O ofício da PF faz parte do inquérito que investiga suspeitas de propina para Temer no Porto de Santos
Às 14h21 da última quarta-feira (3), o Palácio do Planalto recebeu
oficialmente uma correspondência do Supremo Tribunal Federal. O
destinatário era o morador mais ilustre do local: Michel Temer. Assinado
pela presidente Cármen Lúcia,
que o cumprimentou como “Excelentíssimo Senhor Presidente da
República”, o conteúdo do documento era pouco agradável. A presidente do
STF encaminhava uma lista de 50 perguntas formuladas pela Polícia
Federal para serem respondidas por Temer. Trata-se do interrogatório do
presidente no inquérito que apura suspeitas de favorecimento indevido ao
setor portuário em um decreto presidencial que alterou regras das concessões das áreas.
O decreto foi publicado por Temer em 11 de maio e aumentou o prazo dos
contratos de concessão de áreas portuárias de 25 anos para 35, podendo
ser prorrogado até 70 anos, beneficiando as atuais empresas
concessionárias. O caso pode gerar problemas para o presidente.
ÉPOCA teve acesso à lista das perguntas e ao conteúdo da investigação em andamento contra o presidente Michel Temer.
Formuladas pelo delegado da PF Cleyber Malta Lopes, as questões revelam
as hipóteses sobre suspeitas de recebimento de propina pelo
peemedebista. Miram seus principais aliados. Entre eles o ex-deputado
Rodrigo da Rocha Loures, famoso por ter sido flagrado em uma corridinha
com a mala de R$ 500 mil entregue pela JBS. A PF também investiga o
coronel João Baptista Lima Filho, acusado de receber propina em nome de
Temer, e o advogado e ex-assessor José Yunes, que já admitiu ter
recebido um pacote de dinheiro do operador Lúcio Funaro.
O interrogatório de Temer é uma das últimas diligências do inquérito. O
prazo dado pelo STF para que as perguntas sejam respondidas foi de 15
dias. Na condição de presidente, Temer pode respondê-las por escrito.
Como a PF já tomou o depoimento de quase todos os investigados, o
inquérito já entrará em sua fase final, restando ao delegado Cleyber
Malta concluir se houve a prática de algum crime. Os elementos colhidos
até agora pela PF confirmam um intenso lobby da empresa Rodrimar,
concessionária de áreas no Porto de Santos, junto a autoridades públicas
para conseguir benefícios no decreto presidencial. A empresa recorreu a
Rocha Loures, ao deputado Beto Mansur, do PRB de São Paulo, e ao
senador Wellington Fagundes, do PR de Mato Grosso. Os elementos colhidos
indicam que Temer delegou a seus subordinados a responsabilidade de
cuidar do decreto.
(...)
As 50 perguntas feitas pela PF ao presidente Michel Temer:
Histórico profissional:
1. Quem foi coordenador financeiro ou arrecadador de recursos nas
campanhas eleitorais que Vossa Excelência disputou nos anos de
2002/2006/2010 e 2014? Vossa Excelência também executava essas funções
em suas campanhas eleitorais?
2. Vossa Excelência tinha conhecimento prévio dos valores recebidos em doações eleitorais, nas campanhas de 2002/2006/2010 e 2014? Se sim, quais os principais doadores nas campanhas eleitorais de Vossa Excelência? Vossa Excelência possui algum vínculo com setor econômico específico, responsável pelo custeio de suas campanhas, por meio de doações eleitorais (por exemplo: setor elétrico, agrário, servidores públicos etc.)?
Época