É melhor buscar colegiados, consenso e segurança antes do que depois de falar
A inteligência de conselhos, debates e reuniões é ouvir ideias novas,
contrapor visões diferentes, abrir alas ao contraditório e buscar
consensos para a melhor decisão. Por definição, eles são incompatíveis
com o pensamento único – que é o oposto da inteligência. Então, por que o
governo desidrata os conselhos e desconvida uma cientista política
respeitada para um deles? Uma das qualidades do presidente Jair Bolsonaro – que Michel Temer tinha
e Dilma Rousseff, definitivamente, não tinha – é saber ouvir e ter a
humildade, ou a grandeza, de mudar de opinião. O problema é que ele
inverte o processo: em vez de ouvir, debater (e ampliar o leque de
opiniões) antes de chegar a um consenso, ele anuncia e depois vai ouvir,
debater e chegar a um consenso.
Isso gera ruídos e constrangimentos. Nesses dois meses de governo, eles
não foram poucos. Aliás, já começaram na transição, com o anúncio, e
depois o “desanúncio”, da fusão dos ministérios da Agricultura e do Meio
Ambiente. Ministros e assessores primeiro intuíram, e depois
concluíram, que é preciso muita atenção ao que o presidente diz ou
divulga pelas redes sociais, para poder apagar os incêndios rapidamente. Quem primeiro teve a coragem de corrigir Bolsonaro em público, para
neutralizar reações negativas, foi o secretário especial da Receita
Federal, Marcos Cintra, que negou a intenção, anunciada informalmente
pelo presidente, de aumentar o IOF e mexer no IR.
Na mesma ocasião, o chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, teve de fazer
um contorcionismo verbal para corrigir a informação do presidente de que
a idade mínima na reforma da Previdência seria de 57 anos para mulheres
e 62 para homens. Segundo Onyx, a ideia tinha “muita força”, mas a
proposta ainda não estava fechada. E não estava mesmo, como se viu no
anúncio oficial de 62 e 65 anos. O mais desembaraçado para desmentir uma afirmação de Bolsonaro foi o
ministro do GSI, Augusto Heleno, um general da reserva que joga vôlei e
tem jogo de cintura. Depois de Bolsonaro dizer, e o chanceler Ernesto
Araújo confirmar, que o Brasil poderia ceder território para uma base
militar americana, Heleno deu uma entrevista definitiva: “Fizeram um auê
por nada. Não tem nada disso”. Nunca mais se falou em base militar.
O último desmentido partiu do vice-presidente Hamilton Mourão, cada dia
mais político, mais cuidadoso. Bolsonaro tinha admitido reduzir a idade
mínima das mulheres para 60 anos na reforma e desistir de pagar só R$
400 para miseráveis. A área econômica reagiu, o mercado sacholou e lá
se foi o vice reduzir tudo a um “mal-entendido”. Em vez de enxugar ou extinguir conselhos, o presidente anda precisando
do contrário: um conselho para monitorar suas manifestações públicas,
seja sobre bases, seja sobre a “nova Previdência”, seja sobre imposto,
seja sobre o que for. Como já disse Onyx Lorenzoni, qualquer coisa que o
presidente disser, ou tuitar, tem “muita força”. Logo, toda prudência é
necessária, todo cuidado é pouco.
Louve-se, novamente, a capacidade de Bolsonaro de recuar quando
necessário, mas buscar consensos e segurança antes de falar, e não
depois, evita dissabores e constrangimentos. Em outras palavras, “é
melhor prevenir do que remediar”. Educação. Segundo o presidente, pelo Twitter, o Brasil gasta mais em
Educação em relação ao PIB do que a média de países desenvolvidos (cerca
de R$ 130 bilhões em 2016) e ocupa as últimas posições do Programa
Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa). Um escândalo! Mas isso não
se combate com ideologia, teologia e fantasmas. O setor precisa mesmo é
de administração: planejamento, ações, qualificação e, eventualmente,
punições.
Eliane Cantanhêde - O Estado de S.Paulo