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terça-feira, 6 de junho de 2023

Lula quer se reinventar como salvador do planeta porque no Brasil é um desastre - J. R. Guzzo

Gazeta do Povo - VOZES

O presidente Lula não está nem um pouco satisfeito com o que chama de “governança” do Brasil, e de outros países pelo mundo afora. Pior: pelo que dá para entender da discurseira que faz em seu inédito programa de turismo internacional já foi a uma dezena de países diferentes em apenas cinco meses de governo; passou mais tempo viajando no exterior do que no Brasil – quer uma “governança global” para nós e para o resto da humanidade.

Lula falou especificamente sobre a “questão do clima”, mas juntando-se sua súbita paixão pela ecologia e pela “salvação do planeta” a outras coisas que vem dizendo aqui dentro e lá fora, o que fica é um ataque generalizado ao Congresso Nacional
 Isso mesmo – um ataque ao Parlamento deste país. 
O tema central das queixas de Lula é mais ou menos o seguinte: não adianta nada aprovar acordos internacionais de altíssima qualidade se, depois, o Congresso brasileiro não aceita. Resumo da ópera: Câmara de Deputados e Senado Federal estão atrapalhando.

Se o presidente tem minoria na Câmara, é porque o cidadão brasileiro decidiu que ele deve ter minoria na Câmara.

“Governança global” – que diabo seria isso? Basicamente, é a entrega a outros países e a organizações internacionais de decisões que devem ser tomadas pelo governo do Brasil, por via dos seus Três Poderes. Burocratas que desenham como o mundo deveria ser em Nova York, Bruxelas e nos outros biomas que habitam, passam a dar as ordens: você tem de fazer isso, você tem de fazer aquilo, porque seu país não tem capacidade para governar a si próprio.

Não é a primeira vez que Lula fala disso. Há pouco, disse que “a Amazônia não é só nossa” – e se não é só dos brasileiros, é de mais gente. De quem, então? Da “governança global”. Antigamente, se chamava a isso de “entreguismo”. 
Lula é o primeiro presidente brasileiro a defender em público posições entreguistas tão claras – ouviu dizer que a esquerda mundial, hoje em dia, trocou o nacionalismo peloglobalismo, e começou a ir atrás, na sua miragem de tornar-se um “líder mundial”. 
Como seu governo aqui dentro é um desastre sem esperança de melhora, Lula quer se reinventar como salvador do “planeta” nada deixa um holandês ou um sueco, por exemplo, tão excitados quanto ouvirem falar que a Amazônia pode ser governada também por eles. É aí que o presidente está pescando.

Lula e seu governo jamais fizeram o mínimo sinal de conciliação aos adversários políticos; não houve, em nenhum momento, a mão estendida.

Não é a primeira vez, igualmente, que Lula se queixa do Congresso. É deles, dos deputados, a culpa pelos fracassos do governo até agora, e por sua extraordinária capacidade de não fazer nada de útil – segundo o lamento do presidente, o Congresso não deixa ele “fazer nada”, da mesma forma como atribui tudo o que existe de errado no Brasil aos juros do Banco Central e a “herança maldita” que recebeu do governo anterior.

Não lhe passa pela cabeça, naturalmente, que o Congresso se recusa a aprovar os seus acordos internacionais porque a maioria do povo brasileiro, de quem a Câmara e o Senado são os únicos representantes legítimos para a adoção de leis, não quer esses acordos. Fazer o quê? O único Congresso que existe no Brasil é esse – e a solução é esperar as próximas eleições, daqui a quatro anos, para ganhar ali a maioria que ele não tem hoje
Fora isso, só recorrendo ao STF para fechar Câmara e Senado.
 
Lula parece revoltado como fato da esquerda ter pouco mais que um quarto da Câmara dos Deputados – 136 dos votos, segundo as suas contas, num total de 513, o que realmente não dá para aprovar nada. Não dá, sobretudo, para aprovar a salada extremista que seu governo propõe para o país. 
E de quem é a culpa pelo fato da esquerda só ter 136 cadeiras na Câmara? 
A culpa é dele mesmo, Lula, do PT e dos seus satélites, que não conseguiram eleger mais que isso. 
Se o presidente tem minoria na Câmara, é porque o cidadão brasileiro decidiu que ele deve ter minoria na Câmara – ao votar nas últimas eleições de 2022. 
Ele não pode se queixar dessas eleições, não é mesmo? Vivem dizendo, ele e o PT, que foram as eleições “mais limpas” da história universal.
 
Lula e seu governo jamais fizeram o mínimo sinal de conciliação aos adversários políticos; não houve, em nenhum momento, a mão estendida. Ao contrário, eles só ameaçam, prometem vingança, querem cassar, punir, prender, censurar e multar.  
Governam como se tivessem obtido 90% dos votos para a presidência e outros 90% para o Congresso. 
É óbvio que estão com problemas para gerir o Brasil.
J. R. Guzzo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES 
 
 



segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Amazônia x Metade da próxima safra de grãos do Brasil, que ainda nem foi plantada, já está vendida: e como fica o boicote?

J.R. Guzzo - Vozes

Boicote aos produtos do Brasil é a mais pura conversa fiadaMetade da próxima safra de grãos do Brasil, que ainda nem foi plantada, já está vendida: e como fica o boicote?


 Metade da próxima safra de grãos do Brasil, que ainda nem foi plantada, já está vendida: e como fica o boicote?| Foto: Michel Willian/Arquivo Gazeta do Povo 

O noticiário tem trazido, em geral com alarme, mais um lote de notícias (ou de desejos) sobre a situação de dificuldade, perene e aparentemente  insolúvel, que atravessam ao mesmo tempo a agricultura, a pecuária e a produção geral de alimentos no Brasil. O assunto é o de sempre: a “destruição das florestas” deste país, especialmente as da “Amazônia”.

A novidade seria uma espécie de boicote mundial, ou coisa parecida, à produção rural brasileira por parte de “300 grandes empresas” e outras potências do capitalismo moderno, recentemente transformadas em mocinhas da natureza, do ar puro e da “sustentabilidade”. Em suma: se os produtores brasileiros (que foram escalados para o papel de bandidos desse filme) não pararem de desmatar a Amazônia e incendiar as florestas, o Primeiro Mundo não vai comprar mais nada que venha daqui, nem investir um único tostão no Brasil.

Absurdos construídos com capricho, falsa ciência e muito dinheiro acabam um dia, como eventualmente acaba todo o charlatanismo de vendedor de elixir em feira livre – quando se verifica, pela força dos fatos, que a mercadoria posta à venda é falsa. Até lá, porém, fazem um barulho e tanto, como é o caso da “devastação” da Amazônia pelo “agronegócio”. Paciência. Não há como convencer quem quer ser enganado – o que se pode fazer é chamar de conto do vigário tudo aquilo que é conto do vigário, esperar que o tempo passe e continuar trabalhando. Fazer o quê?

Há pelo menos uma dúzia de realidades que demonstram a inexistência de relação entre desmatamento e o avanço a agropecuária brasileira — que saiu do nada para tornar-se em 40 anos uma das duas ou três maiores do mundo. Nenhuma delas serve. Por exemplo: mais de 70% da produção brasileira de grãos saem de apenas quatro estados, três dos quais nem sequer fazem fronteira com a Amazônia. São o Paraná, o Rio Grande do Sul e Goiás. O quarto, Mato Grosso, tem apenas a metade norte do seu território dentro do bioma amazônico. Mas o movimento de defesa do planeta sustentável não trabalha com essa aritmética, nem com essa geografia; só aceita a sua própria ciência.

O que o Paraná, por exemplo, tem a ver com a Amazônia? Um produtor de soja de Ponta Grossa ou Campo Mourão pode perfeitamente passar a vida inteira sem jamais ter ido lá, por um dia que seja. Há mais paranaenses que conhecem Paris do que São Gabriel da Cachoeira; têm tanto a ver com a floresta amazônica quanto com o Polo Norte. Mas vá explicar isso para um europeu-raiz.
Missão impossível, pois o sujeito nunca viu um mapa do Brasil; não sabe onde é o Paraná, nem o Amazonas e, para dizer a verdade, nem o Brasil. Também não está interessado em aprender; só está interessado em acreditar. Se você encarar, digamos, um bom holandês, disser que o Brasil fica na Oceania e fizer uma cara bem séria, há 50% de chance do sujeito achar que é isso mesmo. Aí não há o que fazer.
Enquanto isso, no mundo das coisas reais, o Brasil já colheu neste ano mais grãos do que em todo o ano passado; 50% da próxima safra, que ainda nem foi plantada, já está vendida. Fatos são um bicho teimoso.

J.R. Guzzo, jornalista - Gazeta do Povo - Vozes



segunda-feira, 20 de julho de 2020

Desembargador infrator de Santos é retrato de uma classe de intocáveis - Folha de S. Paulo

Leandro Colon 

Eduardo Siqueira é tão servidor público quanto o guarda municipal que cumpriu sua missão ao multá-lo
O desembargador Eduardo Siqueira, do Tribunal de Justiça de São Paulo, não foi o primeiro nem será o último magistrado que se sente diferenciado, com permissão para ignorar regras impostas aos cidadãos.
Siqueira deu carteirada e humilhou um guarda municipal de Santos, que o multou por estar infringindo o decreto local sobre o uso obrigatório de máscaras para combater o coronavírus. O juiz é só mais um entre 360 (!) desembargadores do TJ-SP. É tão servidor público quanto o guarda que cumpriu sua missão ao multá-lo. 
[Matéria excelente, cabendo uma ressalva: - juiz, desembargador, ministros de Tribunais não são servidores públicos e sim membros do Poder Judiciário - não estão sujeitos ao Regime Jurídico do Servidor Público, Lei nº 8112/90,  ou a qualquer outra norma que cuide de servidores públicos, civis ou militares - assim, estão  vinculados à Lei Orgânica da Magistratura Nacional -  LOMAN.
O mesmo vale para os promotores que estão subordinados a leis específicas.
A  'escapada' do 'abrigo' da Lei nº 8112/90, além de livrar membros do Poder Judiciário e do Ministério Público de serem atingidos por medidas que muitas vezes são enfiadas goela abaixo dos servidores públicos,permite que as carreiras tenham benesses impensáveis para servidores públicos.
O patrão é o mesmo, mas os bônus são mais numerosos e vultosos, os ônus menores e os privilégios imensamente maiores.]

O episódio de Santos reforça a imagem de que o Judiciário brasileiro atua como uma classe de intocáveis. É um Poder que não vê, por exemplo, problema algum no fato de filhos enriquecerem advogando no mesmo tribunal onde o pai ou a mãe julga, como ocorre no STJ e em outros tribunais superiores.  Enquanto o país paga um preço salgado pela pandemia, com cortes de jornadas e salários, o Judiciário nega-se a dar da própria carne. O STF pressiona o Congresso a preservar sua remuneração e evitar redução de vencimentos dos funcionários.  A farra é grande. O Judiciário pagou uma remuneração mensal acima de R$ 100 mil a 8.226 juízes ao menos uma vez entre 2017 e abril deste ano - num país em que o teto do serviço público é de R$ 39,3 mil. No período, foram feitos 565 pagamentos acima de R$ 200 mil a 507 juízes. A magistratura é brasileira, só parece viver na Escandinávia.

Como mostrou a Folha recentemente, o TJ-SP tem usado, de forma oculta, verba reservada a situações urgentes para manter a regalia de seus desembargadores, entre eles o infrator municipal Eduardo Siqueira. Há despesas com queijo maasdam holandês, salame da mais alta qualidade e várias outras extravagâncias gastronômicas em pleno período de contigenciamento em meio a pandemia.  No caso do chilique do desembargador Siqueira, abriu-se uma apuração no CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Mas é tudo um teatro, pouco se espera dali. Punir juiz que desonra a toga nunca foi uma virtude do colegiado.

Leandro Colon, colunista - Folha de S. Paulo



sexta-feira, 17 de julho de 2020

Como um romance noir - Nas entrelinhas

“As delações premiadas da Odebrecht vincularam até as doações legais da empresa às campanhas eleitorais ao seu gigantesco esquema de desvio de recursos públicos”

Mestre do romance policial, o professor Luiz Alfredo Garcia-Roza — que durante 40 anos lecionou na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) —, somente aos 60 anos resolveu recorrer aos seus conhecimentos de psicologia, filosofia e psicanálise para se tornar escritor. Dedicou-se à literatura noir. Faleceu em abril passado, aos 84 anos, mas nos legou 12 romances — entre os quais O silêncio da Chuva e Uma janela em Copacabana —, e um grande personagem, o detetive Espinosa.

Amigo do falecido escritor Rubem Fonseca, de quem era grande admirador, ao lado escritor norte-americano Edgar Allan Poe, numa entrevista ao jornalista Alberto Dines, Garcia-Roza resumiu seu estilo: “O assassinato puro e simples dá a chave daquilo que vai constituir o fundamental da literatura policial. (…) acabo me colocando frente esta morte no lugar que não me caberia como escritor, que é o do investigador, que pode ser policial ou não”. O embaixador André Amado, estudioso da sua obra, no recém publicado A História de Detetives e a ficção de Luiz Alfredo Garcia-Roza, um belíssimo ensaio sobre literatura policial, destaca o método lógico-dedutivo do detetive Espinosa como fio condutor de uma obra literária que não fica nada a dever aos grandes escritores do gênero.

Espinosa é um personagem excêntrico, um delegado meio filósofo, em conflito com a profissão. Na sua última obra, vive um jogo de gato e rato com um cafetão, sua nova prostituta e um policial corrupto, entre outros seres do submundo da Lapa, o tradicional bairro boêmio do Rio de Janeiro. O delegado Espinosa entra no caso quando começam a surgir mulheres mortas com requintes de crueldade. Precisa descobrir quem é o assassino antes que ele faça sua nova vítima. Obviamente, o personagem se inspira, também, em Baruch Spinoza (ou Benedito Espinoza),o filósofo holandês descendente de judeus expulsos de Portugal pela Inquisição, que foi excomungado pela comunidade judaica de Amsterdã, da qual fazia parte, por causa de suas ideias racionalistas.
Não faltam personagens na Operação Lava-Jato que se inspiram em heróis noir, como Espinosa, para desempenhar suas funções. A grande diferença para os bons romances policiais é que não existe nenhum caso de assassinato puro e simples até agora, apesar do grande número de delações premiadas, que muitos condenados veem como grande traição. 

Por exemplo, nos casos das investigações sobre o assassinato de Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes, no Rio de Janeiro, e do escândalo das rachadinhas, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, no qual estão envolvidos o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, o capitão Adriano Nóbrega, suspeito de ser o mandante do crime, que estava foragido, morreu em confrontos com a polícia na Bahia.

Tucanos
Mesmo assim, a Lava-Jato produz histórias policiais em série, com a generosidade de um Georges Simenon, o criador do Comissário Maigret, protagonista de 78 novelas e 28 contos, escritos entre 1931 e 1972. A nova novela da operação foi lançada ontem, como a denúncia apresentada pela Polícia Federal contra ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB), indiciado por suspeita de três crimes: lavagem de dinheiro, caixa dois eleitoral e corrupção passiva. O inquérito investiga, no âmbito da Justiça Eleitoral, as doações da empreiteira Odebrecht. Em depoimento aos procuradores da Lava-Jato na época da investigação, Carlos Armando Paschoal, então diretor da empreiteira em São Paulo, disse ter repassado mais de R$ 10 milhões, via caixa dois, às campanhas de Alckmin. O ex-tesoureiro do PSDB Marcos Monteiro e o advogado Sebastião Eduardo Alves de Castro também foram indiciados. Alckmin foi governador de São Paulo entre 2001 e 2006 e de 2011 a 2018.


No início deste mês, a força-tarefa da Operação Lava Jato em São Paulo também denunciou o senador José Serra (PSDB) e sua filha, Verônica Allende Serra, por lavagem de dinheiro. Quem acreditava que a Operação Lava-Jato estava morta, pode pôr as barbas de molho. As delações premiadas de Emílio e Marcelo Odebrecht, assim como de todos os executivos da empresa envolvidos com as chamadas “operações estruturadas”, vincularam até as doações legais da empresa ao gigantesco esquema de desvio de recursos de obras e serviços públicos da empreiteira, que mantinha um caixa 2 para financiar campanhas eleitorais, investigado a partir de uma planilha apreendida em poder de uma das secretarias do grupo. Os casos considerados caixa dois eleitoral foram remetidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF) à Justiça Eleitoral, que tem no atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Barroso, um dos principais defensores da Lava-Jato.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo, jornalista - Correio Braziliense 


terça-feira, 9 de junho de 2020

TJ-SP usa verba emergencial 'invisível' para petiscos e regalias a desembargadores - Folha de S. Paulo


De forma oculta ao público, o Tribunal de Justiça de São Paulo tem usado uma verba reservada a situações urgentes e imprevisíveis para comprar petiscos e outras regalias aos seus 360 desembargadores.
Segundo documentos obtidos pela Folha, a corte paulista se vale da chamada "verba de adiantamento" para fazer compras que incluem produtos como queijo maasdam holandês (R$ 67,90 o quilo) e salame hamburguês Di Callani (R$ 60,25 o quilo), além de frutas como kiwi gold (R$ 59,99 o quilo).

Essas regalias são exclusivas aos desembargadores. Não têm direito a solicitar esses petiscos sofisticados os juízes de primeira instância, que são os magistrados estaduais que não foram promovidos a desembargadores ou não trabalham como substitutos de desembargadores. ​
Conheça o Palácio da Justiça, sede do TJ-SP

Segundo a legislação, essa verba deveria ser usada somente em momento “que não possa aguardar os trâmites normais ou ocorra em casos excepcionais em razão de emergência ou urgência”. Por meio desse tipo de despesa, o tribunal consegue evitar que esses gastos sejam divulgados de forma pública e depois questionados pela população. Isso acontece porque os dados são fechados, ao contrário de aquisições feitas por meio de processos públicos de aquisição. As informações sobre as despesas estão presentes tanto em um relatório de fiscalização do TCE (Tribunal de Contas do Estado), que analisou os gastos de 2019, como em comprovantes das compras aos quais a Folha teve acesso, esses relativos a despesas de 2020.

O relatório do TCE foi finalizado em março deste ano e questiona os gastos com "frutaria", que custaram R$ 83 mil no ano passado, e também com "mercado", cujo valor em 2019 foi de R$ 221 mil. Essas compras são exclusivamente para o consumo interno dos desembargadores e não incluem, por exemplo, gastos de alimentação dos magistrados durante viagens de trabalho, encontros institucionais ou eventos jurídicos.
“A nosso ver, essas despesas não possuem caráter excepcional, emergencial e muito menos são despesas miúdas, podendo subordinar-se ao processo normal de realização, fato que não ocorreu, devido à atuação não planejada da administração”, afirmam os técnicos do TCE no relatório.

No documento, é citado que, após uma alteração de fornecedor em maio de 2019, os valores mensais dos produtos tiveram um aumento de 17%. Isso aconteceu, por exemplo, com a alface americana (subiu de R$ 2,91 para R$ 4,49), cebola (de R$ 3,60 para R$ 4,99), melão (de R$ 7 para 8,99) e tomate (de R$ 4,40 para R$ 8,99). “Ficam prejudicados os princípios da competitividade e da vantajosidade da contratação, eis que, a nosso ver, haveria a possibilidade de uma licitação e não foi dada aos possíveis proponentes a oportunidade de demonstrar a melhor oferta”, dizem os fiscais.

Além do relatório do TCE, a Folha obteve outra relação de despesas comuns de lanches para os magistrados deste ano, que inclui o maasdam e outros petiscos, como mussarela de búfala (R$ 18 a unidade) e peito de peru (R$ 65 o quilo).  As compras são do início de março deste ano, pouco antes de o TJ iniciar esquema de home office devido à pandemia do novo coronavírus. O tribunal bancou de uma só vez R$ 1.626 com frutas e mais R$ 1.297 com queijos, peito de peru e salame.  No ano passado, o TJ-SP era presidido pelo desembargador Manoel Pereira Calças e, neste ano, pelo desembargador Geraldo Pinheiro Franco. Ambos os presidentes assumiram o tribunal em crise financeira e sob promessas de corte de custos.

Os desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo têm direito a um auxílio-alimentação cujo valor varia mês a mês, mas que em média é de aproximadamente R$ 800, que é adicionado aos R$ 35.462,22 de salário e aos outros penduricalhos. Outros gastos pagos com verba de adiantamento também são questionados pela fiscalização do Tribunal de Contas. Por exemplo, as compras com galões de água (que custaram R$ 37 mil no ano passado) e com as chamadas “despesas miúdas”, como toalhas e produtos de limpeza, que custaram R$ 58 mil. O órgão viu essas despesas como "potencial ofensa à competitividade e à vantajosidade da contratação".“Em razão dos valores despendidos por mês (média) e pela frequência dessas despesas, a nosso ver, a utilização da plataforma Bolsa Eletrônica de Compras, dispensa de licitação, proporcionaria transparência do gasto público, consequentemente atrairia mais preponentes, estimulando maior competitividade na contratação”, dizem os fiscais do órgão.

A fiscalização do TCE integra o processo que analisará as contas do TJ de 2019, que tem como relator o conselheiro Dimas Ramalho. Ainda não há uma data para o julgamento do órgão de contas. Embora tenha um orçamento de aproximadamente R$ 12 bilhões (aproximadamente o PIB de Roraima) previsto para este ano, o Tribunal de Justiça de São Paulo enfrenta dificuldades financeiras, sobretudo por causa dos gastos com pessoal. Maior do Brasil, o TJ-SP tem aproximadamente 40 mil servidores e 2,6 mil magistrados.
No início da pandemia, o presidente da corte lançou um plano de contingenciamento que prevê corte de custos como contratos, diárias e luz, além de ter lançado estudo para extinguir comarcas.​

[no Supremo a turma também se cuida - curtem lagosta, vinhos, vitela assada, carrê de cordeiros e outras iguarias.
A gente paga.]

Lanche é necessário para acelerar sessões, diz tribunal
Procurado, o Tribunal de Justiça de São Paulo informou em nota que os desembargadores "se fazem presentes no Palácio da Justiça para integrar e participar das sessões de julgamento, que ocorrem de segunda a sexta, a partir das 9h, com pausas distintas e que chegam a perdurar durante todo dia e, em algumas sessões, parte do período da noite".
"O fornecimento de lanches aos desembargadores se mostra necessário para imprimir mais celeridade, eficiência e economicidade de tempo das sessões, pois os breves intervalos conferem dinâmica ao julgamento, o que não ocorreria nas hipóteses de interrupção por longo lapso para refeições", diz a nota. [impossível resistir: os desembargadores moram na periferia da periferia, acordam de madrugada, mal alimentados e enfrentam um trem e um ônibus na ida para o trabalho e outro para o retorno para casa.] 
"De se ressaltar que o Palácio da Justiça é imóvel tombado, sem local adequado para instalação de lanchonete e local de armazenamento de produtos perecíveis, o que também impede a aquisição quinzenal ou mensal de produtos", afirma.

Os documentos aos quais a Folha teve acesso, no entanto, apontam que a compra de lanches não é só para o Palácio da Justiça, mas para cinco prédios onde trabalham desembargadores, como os anexos onde ficam os gabinetes e o Fórum João Mendes. O TJ-SP ainda diz que, "visando garantir a economicidade das aquisições" dos lanches, "faz pesquisa de preço com diversos fornecedores para, somente depois, adquirir pelo menor valor apurado".
"Para a verificação da conformidade das compras com a legislação em vigor, o responsável pela aquisição desses bens alimentícios apresenta, mensalmente, uma prestação de contas à Secretaria de Orçamento e Finanças do TJ-SP, local em que contadores analisam detalhadamente todos os procedimentos realizados, inclusive se houve a pesquisa de preços", afirma o órgão.
"Além do controle realizado pela Secretaria de Orçamento e Finanças, o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo também realiza a fiscalização dos adiantamentos, o que bem evidencia a transparência do TJ-SP e a conformidade de suas aquisições", diz.
TJ-SP, O MAIOR DO BRASIL
360
desembargadores

2.600
magistrados

41 mil
servidores

R$ 12 bilhões
orçamento previsto para 2020


Gastos com petiscos sem licitação em 2019
R$ 221 mil
Na despesa "mercado",
que inclui queijos, embutidos e outras comidas

R$ 81 mil
Na despesa "frutaria
"


Poder - Folha de S. Paulo


terça-feira, 26 de maio de 2020

Generais bolsonaristas vão da omissão a arreganhos autoritários - Folha de S. Paulo

Ranier Bragon

Consequências imprevisíveis ocorrerão se o país se curvar a bravateiros de pijama

[Inexplicável o ódio contra o presidente Bolsonaro - antes acusações eram apresentadas mediante apresentação de relatos, agora diante da impossibilidade de relatos consistentes simplesmente xingam homens públicos, até com termos agressivos.
Estamos na expectativa de como agirão contra Witzel - ultimamente super louvado na mídia, afinal alguns apressados chegaram a considerar o 'inimigo' de Bolsonaro, ou o b... .]
Devido ao despreparo e ao completo apego à estupidez, Jair Bolsonaro conseguiu a proeza —involuntária, claro— de fazer soar palatável a participação de militares na gestão política do país. Mesmo com a lembrança da nefasta ditadura finda em 1985, em comparação ao Jair Futebol Clube qualquer XV de Piracicaba acaba parecendo um carrossel holandês.

As Forças Armadas não são de Lula, Temer ou Bolsonaro, mas do Estado brasileiro. E têm que se subordinar ao comando civil e ao império da lei.  É isso ou a república de bananas, cuja volta, queremos crer, só é desejada por desmiolados que acham divertido passar vergonha coletiva na rua, fantasiados de verde e amarelo.  Por isso, olhemos a mudez dos generais bolsonaristas na já célebre reunião de 22 de abril.

Associaram-se, acoelhados, à defesa das hemorroidas presidenciais, ao banditismo do projeto arma para todos, ao ladino que aproveita a "calmaria" da Covid para dar seus pulinhos, à beatice histérica da ministra sem noção, ao arroubo à Chuck Norris do garganteiro da Caixa e ao autopiedoso libelo puxa-saquista do inqualificável Weintraub. Uma catarse só assombrada pelo medo de, perdido o poder, serem todos presos pela obra que ora edificam. Foi a reunião de loucos, impostores, fanáticos, aproveitadores, militares sectários, e uns poucos estarrecidos, como bem resumiu Janio de Freitas.

Se a inação foi torpe, a ação se mostrou pior. O general Eduardo Pazuello chancelou depois a recomendação do uso do remédio que, segundo o maior estudo feito no mundo até agora, não só é ineficaz contra a Covid-19 como eleva o risco de morte. Que nome se dá a isso?

Carregando todo o amargor de quem desgraçadamente defende o indefensável, o general Augusto Heleno resolveu alertar que eventual apreensão do celular do chefe trará "consequências imprevisíveis", para alvoroço das vivandeiras de pijama. Já as vivemos, general, mas não serão arreganhos autoritários que farão parar o rumo da história.

Ranier Bragoncolunista - Folha de S.Paulo


domingo, 1 de dezembro de 2019

Novo partido de Bolsonaro se aproxima ideologicamente de siglas conservadoras estrangeiras - O Globo

Análise dos manifestos partidários e avaliação de estudiosos mostra onde está a proximidade do Aliança pelo Brasil com siglas de direita de países como Espanha e Hungria e conservadoras como os republicanos dos EUA 


Logomarca do partido Aliança pelo Brasil Foto: Reprodução
Conservadorismo, nacionalismo religioso e populismo. Com esse tripé, segundo estudiosos, o partido Aliança pelo Brasil, lançado no último mês pelo presidente Jair Bolsonaro e dissidentes do PSL, se aproxima ideologicamente de outras siglas conservadoras ou da extrema direita internacional. O partido não está oficialmente criado, mas uma análise de seu programa o coloca na mesma família do documento fundador da sigla espanhola Vox e da húngara Jobbik, além de guardar também semelhanças com a plataforma da ala do Partido Republicano mais ligada ao presidente dos EUA, Donald Trump. [nos causa espanto - talvez por nos faltar o notório saber político, nunca fomos reprovados em provas sobre o tema, também nunca as fizemos - que sendo o ALIANÇA PELO BRASIL, os estudiosos destacarem o fato de um partido conservador, de extrema direita, - que tem como principio, sem que signifique limite,  os três pontos citado no inicio da matéria - pertencer a mesma família do Vox, Jobbik e Partido Republicano dos EUA.]

Leia : Contra doença e em busca da reeleição, Covas resiste em São Paulo
 
Fundado em 2013, o Vox cultiva uma retórica contra as elites políticas e intelectuais, além de defender políticas migratórias mais duras e não poupar de críticas à União Europeia. Santiago Abascal, líder do partido, tem um discurso parecido com o de Bolsonaro, principalmente contra o que chama de “ditadura progressista”, com ataques à comunidade LGBTI.

Assim como Bolsonaro, Abascal defende a posse de arma: “Tenho uma (pistola) Smith & Wesson em casa. A princípio, era para proteger meu pai do ETA. Agora, meus filhos. Defendo que todo mundo possa ter uma arma”, disse ele.
Inspiração estrangeira
Recém-lançado pelo presidente Jair Bolsonaro, o Aliança pelo Brasil tem forte viés religioso e anti-esquerda, e reclama para si o posto de único partido conservador do Brasil. O programa da legenda mantém forte convergência com outras siglas conservadoras pelo mundo, como o espanhol Vox, o húngaro Jobbik e o Partido Republicano, dos EUA.
Já o Jobbik, criado em 2003, é o principal partido da direita nacionalista radical da Hungria, visto por especialistas com a característica de imprimir um populismo com viés autoritário.
Ao se inspirar no partido de Trump, Bolsonaro reforça justamente o lado conservador com que pretende administrar o Aliança. A cada quatro anos, antes da disputa presidencial, os republicanos elegem uma nova plataforma. A última, de 2016, deu uma guinada ainda mais à direita do que a anterior ao se opor ao casamento gay, direito garantido pelo Suprema Corte, e ao defender a inclusão da Bíblia no currículo escolar.
— Há, sim, similaridades com algumas propostas de partidos conservadores da Europa. Nos Estados Unidos, a inspiração maior foi o Partido Republicano —afirma o deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança, um dos autores do estatuto do Aliança.

Contra o “sistema”
Há uma iniciativa defendida pelo Vox já implementada por Bolsonaro. O partido prega, por exemplo, a criação de um Ministério da Família na Espanha, já colocada em prática no Brasil. Referência internacional em estudo sobre populismo, o cientista político holandês Cas Mudde diz que um traço singular de Bolsonaro é o fato de ele ter ascendido ao poder sem uma plataforma política estruturada.
— A extrema direita é cada vez mais generalizada e normalizada, com partidos dessa linha no poder nos principais países (por exemplo, Brasil, Índia, EUA) ou considerados parceiros normais da coalizão em vários outros (por exemplo, Áustria, Dinamarca, Itália). Seus problemas, quadros e posições são frequentemente compartilhados pela mídia e pelos políticos, o que leva os partidos de extrema direita a superarem seu peso eleitoral— analisa Mudde.

O documento do Aliança traz uma enfática defesa de Deus, da religião, do armamentismo e do livre mercado. Assim como partidos da direita populista internacional, a sigla faz uma exaltação do povo contra o “sistema”, visto como corrompido, e contra uma elite cultural, intelectual e burocrática — chamada no programa de “burocratas não eleitos”.

Para David Magalhães, professor de Relações Internacionais da PUC-SP e fundador do Observatório da Extrema Direita, trata-se de uma crítica à democracia parlamentar, que seria uma espécie de obstáculo para uma representação mais direta entre o líder e a massa:
A direita radical não rejeita completamente as regras da democracia, mas busca combater ou atacar as instituições liberais democráticas e os direitos fundamentais de minorias. 

Para Bragança, a inspiração do Aliança vem da direita conservadora americana, mas reconhece similaridades com o Vox. Ambos pregam a exaltação de símbolos e “heróis nacionais”, criticam a “politização” da Justiça, atacam bandeiras progressistas e apoiam a redução da participação da sociedade civil em conselhos estatais.
 

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segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Charge de jornal holandês ironiza eleição de Bolsonaro

[muitos não suportam ver os que  consideram adversários vencerem - este jornaleco holandês tem tudo a ver com Calabar.

o que os jornais estrangeiros, que criticam a escolha soberana da maioria do eleitorado brasileiro tem a ver com isto?

aliás, não é da conta de ninguém, a decisão soberana do eleitorado brasileiro.]

Ilustração do diário 'de Volkskrant' relaciona vitória do capitão com a ascensão da ideologia nazista no Brasil

O jornal holandês de Volkskrant publicou em sua edição desta segunda-feira (29) uma charge ironizando a eleição de JairBolsonaro. Na imagem, uma suástica nazista é representada nas cores da bandeira do Brasil e construída com os tradicionais chinelos Havaianas.

A charge faz refercia às muitas críticas recebidas pelo capitão de seus oponentes, que o acusam de ser o rosto da extrema-direita no Brasil e que o ligaram à ideologia fascista durante a campanha eleitoral. A ilustração foi assinada pelo cartunista Bas van der Schot e publicada no site e na edição impressa do de Volkskrant, um diário de Amsterdã considerado de centro-esquerda.

Bolsonaro (PSL) venceu neste domingo o segundo turno das eleições presidenciais com 55% dos votos, contra 44% de Fernando Haddad (PT).

Além do de Volkskrant, grandes veículos da imprensa estrangeira repercutiram a vitória de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais. Boa parte dos sites se dedicaram a publicar matérias explicando aos leitores detalhes sobre quem é Bolsonaro, desde sua formação militar, passando por suas declarações controversas. Também descrevem a polarização no Brasil, até sobre como o resultado das urnas reflete as insatisfações da população com o Partido dos Trabalhadores.

A revista liberal The Economist, que chegou a publicar uma capa chamando Bolsonaro de ameaça, começa seu texto sobre a vitória com a sucinta frase: “Os brasileiros fizeram uma péssima escolha”.

O texto aponta que Bolsonaro é um “apoiador de ditadores e de armas, que incita a polícia a matar suspeitos, que ameaça banir oponentes e diminui as mulheres, os negros e os gays”. [quem bancava com dinheiro público os piores ditadores era o presidiário Lula.] Em seguida, a revista explica como o PT colaborou para o crescimento do conservador PSL, com os  escândalos de corrupção, o desejo de se manter no poder e a depressão econômica que a política de Dilma Rousseff provocou no país.

O jornal The New York Times seguiu o caminho dos concorrentes, lembrando falas polêmicas de Bolsonaro e apontando para o crescimento do conservadorismo da extrema-direita no mundo. “Bolsonaro, que vai conduzir o maior país da América Latina, é o mais à direita entre todos os presidentes da região, onde recentemente os países elegeram líderes mais moderados. Ele engrossa o movimento da extrema-direita que tem crescido no mundo, juntamente com a Itália e a Hungria.”

O britânico The Guardian, que acompanhou a apuração dos votos em uma longa reportagem atualizada em tempo real, foi às ruas no Brasil retratar as celebrações dos eleitores de Bolsonaro. Após destacar diversas frases de entrevistados, como a de um estudante de fisioterapia de 40 anos, que disse ter agora o “presidente que sempre esperamos, que teme a Deus e é genuinamente de direita”, o jornal ressaltou ao fim que o triunfo de Bolsonaro deixou milhões de brasileiros progressistas “profundamente perturbados e com medo da intolerância que vai tomar o país”.

Muitos veículos também compararam Bolsonaro com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A emissora britânica BBC lembrou que as declarações do futuro presidente brasileiro, consideradas racistas, homofóbicas e misóginas por muitos, têm um tom muito parecido com as declarações do presidente americano. 

Veja
 

domingo, 12 de março de 2017

Presidente turco acusa Holanda de ser um “resquício do nazismo”

Recep Erdogan acusou a Holanda de ser um "resquício do nazismo e do fascismo" após um de seus ministros ser proibido de pousar seu avião no país.

O presidente da Turquia Recep Tayyip Erdogan acusou a Holanda de ser um “remanescente do nazismo” e do fascismo após um de seus ministros, Mevlüt Cavusoglu, ser proibido de pousar o avião no país.

Cavusoglu devia participar, em Roterdã, de um comício para conseguir o apoio de milhares de imigrantes turco e turco-holandeses para um referendo que se realizará na Turquia no próximo mês e pretende dar maior apoio constitucional ao presidente Erdogan. Contudo, o evento foi proibido por medidas de segurança e o avião, impedido de pousar na Holanda.

Durante um evento público em Istambul, neste sábado, Erdogan comparou o governo holandês aos nazistas. “Eles não sabem nada de política ou diplomacia internacional. São remanescentes nazistas e fascistas”, afirmou, de acordo com a rede americana CNN. O primeiro-ministro holandês Mark Rutte confirmou no Facebook que o avião que carregava Cavusoglu foi proibido de pousar. A preocupação, de acordo com ele, é que a presença do ministro turco interrompa a ordem pública.

“Vamos impor sanções pesadas à Holanda se a visita for bloqueada”, disse Cavusoglu antes da viagem. O ministro holandês das Relações Exteriorizes, Bert Koenders, havia dito que seu país não facilitaria a vinda do ministro turco: “Não vamos participar de uma visita para conduzir uma campanha política para um referendo, (…) portanto não vamos cooperar”, disse.

Atritos diplomáticos
Os holandeses terão uma eleição nacional na quarta-feira na qual o sentimento anti-imigração teve um papel proeminente, e o candidato nacionalista Geert Wilders classificou Erdogan como um ditador. Na manhã deste sábado Cavusoglu havia dito que iria voar à cidade holandesa de qualquer maneira e acusou os holandeses de tratarem cidadãos turcos no país como “reféns”.

“Eu os enviei para que eles pudessem contribuir para a sua economia… eles não são seus cativos”, afirmou ele à CNN Turquia. “Se minha ida irá aumentar as tensões, que seja. Que estrago minha ida fará neles? Sou um ministro das Relações Exteriores e posso ir para onde quiser”, disse antes de a Holanda impedir seu voo. Cavusoglu havia ameaçado com sanções econômicas e políticas severas se os holandeses recusassem sua entrada, uma postura que se mostrou decisiva para Amsterdã. O governo citou preocupações com a ordem e a segurança ao retirar a autorização de pouso do voo de Cavusoglu, mas disse que a ameaça de sanções tornou a busca por uma solução equilibrada impossível.

O primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, disse que, embora a Holanda e a Turquia possam procurar “uma solução aceitável”, Ancara não está respeitando as regras no tocante a reuniões públicas.  “Muitos holandeses de origem turca estão autorizados a votar no referendo sobre a constituição turca. O governo holandês não tem nenhum protesto contra reuniões em nosso país para informá-los a esse respeito”, escreveu no Facebook. “Mas estas reuniões podem não contribuir para as tensões em nossa sociedade, e todos que querem realizar uma reunião são obrigados a seguir instruções daqueles que se ocupam da autoridade, para que a ordem e a segurança pública possam ser garantidas”, acrescentou o premiê.

Fonte: Reuters

 


quinta-feira, 23 de junho de 2016

A onça e o mico

Antes de Olimpíada começar, pódios já estão cheios de micos pagos pelo Brasil para o mundo

O presidente em exercício Michel Temer não fez questão nenhuma de esconder que o déficit de R$ 170 bilhões nas contas públicas tinha embutido um mimo aos vendilhões dos Estados, quando lhes destinou um terço do total. Como bem disse o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, do mesmo partido dele, quem fez o dever de casa pagou a conta e quem esbanjou o dinheiro do contribuinte, inchando folhas de pagamento e gastando a rodo, recebeu o prêmio pela própria desfaçatez.


O que talvez nem ele esperava foi a esperteza de Francisco Dornelles, seu colega vice em exercício do poder provisório, decretando estado de calamidade pública justamente no Estado mais estroina e mais ostensivo espertalhão da Federação: o Rio de Janeiro. Foi a deixa para um dos anspeçadas do chefe federal, o ex-governador fluminense Wellington Moreira Franco, genro do genro (o célebre almirante Alzirão, justa homenagem à consorte, Alzira, filha favorita de Gegê Vargas), sapecar uma frase digna de substituir o lema Ordem e Progresso na bandeira, agora emprestado ao governo provisório por ideia providencial do marqueteiro do chefão, Elsinho Mouco. “O Brasil não pode pagar esse mico”, disse Moreira. O gato angorá (apud Brizola) não teme a esperteza engolir o dono quando demasiada, como alertava Tancredo Neves, com quem o marinheiro Amaral Peixoto convivia muito no “raposário” do PSD.

Pelo visto, ninguém avisou ao ex-marido de Celina Vargas do Amaral Peixoto Moreira Franco que os pódios da Olimpíada do Rio, que já foi Cidade Maravilhosa e agora virou o Paraíso do Pó (cocaína ou calcário), ainda nem foram montados, mas já estão invadidos pelos malfeitos dos campeões da má gestão nesta Pátria Incompetenta.  Em agosto de 2015, o velejador sul-coreano Wonwoo Cho, da classe RSX, passou mal num evento-teste na Baía da Guanabara e foi levado ao hospital. Antes do réveillon de Copacabana, foi a vez do holandês, campeão olímpico em Londres 2012, Dorian Rijsselberghe, vencer uma competição e sair maldizendo os riscos das águas da baía cantada por Cole Porter na letra do standard De-Lovely. Ele vaticinou: “Ninguém fez nada. Todos os alarmes tocaram, mas nada mudou.”

Inaugurada em janeiro, a ciclovia Tim Maia, parte do “legado olímpico”, não resistiu a uma ressaca no Vidigal e desabou em março. Todas as evidências de negligência no planejamento e na realização da obra desastrada foram negligenciadas pelo prefeito e seus subordinados. Foi dito até que as ondas violentas, que desde o Gênesis sazonalmente se chocam contra as pedras à margem da Av. Niemeyer, surpreenderam gestores e técnicos. 

Laudos sérios e isentos deram conta de deficiências estruturais de sustentação da pista. Mas entre as desculpas esfarrapadas dadas por figurões que desprezam a inteligência e o senso comum dos cidadãos só faltou uma: a de que a ciclovia foi feita para voar sobrevoar o mar, como aqueles teco-tecos que arrastam publicidade sobre as praias da Zona Sul nos meses de verão.

Os recordes dos astros olímpicos ainda não assombram o mundo, mas os reis da malandragem têm incorporado novos feitos à crônica policial, além de cenas de violência explícita transmitidas nos noticiários do planeta perplexo com a irresponsabilidade da escolha da sede pelo Comitê Olímpico Internacional. Os últimos protagonistas foram a paratleta australiana Liesl Tech e a fisioterapeuta Sarah Ross, assaltadas à mão armada  no Aterro do Flamengo domingo. Tiveram a sorte de sobreviver para contar. E o Comitê Olímpico Australiano fez o que devia: exigiu segurança dos organizadores brasileiros.

O vigilante Ronaldo Luiz Marriel da Silva não teve a sorte delas. Naquele domingo foi ao hospital citado na propaganda da Olimpíada como modelo de atendimento ao público, o Souza Aguiar, buscar socorro e saiu num ataúde. Baleado na invasão do hospital por cerca de 15 bandidos armados de fuzis e granadas para resgatar o traficante  Nicolas Labre Pereira Jesus, vulgo Fat Family, morreu imediatamente. Mais três ficaram feridos. Avisada antecipadamente da ação dos delinquentes, a autoridade (ir)responsável só agiu a posteriori: o comandante da Polícia Militar, coronel Edson Duarte, exonerou dois dias depois o tenente-coronel Wagner Gaurci Nunes, comandante do 5º BPM (Praça da Harmonia), responsável pelo policiamento da área onde fica o hospital. Aí, o mundo ficou sabendo que a única providência que se toma no território minado da sede da Olimpíada é instalar na porta arrombada um ferrolho frouxo.

Assim como a Copa da Fifa em 2014, a Olimpíada do Rio foi anunciada e programada como uma espécie de quarup para cultuar a personalidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, disposto a mostrar ao mundo que o Brasil elegeu um operário braçal presidente e que ele próprio estava à altura de repetir Hitler, Mussolini, Stálin, Mao e Pol Pot. Deu no que deu. Respondendo a inquéritos policiais por haver assistido inerme o assalto também programado da organização criminosa à qual entregou chaves e segredos dos cofres públicos, o ex-dirigente sindical não sobreviveu sequer à condição de símbolo da riqueza ostensiva da nova classe dirigente brasileira, que saiu da periferia pobre, frequentou palácios e morre de medo de terminar na prisão. Enquanto aguarda a polícia bater à  sua porta, Lula vê evaporar até o status de símbolo dos Jogos que consagram atletas pelo suor e governantes pelo oportunismo. O lugar foi tomado por uma mártir de verdade: depois de acorrentada para ser fotografada cercada de soldados do Exército fardados e com metralhadoras em riste, a onça-pintada Juma, mascote do Centro de Instrução de Guerra na Selva, Centro Coronel Jorge Teixeira, foi abatida por um tiro de pistola para não ferir, machucar e talvez até matar um garboso soldado.

A fotografia, publicada na página 16 do Estadão de hoje, é, ao mesmo tempo, pungente e lastimável: dois sujeitos fantasiados de guerreiros da paz erguem uma tocha olímpica, objeto cênico usado para fingir uma harmonia que o país deixou de viver há muito tempo. O animal à frente, evidentemente irritado, serve de símbolo de uma nação espoliada por um bando de canalhas que, além de roubá-la, ainda sai pelo mundo afora a ostentar o produto de sua rapina. Com a cumplicidade tácita de um bando de exibicionistas que põem a própria vaidade acima de tudo na vida, inclusive a vergonha alheia.

Por enquanto, a Olimpíada do Rio só serviu mesmo para mostrar que os colonizadores de antanho tinham razão quando advertiam que feras selvagens vagueiam pelas ruas de nossas favelas. Enquanto paspalhos exibem seus tacapes com a borda superior em chamas.

Fonte: Blog do Nêumanne

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Mercado da morte no Everest



Cada vez mais turistas, mesmo sem preparo, se dispõem a pagar até R$ 130 mil para chegar ao topo do mundo. Nos últimos dias, quatro deles perderam a vida na aventura

Com seus recordistas 8.848 metros de altura, o Monte Everest, na fronteira entre o Tibete e o Nepal, representa um desafio à superação humana. Depois de vencido pela primeira vez, em 1953, o cume da cordilheira do Himalaia deixou de pertencer apenas aos sonhos de alpinistas profissionais e se tornou destino recorrente nas viagens de aventura, procurado inclusive por amadores. Nos últimos dias, uma sequência de tragédias colocou em xeque a idoneidade das operadoras que organizam a subida ao Everest.




Quatro pessoas morreram ao tentar chegar ao topo do mundo e, até o fechamento desta edição, outras duas estavam desaparecidas. “Muitos alpinistas sem qualquer experiência escalam o Everest todo ano e as empresas costumam usar equipamentos de má qualidade para baratear os pacotes e ganhar clientes”, disse à Reuters Ang Tshering Sherpa, presidente da Nepal Mountaineering Association, organização não-governamental que acompanha a prática do montanhismo na região. “Com isso, a empresa coloca os alpinistas em risco.”

O problema está na ambição desmedida das operadoras. Nos últimos anos, subir o Everest se tornou uma questão mercantilista. Qualquer um pode contratar as agências que promovem as escaladas, desde que o interessado disponha de pelo menos R$ 130 mil para adquirir os pacotes. “Escalar o Everest virou uma coisa muito comercial”, disse à ISTOÉ Thomaz Brandolin, alpinista brasileiro profissional que levou uma equipe à montanha em 1991. 
“Aceita-se cada vez mais pessoas sem experiência ou preparo físico. O sujeito tem dinheiro para pagar o equipamento, se inscreve e vai. Virou festa.”

A sanha financeira tem motivado  as empresas responsáveis pelas escaladas a levar para o monte grupos cada vez mais numerosos, sem o aumento proporcional de monitores. O filme “Evereste”, exibido no Brasil no ano passado, retrata uma situação parecida: a tragédia de maio de 1996, quando dois grupos de alpinistas comandados pelos experientes Scott Fischer (da Mountain Madness) e Rob Hall (da Adventure Consultants) fizeram uma expedição que resultou na morte de oito pessoas, incluindo Fischer e Hall.

Na semana passada, Subhash Paul subia pela primeira vez a montanha em um dos passeios que levam para o alto do Everest pelo menos 1.300 pessoas por ano. Não foi uma avalanche nem qualquer intempérie imprevista que tirou a vida do indiano de 43 anos. Paul morreu de hipobaropatia a chamada doença de altura –, mal que mata em grandes altitudes por falta de oxigênio. Antes de morrer, o alpinista estreante havia subido 8 mil metros. No dia anterior, a australiana Maria Strydom e o holandês Eric Arnold também não sobreviveram à escalada. 

A causa da morte foi a mesma de Paul. Segundo especialistas, a hipobaropatia ocorre apenas acima dos 2.400 metros de altitude, quando alpinistas desavisados entram em áreas que exigem oxigênio suplementar, ou decidem se arriscar sem o equipamento recomendado – ou sem equipamento suficiente para todos do grupo.

Na teoria, desde o ano passado o governo do Nepal só permite a subida para esportistas que já tenham alcançando o topo de outras montanhas com ao menos 6.500 metros. Mas a regra nunca chegou a ser implementada e o Ministério do Turismo afirma que não há nenhuma previsão para colocá-la em prática. “Nós precisamos manter a glória das escaladas ao Everest”, disse à CNN Mohan Krishna Sapkota, secretária adjunta do ministério.

Fonte: Ludmila Amaral