Estrutura partidária e recursos financeiros são, sem dúvida,
muito importantes para candidatos em campanha. Existe, porém, algo mais que vai
além de imagens construídas artificialmente por marqueteiros. Trata-se dos
elementos carisma, identificação, confiança.
Carisma, conceito geralmente confundido com populismo, significa
“dom da graça”. Em seu estudo sobre autoridade carismática, Max Weber analisa
essa característica atribuída a profetas e heróis vistos como forças realmente
revolucionárias na história. Transposto o conceito para a política, carismático é o
personagem que foge ao habitual graças a sua ascendência sobre os demais, ao
seu fulgor que impõe a adesão e admiração, ao seu talento pessoal.
Nesta eleição de 2018, se pode dizer que entre os candidatos à
presidência da República, Jair Messias Bolsonaro é o carismático. Note-se que
ele é chamado de mito. E mito tem simbologias ligadas a personagens como deuses
e heróis. Esses componentes são por vezes misturados a fatos que caracterizam
humanos. Assim sendo, Bolsonaro é percebido pelo inconsciente coletivo como uma
espécie de herói por ser um homem contra o sistema.
Um homem sem estrutura partidária, sem recursos financeiros, que
enfrenta um sistema onde avulta a difamação de sua imagem pela mídia mais
poderosa. Um sistema infiltrado pelo PT em desespero para retornar ao
poder. Um poderoso sistema que quase deu fim sua vida.
A identificação também é essencial ao candidato e se dá quando
alguém se assemelha aos eleitores através de propósitos, valores,
comportamentos. E quando nesses tempos do politicamente correto um líder fala o
que está preso na garganta de milhões de pessoas, a identificação acontece. O
eleitorado de Bolsonaro se identifica com o mito que tem a coragem de se
expressar corajosamente pela maioria silenciosa.
Bolsonaro representa também o antipetismo e o porquê disto é
fácil de entender. Depois de quase 14 anos de PT chegou-se a um ponto de
degradação não apenas econômica, mas também de valores.
Nesses anos de
Lula/Dilma a esquerda requentada, que escamoteou a realidade dos tenebrosos e
fracassados sistemas comunistas, tornou a corrupção institucionalizada.
Promoveu a louvação e a defesa dos bandidos insuflando assim a violência.
Dedicou-se a perversão das crianças através da falácia de que não existem
meninos e meninas, estimulando a sexualidade prematura e a pedofilia. O aborto
tornou-se algo natural.
O feminismo descambou em manifestações grotescas de
mulheres nuas que, paradoxalmente, se ofereceram como objeto. A Lei Rouanet
financiou exposições abertas a crianças e jovens onde prevaleceram a degradação
da arte, a vulgaridade, a mediocridade, o apelo a pedofilia, a zoofilia, a
profanação através de aberrantes figuras religiosas. A reação a esse estado de coisas não pode ser explicada
simploriamente como conservadorismo da direita radical, de moralismo burguês,
mas trata-se da repulsa espontânea da sociedade diante da depravação, da
decadência moral, do favorecimento a desintegração social.
Nesse quadro, em que todos os mecanismos morais, éticos e
estéticos afrouxaram sente-se a necessidade da ordem, do equilíbrio. Desse
modo, quando Bolsonaro vocaliza as angústias e perplexidades porque passa a
sociedade brasileira, a identificação acontece naturalmente e ele se torna um
de nós.
Finalmente, sem confiança nenhum candidato vence. Mais atento
nessa eleição, descrente dos políticos mergulhados nos esquemas de corrupção do
governo petista, o povo está mais imune às promessas mirabolantes. Pouco
interessa aos eleitores os partidos, as simulações ideológicas, os programas de
governo. O que se deseja é alguém que transmita segurança e esperança. Alguém
em que se possa confiar. E isso Bolsonaro transmite, o que também o diferencia
dos demais candidatos.
Entenda-se, que se ganhar, Bolsonaro não fará milagres porque a
herança maldita do presidiário e de seu poste Rousseff não se conserta em um
dia. O Congresso seguirá venal com parlamentares voltados para seus próprios
interesses. A Justiça, com exceção do juiz Moro e de outros magistrados
continuará injusta. Haverá sempre o risco de nova tentativa de assassinato.
Continuará a perseguição pelos meios de comunicação, O PT tentará destruir o
eleito porque petistas não perdoam quem ganha dos seus companheiros.
Mesmo com toda dificuldade que o espera, sendo bem-intencionado
e cônscio de sua responsabilidade, Bolsonaro fará o que estiver ao seu alcance.
O que não dá é reeditar o pesadelo do autoritarismo, da incompetência, da
corrupção, da esbórnia petista. Isto sim, seria uma desgraça inominável.
Por: Maria Lucia Victor Barbosa, é Socióloga.