A falha estrutural do projeto político do PT foi não ter obtido o poder total antes que os anticorpos do Estado pudessem agir.
O
PT levou a arte de corromper ao limite, no Brasil, fazendo jus à
tradição comunista de que deriva. Temos que meditar sobre esse fato,
pois com o PT houve uma mudança substantiva nas práticas deletérias que
pilharam o Estado. Nunca é demais dizer que a corrupção abalou os
alicerces do Estado, distorceu a representação política e fez eleger, de
forma ilegítima, agentes corruptos para os mais altos cargos da nação. A
própria eleição de Dilma Rousseff é um exemplo conspícuo dessa
distorção provocada pela corrupção.
Corrupção
é intrínseca ao homem e é inerente ao poder de Estado. Se isso é
verdade podemos dizer que a corrupção ela mesma não é um problema, mas
um dado da realidade com o qual temos que conviver. Isso, todavia, só é
verdadeiro dentro de um certo range, qual seja, que a corrupção exista
sem interferir na viva profunda do ente político e que preserve o rizoma
do tecido social. Isso ocorre nas formas banais de corrupção, que são
aquelas em que o corrupto, qual um parasita oportunista, se aproveita
das circunstâncias
e realiza sua ação. É a corrupção de todo dia, que vemos quando há
presença de algum fiscal do Estado ou a concupiscência de um funcionário
responsável por aquisições governamentais. É aquela típica do guarda de
trânsito que leva a propina para não multar. Nesse caso nem o Estado
perde e nem a vida cotidiana muda.
Bem
outra coisa ocorreu com o PT no poder. A corrupção foi elevada à
condição de principal ferramenta da articulação política. Mais ainda,
foi transformada em instrumento revolucionário pelo qual o PT quis
alcançar a hegemonia, distorcendo representação política. Podemos dizer
que o PT tentou dar o golpe de Estado comprando votos de parlamentares e
por muito pouco não conseguiu seu intento. A denúncia acidental de
Roberto Jefferson, então deputado e líder do PTB, um homem
desequilibrado e sem meias medidas, é que levantou o tapume sobre a
famosa prática do mensalão, que levou à abertura da Ação Penal 470, de
triste memória.
À
época, José Dirceu, líder em atividade das coisas tenebrosas do PT,
percebeu o perigo que corria o seu projeto político e tentou de forma
desesperada parar o estrelismo denuncista de Roberto Jefferson. Ele o
fez porque sabia que o Estado é maior do que o partido e que, uma vez
provocada, a Justiça seria posta em movimento, com os resultados
previsíveis. Não deu outra. Até mesmo José Dirceu foi apenado naquela
Ação Penal.
O
novidadeiro na corrupção do PT é que, além de ter se tornado um
instrumento político estratégico (e até por isso), tornou-se um fim em
si mesma. O exemplo da aquisição da refinaria de Pasadena é conspícuo. A
Petrobras e o Brasil jamais precisaram daquele investimento, que só foi
realizado porque se mostrou uma oportunidade excelente de assalto aos
cofres públicos. Nunca um negócio foi tão vantajoso para os mafiosos da
política, mas no caso se perdeu completamente a funcionalidade. A
corrupção como fim em si mesma é incompatível com a racionalidade do
Estado e a própria vida social. A Petrobras está em situação quase
falimentar por conta disso. A corrupção como fim em si mesma gera o
caos, é entrópica.
O
petrolão foi descoberto também por outro acidente, a investigação sobre
o doleiro Alberto Youssef, que operava pesado para o esquema do PT e
ninguém sabia. Puxou-se o fio da meada e agora vemos o juiz do processo,
Sergio Moro, transformado em herói nacional porque fez valer o poder de
Estado sobre os delinquentes do PT e seus associados. A
falha estrutural do projeto político do PT foi não ter obtido o poder
total antes que os anticorpos do Estado pudessem agir. Fracassou porque
não tem força para passar uma borracha na ordem jurídica, o Código Penal
está em pleno vigor. Será banido da vida política e será lembrado pela
História como a mais rocambolesca tentativa de totalitarismo emergindo
desde dentro da ordem democrática. Algo muito parecido com o que
aconteceu com a Alemanha de Hitler. Felizmente, aqui, houve tempo de se
esmagar a jararaca antes que ela pudesse devorar toda gente.