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terça-feira, 13 de abril de 2021

Braga Netto e Mourão repetem fala de Bolsonaro contra o Judiciário - Míriam Leitão

O Globo

Neste momento confuso entre os poderes, tudo o que não deveria acontecer é continuar essa ideia de que as Forças Armadas estão à disposição dos propósitos políticos do presidente em seus conflitos com os poderes. Pois, Braga Netto assumiu ontem o Ministério da Defesa com um discurso totalmente despropositado, falando coisas que nada têm a ver com o seu papel de ministro da Defesa. Ou seja, ele vai continuar politizando o seu cargo. Braga Netto repetiu a expressão “coragem e moral” que Bolsonaro usou contra o Supremo. E depois foi mais claro, entrando no debate sobre se devem ser investigados os governadores.

Braga Netto disse o seguinte: “O uso dos recursos pelos gestores de todas as instâncias deve ser acompanhado de perto pela população e sofrer apuração mais rigorosa para constatar os benefícios diretos para a sociedade”. Isso é a mesma conversa de Bolsonaro inclusive naquele telefonema esquisito com o senador Kajuru. O que o ministro da Defesa tem a ver com isso? Nada. Que falasse dos desafios das Forças Armadas. Ele é um general da reserva, mas até pelo cargo que ocupa, e por tudo o que ele fez no último 31 de março, esse tipo de discurso mantém a ideia que Bolsonaro quer alimentar de que as Forças Armadas estão com ele nas brigas políticas de seu governo.

Coluna de hoje: O governo em grande confusão

Há uma dubiedade entre os generais da reserva e da ativa que têm cargos políticos, que o governo sempre fez questão de manter. Fica esta confusão: se são militares, de novo, de forma nebulosa, querendo fazer ameaças ao país. O vice-presidente da República tem, claro, um cargo político, mas por ser general acaba alimentando essa dubiedade. E ontem Hamilton Mourão afirmou que o Judiciário precisa compreender o “tamanho de sua cadeira” e seus “limites” para não interferir de forma contundente em decisões que seriam de outros poderes. 
O que ele está fazendo? Dizendo que o ministro Barroso, que cumpriu a Constituição, não poderia mandar abrir a CPI da Covid. Lembrando que o Judiciário foi provocado por integrantes do próprio Senado para agir pois Rodrigo Pacheco queria engavetar a comissão, que cumpria todos os requisitos.

Num dia tenso como ontem esses recados de Mourão e Braga Netto não ajudam, apenas aumentam a tensão entre os poderes. Tensão que o presidente deliberadamente alimenta.

Miriam Leitão, jornalista - O Globo