Na
terça-feira reuniram-se para jantar, no Palácio da Alvorada, a presidente Dilma
Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro Jaques Wagner,
o presidente do PT, Rui Falcão, e o assessor presidencial Giles Azevedo. Apurou-se que Dilma queria
também a presença do ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, mas Lula objetou,
alegando que o encontro se destinava a debater questões estritamente políticas.
Faz sentido.
O Palácio do Planalto e o PT não conseguem se entender a respeito
do que fazer para encarar a crise econômica. É uma divergência política, acima
de tudo. Tem a ver com o futuro do país, é claro, mas também com o que podem
esperar para si mesmos os dois protagonistas da reunião, Dilma e Lula. Melhor
então que o ministro da Fazenda aguarde quieto em seu canto as novas instruções
para tempos difíceis.
Dilma
termina o primeiro ano de seu segundo mandato no fundo do poço da popularidade
e não tem mais nada a perder – a não ser o que lhe resta de mandato. Pode
perfeitamente adotar medidas impopulares na área econômica, na esperança de
estar fazendo o certo – mesmo ao arrepio de suas convicções ideológicas –,
para colher a recompensa da retomada do crescimento econômico. Já o PT não quer ouvir falar em nada que, na sua ótica
populista, contrarie os “interesses dos trabalhadores”.
É por
isso que tem ojeriza pela austeridade implícita ao ajuste fiscal. Acredita que
o governo tudo pode, basta querer, e reivindica uma “nova política
econômica”, que de nova não tem nada porque significa apenas a retomada da
gastança paternalista com a qual Lula, em seu segundo mandato, e Dilma, no
fatídico primeiro, inebriaram os crentes num Paraíso tropical e arruinaram a
economia brasileira.
Ao
contrário de Dilma, Lula tem tudo a perder com a persistência da crise, pois vive do prestígio que
conquistou na brilhante carreira política e não se conforma com a possibilidade
de ter de dedicar seus próximos anos a criar galinhas no aprazível sítio que
frequenta em Atibaia. É o prestígio proporcionado pela imagem de mandachuva
perpétuo que alimenta o ego e, em proporções nada desprezíveis, o alto padrão de vida do chefão do PT. Nas devidas proporções, vivem o mesmo dilema o alto
comissariado e toda a militância petista encastelada no conforto do aparelho
estatal.
Os
jornalistas tiveram acesso ao que foi conversado no jantar por meio de
participantes do encontro e pessoas a eles ligadas. O problema com esse tipo de
informação é que as fontes costumam revelar apenas o que lhes interessa, sempre
nos termos que lhes são mais convenientes. E isso explica as inevitáveis
contradições nas informações veiculadas por distintos veículos de comunicação.
Em resumo, as informações sobre a restrita cúpula
político-gastronômica no Alvorada mais confundem do que esclarecem o que têm na
cabeça os donos do poder.
Parece
ponto pacífico que Lula insistiu na necessidade
urgente de sua ex-pupila “assumir o protagonismo” da agenda
política e econômica e também viajar pelo país para transmitir “boas
notícias” que ajudem a aliviar a má sorte que
persegue o PT. Lula teria exigido também que o governo lhe forneça
argumentos – como a oferta de farto crédito para a compra de bens de consumo
– com os quais possa deliciar as massas carentes de boas notícias.
Já no
campo factual, no dia seguinte ao jantar no Alvorada, quarta-feira, Jaques
Wagner voltou a conversar abertamente com os jornalistas, ecoando questões
discutidas na noite anterior. Com a clara intenção de criar um anticlímax
diante da expectativa de grandes planos para a recuperação da economia, Wagner
garantiu, segundo o Globo: “Não estamos mais em tempos de ‘pacotes’. Acho
que não tem nada bombástico. Não tem coelho na cartola”.
A
presidente da República, por sua vez, num gesto certamente destinado a “assumir
o protagonismo”, reuniu ontem os jornalistas para um café da manhã durante
o qual fez as habituais previsões otimistas e – surpresa! – admitiu que “todas
as atividades humanas são passíveis de erro”. Partindo de quem parte, é um
enorme progresso, mas não ajuda a entender o que vem por aí.
Fonte: Editorial do Estadão