Em resposta à iniciativa do general e dos
mais aguerridos seguidores de Bolsonaro, o PT também convocou para o
dia 18, três dias depois, uma manifestação de protesto contra o Governo
Bolsonaro, enquanto no dia 8 acontecerá a já clássica manifestação pelo
Dia Internacional da Mulher, que no Brasil este ano será um claro
protesto contra os abusos do Governo cometidos contra os direitos e
contra a dignidade das mulheres.
Três hipóteses sobre o possível resultado
dessas convocações à população são igualmente alarmantes e perigosas.
Se a manifestação a favor do Governo e contra as outras instituições for
menor que a da oposição do PT e se a manifestação de 8 de março das
mulheres no Dia Internacional da Mulher for um sucesso, é bem possível
que Bolsonaro e os seus se tornem mais agressivos contra a esquerda e
contra Lula. O país continuaria mais dividido e crispado do que já está.
É a única coisa de que o Brasil não precisa neste momento, com sua
economia atolada e com os militares que começam a aparecer divididos
frente ao Governo.
E se ambas as manifestações, as dos dias
15 e 18 fracassarem, uma vez que a das mulheres certamente será
importante, se forem um fracasso de público; se na realidade todo o
barulho que está sendo feito for mais obra dos robôs em ação nas redes
do que de pessoas de carne e osso? Se apenas uma minoria sair à rua
apoiando o golpe contra as instituições? Se o PT não conseguir encher as
ruas e praças como no passado? Seria outra hipótese igualmente
alarmante. Bolsonaro se sentiria mais motivado a endurecer suas posições
autoritárias e não sabemos qual seria a reação dos generais que atuam
no Governo. Uma fera ferida pode ser mais perigosa do que saudável.
Resta a terceira hipótese, a de um
triunfo da manifestação a favor do Governo Bolsonaro, que ocorreria se
conseguisse levar para a rua os dois milhões que saíram para pedir o
impeachment de Dilma e o “fora Lula”. Esta é a hipótese mais alarmante,
porque daria a Bolsonaro e seu Governo, e até aos militares, carta
branca para tentar impor pela força um regime autoritário que sangre as
outras instituições.
Dado que essa convocação do Governo,
neste momento, seria no mínimo imprudente e ninguém sabe quais poderiam
ser suas consequências para o futuro do país, o melhor seria que ambas
as partes renunciassem a esse duelo nas ruas e trabalhassem
democraticamente para devolver ao país a paz que está perdendo em vez de
se arriscarem a uma guerra cujas consequências são fáceis de adivinhar.
E mais uma vez, a última carta estaria nas mãos dos militares,
especialmente daqueles que atuam hoje no Governo. Só eles poderiam ainda
convencer Bolsonaro a parar a manifestação com sinais de vingança
contra o Congresso. É inédito que um Governo com pouco mais de um ano no
poder organize uma manifestação a seu favor. No mínimo, revela
fragilidade e falta de confiança em seu trabalho. [Não haverá duelo = duelo pressupõe confronto entre dois adversários com uma certa igualdade de forças.
A esquerda corja lulopetista é insignificante e isto será mais uma vez mostrado no próximo 15 de março.
A hipótese que se tornará fato é a terceira: "a de um triunfo da manifestação a favor do Governo Bolsonaro", na parte transcrita, as consequências citadas no parágrafo acima ficam por conta da criatividade do autor da matéria.]
Em um momento em que a sociedade continua
dividida e crispada, desafios desse tipo com convocação para sair às
ruas contra as instituições do Estado acabariam convencendo as forças
democráticas, na expressão do decano do STF, de que o presidente
Bolsonaro “se tornou indigno” de exercer a alta chefia do Estado. E os
militares, se querem ser fiéis à sua lealdade ao Estado e à democracia,
deveriam ser os primeiros a convencer Bolsonaro e os seus a recuar de
uma iniciativa que, de qualquer lado que se olhe, só pode levar a uma
nova crise, e desta vez gravemente ofensiva à essência da democracia,
como é o respeito à divisão de poderes. As guerras e tragédias da humanidade e
dos povos começaram muitas vezes com um único tiro e com a centelha de
um erro de cálculo. Quando perceberam, as guerras já estavam em
andamento e eram imparáveis.
Queremos isso hoje para o Brasil em um
clima mundial de crescimento de retorno aos tempos das piores ditaduras,
as que produziram no mundo, em um passado ainda recente, tanta dor,
morte e fome para milhões de pessoas? De qualquer forma, neste momento de
endurecimento mundial das direitas mais autoritárias e belicosas, o
Brasil deveria ser no mundo um elemento de reflexão e de colaboração com
os povos que se debatem para que a democracia conquistada com tantos
sacrifícios, e que ofereceu riqueza e paz ao mundo, não morra por causa
da loucura de um punhado de governantes que se tornaram indignos da
responsabilidade que lhes foi outorgada pelas urnas.
Transcrito do jornal El País
Blog do Noblat - Ricardo Noblat, jornalista - VEJA