Bernardo Mello Franco
Para senador, presidente repete erro de desprezar partidos e corre risco de não terminar o mandato
[a grande diferença entre o ex-presidente Collor e o presidente Bolsonaro é que apesar de ambos pretenderem governar sem partidos, faltou ao ex a liderança e preferência do eleitorado que o leva a governar sem partido e ter suas propostas aprovadas no Congresso sem negociação, por serem propostas válidas e que os inimigos do presidente, e do Brasil, não ousam rejeitar.
Além do mais, Collor apesar de ter sido inocentado no STF, foi vítima de sérias acusações que pavimentaram na época o caminho para o impeachment, já o atual presdiente NÃO FOI ACUSADO de nenhum crime - podem acusar os filhos dele, os primos do sobrinhos dos irmão do presidente, mas, nada cola em Bolsonaro, nada de desonesto ele praticou.]
Ao lembrar a campanha de 1989, o senador diz que se arrepende de ter explorado acusações de uma ex-namorada de Lula em sua propaganda eleitoral. “Eu me senti mal depois que assisti ao vídeo”, afirma. Aos 70 anos, faz mistério sobre o livro de memórias em que promete revelar segredos do poder. Os originais ainda estão armazenados num disquete. “Preciso tirar isso de lá, porque estraga. Mas está num lugar bom, refrigerado”.
A eleição de Bolsonaro foi muito comparada à sua, em 1989. Em que o governo dele se parece com o seu?
Vejo semelhança entre o tratamento que eu concedi ao PRN e o que ele está conferindo ao PSL. Em outubro de 1990, nós elegemos 41 deputados. O pessoal queria espaço no governo, o que é natural. Num almoço com a bancada, eu disse: “Vocês não precisam de ministério nenhum. Já têm o presidente da República”. Erro crasso.
O que está acontecendo com o Bolsonaro é a mesma coisa. A bancada do PSL foi eleita na onda bolsonarista, é verdade. Mas quando a pessoa chega e assina o termo de posse, ela vira entidade.
Estou dizendo porque eu já passei por isso. Estou revendo um filme que a gente já viu. Vai ser um desassossego para ele.
Qual o futuro do governo?
Continuando do jeito que está, não vejo como este governo possa dar certo. São erros primários. Bolsonaro esteve na Câmara por 28 anos, viu como se forma um movimento numa casa em que o chefe do Executivo não dispõe de maioria.
Ele tem que entender algo fundamental: o presidente da República é o líder político da nação. Como líder, ele tem que fazer política. E política se faz por intermédio dos políticos e dos partidos.
O senhor vê risco de impeachment?
É uma das possibilidades. Bolsonaro não vem se preocupando com a divisão da sociedade brasileira, que se aprofunda. O discurso dele acentua a divisão. Com a soltura do Lula, a tendência é que essa divisão se abra ainda mais.
(...)
Lula diz que o resumo do último debate exibido pelo Jornal Nacional foi decisivo para sua vitória. Concorda?
O Lula não foi bem no debate. Tem a história de dizer que a Globo editou. Não houve nenhuma edição (tendenciosa). Depois do debate, as ruas de São Paulo ficaram cheias de bandeiras, carros buzinando. A sensação era de vitória.
Como você edita um jogo em que o Flamengo ganha de 5 a 0 do Botafogo? Os melhores momentos são de quem ganhou. Do Botafogo, vão passar os piores momentos, a canelada na bola.
Em setembro, Bolsonaro pediu ao povo para ir às ruas de verde e amarelo. O senhor também fez isso em 1992. O que se lembra desse episódio?
Eu estava muito pressionado pelo impeachment. Foi uma tirada de marketing que deu errado. No domingo, todo mundo saiu de preto. Quando eu liguei a TV, pensei: “Não tem mais jeito. Agora é esperar o desfecho desse processo, que não vai ser nada bom”.
Bernardo Mello Franco, colunista - O Globo - Leia MATÉRIA COMPLETA