'Babilônia' muda
para estancar a fuga de espectadores
No feriadão da Páscoa, o elenco de Babilônia deu o sangue
para purgar os pecados da atual novela das 9. Cenas da personagem Alice (Sophie
Charlotte) tiveram de ser refeitas às pressas: ela seria uma garota de programa
explorada pelo cafetão Murilo (Bruno Gagliasso), mas a trama sofreu uma guinada
- agora, Alice se negará a vender o
corpo.
A mudança, já perceptível no ar, é um dos expedientes com os quais a
Globo pretende salvar Babilônia.
De início, a novela acenava
com o embate irresistível entre as personagens sem escrúpulos de Adriana Esteves
e Gloria Pires, que viveram vilãs memoráveis no passado. Mas a expectativa deu lugar a um clima de bode na sala. O Ibope de Babilônia não raro roçou
os 20 pontos em São Paulo. Chegou a dar menos audiência que a novela das
7. Um vexame.
A
emissora acelerou as pesquisas para entender como a crise se instalou tão
rápido. A sondagem com donas de casa apontou que mostrar de supetão o beijo das
lésbicas idosas vividas por Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg foi o primeiro detonador da rejeição.
Os autores Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga achavam que a
tática desarmaria futuras celeumas. Deu-se o contrário. "O choque de ver duas damas sagradas se beijando foi brutal",
diz Linhares.
A
emissora embarcou no beijaço gay bem no momento em que sofria um ataque duplo. De um lado, a Record adoça a boca da
audiência evangélica com a novela Os Dez Mandamentos (o apresentador de um telejornal regional da rede, aliás, tachou as duas atrizes de "velhas
sem-vergonha"). De outro, o SBT propagandeia
a opção "família" oferecida
pela reprise da novelinha Carrossel. Não adianta muito protestar contra o
conservadorismo: como provou Walcyr Carrasco com o beijo gay de Félix em Amor
à Vida, o público poderá até aplaudir uma cena assim se o autor souber
preparar o terreno.
Nem tudo é culpa do beijo. Falta
leveza à novela. Para
balancear a maldade de Carminha, Avenida Brasil dispunha do boa-praça Tufão. Na nova novela, o transbordamento de mau-caratismo e
cafajestice confere ao conjunto um tom uniforme de cinza. Há maquinações
demais e emoção de menos. "Irritadas
com o noticiário sobre corrupção, as pessoas - sobretudo as da classe C - querem ver algo menos deprê",
diz um noveleiro. Até a fotografia cheia de sombras está mudando para não
afugentar o público. "É bizarro: não
dá para ver o rosto dos atores", diz outro executivo da emissora.
Espera-se que as mudanças surtam efeito até a oitava
semana de exibição, prazo crítico a partir do qual a Globo costuma tomar
medidas mais duras. Há até quem aposte que a novela possa ser encurtada.
Não há flores nos jardins de Babilônia.