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segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Com suspeitos de corrupção, coligações de ex-juízes candidatos causam saia-justa



Ex-magistrados negam constrangimento por conta de colegas de chapa

Após quatro anos de Lava-Jato, com a popularização de magistrados e o descrédito da classe política, diversos ex-juízes irão se candidatar nas eleições deste ano. Entretanto, muitos encontram dificuldades na transição do universo jurídico para o eleitoral. Um dos dilemas ocorre na formação das coligações, já que candidatos que usam o discurso ético acabam tendo como colegas de chapa políticos que já foram alvos de suspeitas de corrupção.

O PSL, por exemplo, lançou ao Senado, em Mato Grosso, a ex-juíza Selma Arruda, conhecida como “Sergio Moro de Saia” por ser dura nas decisões e colocar na cadeia vários políticos do estado. A ex-juíza apoia a reeleição do governador Pedro Taques (PSDB), ex-procurador da República que deixou o Ministério Público para seguir carreira política. Em 2016, Selma mandou prender o empresário Alan Malouf, que atuou na campanha de Taques em 2014, e o ex-secretário do governo Permínio Pinto (PSDB) por suspeita de esquema de propina e fraudes na Secretaria de Educação. A candidata disse que não vê constrangimento e nem contradição na aliança com os tucanos.  Você tem um governo com cinco mil pessoas trabalhando e não consegue controlar todo mundo. Alguém ali deu um passo errado e foi punido. Não vejo contradição — disse a ex-juíza, destacando que o PSL é um partido pequeno, que precisa de coligações com a atual legislatura eleitoral.

Selma se aposentou em março deste ano, após 22 anos de magistratura. Ela reconhece que é “bem principiante” na política e diz que tem muita coisa que nem imaginava como funcionava. Para a ex-juíza, algumas peculiaridades da política são difíceis para um leigo entender, como o apoio em alguns estados entre o PT e o MDB.
No Rio de Janeiro, o candidato do PSC ao governo, Wilson Witzel, atuou em varas de Execuções Penais no Rio e no Espírito Santo e também vai se candidatar pela primeira vez neste ano. O candidato ao Senado na sua chapa será o Pastor Everaldo, presidente do PSC, citado na delação de executivos da Odebrecht. Segundo os delatores, ele teria recebido R$ 6 milhões nas eleições de 2014 para beneficiar o candidato do PSDB, Aécio Neves, nos debates. O pastor Everaldo nega ter atuado a pedido da Odebrecht e ter recebido doações ilegais.

Wiztel não vê problemas, porque a citação não gerou nenhum inquérito. Ele considera que apenas com a apresentação de uma denúncia pelo Ministério Público existem indícios suficientes para impedir uma aliança.  — Sou professor de Processo Penal. No inquérito policial, você não tem um acusado, tem a investigação de um fato. Se você tem uma denúncia do Ministério Público, fundamentada, com as provas colhidas no inquérito policial, aí sim, nós podemos dizer que há uma séria preocupação com a conduta moral daquele indivíduo — avalia.

O candidato do PDT ao governo de Mato Grosso do Sul, o ex-juiz Odilon Oliveira, se aposentou em outubro do ano passado e teve dificuldade em fechar alianças por vedar a participação de políticos corruptos ou sob suspeita em sua coligação. Odilon atuou no combate ao narcotráfico e se tornou um dos juízes mais ameaçados do país. Até hoje anda com escolta por determinação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Com apoio apenas do Podemos e do Pros, afirma não se preocupar com um palanque esvaziado.  — Prefiro ficar sozinho e estar rodeado pelo povo do que com pessoas manchadas e ter a censura popular. A política ainda tem salvação. Vai ser difícil consertar, mas o único instrumento é através do voto — afirma.

O ex-juiz explica, no entanto, que sempre abriu as portas de sua casa a autoridades para relacionamentos institucionais.
— Logicamente, se eu já elogiei algum prefeito que se enrolou depois, com corrupção ou qualquer outra coisa, isso não significa que a foto representa um aval em relação aos atos praticados por aquela pessoa.

Outro exemplo é Márlon Reis (Rede), autor da Lei da Ficha Limpa, que vai disputar novamente o governo do Tocantins. Ele terá o apoio do PV, que tem entre suas principais lideranças estaduais o casal Marcelo e Claudia Lelis, ambos com problemas na Justiça Eleitoral. Marcelo foi condenado por abuso de poder econômico e captação ilícita durante as eleições municipais de Palmas em 2012, quando foi candidato a prefeito. Já Claudia era vice-governadora até março, quando ela e o governador Marcelo Miranda foram cassados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por caixa dois na campanha de 2014. No início do mês, Márlon Reis disse que a aliança é com o PV, que Marcelo Lélis não é candidato nem dirigente partidário e que Claudia não é acusada de nada nem está inelegível.