A
advertência vem sendo frequentemente repetida: “Todo dia, um ingênuo e
um espertalhão saem de casa; se os dois se encontram, dá negócio”.
Imagine a facilidade dos espertalhões se contarem com apoio dos grandes
meios de comunicação, se a cúpula do Poder Judiciário for antagônica aos
seus concorrentes e se as celebridades que os ingênuos reverenciam
forem devotas do malandro maior!
Quando vejo a
realidade nacional sob esse prisma, não posso deixar de pensar no poder
de degeneração que acompanha a malandragem esquerdista.
Ela só é bem
sucedida porque opera como uma formadora de trouxas. Verdadeira
multidão! Vota de qualquer jeito em qualquer sujeito ou, como ingênuo,
vota no mais vivo por qualquer motivo.
Por isso, o negócio prospera.
Lembro das
longas décadas em que a sociedade teve três instituições não estatais
como referências que lhe falavam em temas cruciais – a Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB), a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Dirigidas por pessoas
prudentes e sábias, as três muitas vezes se manifestavam juntas.
Não
detinham poder algum fora de seus próprios âmbitos, mas possuíam algo
que se evaporou quando os malandros foram ao encontro da multidão dos
trouxas.
O predicado que as três instituições tinham era mais relevante
do que o poder. Os romanos chamavam-no de “auctoritas”, atributo de uma
pessoa ou de uma instituição derivado do respeito que os demais a ela
dedicam em virtude dos valores e princípios que a inspiram.
Temos, hoje,
uma OAB que assiste passiva aos maus tratos à Constituição, à advocacia e
ao bom Direito.
Temos uma ABI que silencia perante a prática recorrente
da censura. Temos uma CNBB silenciosa quando o Estado se agiganta sobre
a sociedade e as nuvens do totalitarismo se aproximam no horizonte com
prisões políticas e desrespeito à dignidade humana.
Dia após dia,
nestas linhas, dedico-me a descrever causas e consequências dos males
que vejo, como fiz lá atrás, nos anos 80, quando percebi o abismo por
vir. Sou conservador, não faço revoluções.
Cultivo apenas o hábito
maluco de acreditar na força da liberdade, na instituição familiar, no
trabalho, na criatividade humana e na educação portanto.
Sabia que um
dia o desespero, neste Brasil sem Deus, bateria à nossa porta. “Escrever
não resolve”, alertam-me alguns. Depende do que se considere como
resolver.
Eu escrevo
para que, a cada dia, um número menor de ingênuos se encontre com os
malandros que tomaram a nação. Escrevo para que fique bem claro meu não
consentimento ao que vejo ser feito em meu país.
Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,
empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores
(www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país.
Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia;
Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.