Consequências imprevisíveis ocorrerão se o país se curvar a bravateiros de pijama
[Inexplicável o ódio contra o presidente Bolsonaro - antes acusações eram apresentadas mediante apresentação de relatos, agora diante da impossibilidade de relatos consistentes simplesmente xingam homens públicos, até com termos agressivos.
Estamos na expectativa de como agirão contra Witzel - ultimamente super louvado na mídia, afinal alguns apressados chegaram a considerar o 'inimigo' de Bolsonaro, ou o b... .]
Devido ao despreparo e ao completo apego à estupidez, Jair Bolsonaro
conseguiu a proeza —involuntária, claro— de fazer soar palatável a
participação de militares na gestão política do país. Mesmo com a
lembrança da nefasta ditadura finda em 1985, em comparação ao Jair
Futebol Clube qualquer XV de Piracicaba acaba parecendo um carrossel
holandês.
As Forças Armadas não são de Lula, Temer ou Bolsonaro, mas do Estado
brasileiro. E têm que se subordinar ao comando civil e ao império da
lei. É isso ou a república de bananas, cuja volta, queremos crer, só é
desejada por desmiolados que acham divertido passar vergonha coletiva na
rua, fantasiados de verde e amarelo. Por isso, olhemos a mudez dos generais bolsonaristas na já célebre reunião de 22 de abril.
Associaram-se, acoelhados, à defesa das hemorroidas presidenciais, ao
banditismo do projeto arma para todos, ao ladino que aproveita a
"calmaria" da Covid para dar seus pulinhos, à beatice histérica da
ministra sem noção, ao arroubo à Chuck Norris do garganteiro da Caixa e
ao autopiedoso libelo puxa-saquista do inqualificável Weintraub. Uma
catarse só assombrada pelo medo de, perdido o poder, serem todos presos
pela obra que ora edificam. Foi a reunião de loucos, impostores,
fanáticos, aproveitadores, militares sectários, e uns poucos
estarrecidos, como bem resumiu Janio de Freitas.
Se a inação foi torpe, a ação se mostrou pior. O general Eduardo
Pazuello chancelou depois a recomendação do uso do remédio que, segundo o
maior estudo feito no mundo até agora, não só é ineficaz contra a
Covid-19 como eleva o risco de morte. Que nome se dá a isso?
Carregando todo o amargor de quem desgraçadamente defende o
indefensável, o general Augusto Heleno resolveu alertar que eventual
apreensão do celular do chefe trará "consequências imprevisíveis", para
alvoroço das vivandeiras de pijama. Já as vivemos, general, mas não
serão arreganhos autoritários que farão parar o rumo da história.
Ranier Bragon, colunista - Folha de S.Paulo