontos, uma vez aprovados, já farão enorme diferença. Reduzirão o
espectro partidário, que hoje ultrapassa 30 partidos, anomalia que torna
disfuncional e caótica a ação parlamentar, além de estimular o "toma
lá, dá cá" que desmoraliza a política brasileira e que, extrapolando
todos os limites, desembocou no mensalão e no petrolão. Fez do Congresso
um balcão de negócios.
Falta muita coisa, é verdade: definição
do sistema eleitoral (distrital puro, distrital misto, distritão ou
proporcional), financiamento de campanha (público, privado –pessoa
física ou jurídica– ou misto), voto em lista (fechada ou aberta) etc.
Mas, quando se quer tudo de uma vez, corre-se o risco de nada se obter,
como mostra a experiência histórica.
A discussão do
financiamento, sem que se saiba qual sistema eleitoral será adotado,
perde substância. Por isso, ficou para depois. A aprovação desses
tópicos já dará às eleições de 2018 um novo perfil. Já será um freio de
arrumação na bagunça partidária.
Fonte: Folha de S. Paulo - Ronaldo Caiado, senador
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sábado, 8 de outubro de 2016
Para não repetir erros históricos, reforma eleitoral será gradual
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