Há uma
velha máxima de que ministro da Fazenda só é popular se estiver fazendo alguma
coisa errada. Portanto, quem ocupa esta pasta nem deveria querer a
popularidade, porque isso certamente afetaria a tinta da sua caneta, com a qual
ele toma decisões necessárias, mesmo que impopulares, e rejeita os muitos
pedidos de vantagens com o dinheiro público.
O
ministro Henrique Meirelles tem 75% de desaprovação e apenas 6% de aceitação,
segundo o barômetro político Estadão/Ipsos. E pertence a um governo cuja
aprovação se aproxima de zero. Sua candidatura pelo PSD, assumida claramente no
programa partidário desta semana, e na entrevista que concederá na sede do
partido hoje, é um mistério e um risco.
Mistério
é em que se sustenta uma candidatura assim tão sem perspectivas? O que leva
Meirelles a pensar que ele conseguirá vencer as barreiras praticamente
intransponíveis da impopularidade do atual governo? Se ele fosse uma pessoa com
carisma e capaz de inspirar empatia natural, mas entre os seus atributos não
estão estes. O risco é
maior do que o mistério, porque o país está numa situação complexa. Tem um
enorme déficit primário, o Orçamento de 2018 está sem bases porque não foram
aprovadas as medidas de ajuste fiscal, que estão sendo barradas na Justiça,
como a do adiamento do reajuste salarial do funcionalismo federal. Há uma
reforma da Previdência que precisa ser defendida. E talvez seja preciso subir
impostos. Um ministro da Fazenda com uma agenda de candidato poderá se
equilibrar por mais de três meses nesse duplo papel? Como ministro, ele precisa
ter rigor, dizer muito “não” aos lobbies, defender medidas amargas e rejeitar
os pedidos dos seus colegas dos ministérios setoriais. Se ficar bem falado
pelos colegas da Esplanada dos Ministérios estará fazendo algo errado, para
atrair o apoio de eleitores terá que tomar decisões perigosas.
Ontem, o
ministro disse que não está descartado o aumento de impostos. Isso provoca
antipatia geral do público pagante de impostos porque a carga tributária já é
alta. Quando fez essa declaração, talvez mirasse as agências de risco que estão
ameaçando mais um rebaixamento do Brasil, pelo fato de não haver perspectivas
de aprovação da reforma da Previdência, o que piora as projeções do déficit
público e da dívida. Mas o que agrada à S&P ou à Moody's não tem capacidade
de atrair votos numa disputa presidencial. O
ministro pode estar pensando no precedente criado pelo ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso, que saiu do Ministério da Fazenda para uma candidatura bem
sucedida.
Mas FH fez a primeira campanha no meio da implantação do Plano Real e
aquela conjuntura não pode ser reproduzida. Meirelles
quer capitalizar os avanços que este governo conseguiu na economia, ao tirar o
país da recessão e da inflação de dois dígitos deixadas pela ex-presidente
Dilma. Mas essas conquistas não levaram a um aumento significativo do bem-estar
econômico, porque o clima ainda é recessivo, e o desemprego, alto demais. A
cesta de Natal está mais barata, alimentos estão com preços menores, caíram os
aluguéis, mas a população ainda tenta esticar o orçamento após um período de
queda forte da renda e aumento do endividamento e do desemprego. O que foi
conseguido pela atual política econômica, e por uma safra espetacular, não teve
o mesmo efeito de mudança da água para o vinho que se conseguiu em 1994 com o
Plano Real que derrubou a inflação. A taxa acumulada foi de 258% no primeiro
semestre daquele ano eleitoral, e de 17% no segundo semestre. Na travessia de
um para outro ambiente econômico, o eleitor foi às urnas.
Eu ouvi a
frase que abre esta coluna do economista Mário Henrique Simonsen. E ele se
referia à popularidade de Dilson Funaro, em 1986. Funaro era aplaudido nas ruas
de todo o país, no auge do Plano Cruzado, que levou à maior vitória do PMDB no
país. O tamanho do erro da Fazenda pôde ser medido na volta da hiperinflação.
Agora o contexto é outro. Nada haverá que por um passe de mágica alavanque a
candidatura do ministro da Fazenda. O risco é ele usar os próximos três meses
para, com cabeça de candidato, tomar decisões populistas na cadeira onde
deveria estar pensando em medidas que ajudassem à estabilização fiscal, mesmo
que fossem impopulares.
Míriam Leitão - Com
Alvaro Gribel, de São Paulo