Embora há três décadas no Congresso, Bolsonaro
tornou-se corpo estranho ao ambiente que frequentou (e frequenta)
O que une
todos os presidenciáveis, sem exceção, é a constatação de que não há como
vencer a guerra eleitoral sem malhar – e muito – o chamado establishment
político. Todos são
contra a velha política, manchada de corrupção e ineficiência, mas todos dela
emergiram – e todos, afinal, nela estão. São o seu
retrato pronto e acabado.
Três
deles – Henrique Meireles (PMDB), Geraldo Alckmin (PSDB) e o nome que vier a
representar o PT – a simbolizam com maior nitidez, por pertencerem aos partidos
que governaram ao longo das três últimas décadas, na sequência dos governos
militares. Mas há
também os partidos coadjuvantes, que participaram de todos esses governos,
movidos pela fisiologia, que moldou um ecossistema predatório, que, para além
do discurso ideológico, unificou o padrão moral de governança e levou o país à
falência.
Nem
todos, porém, são percebidos como parte da velha política. É o caso de Jair Bolsonaro,
que, embora há três décadas no Congresso, tornou-se corpo estranho ao ambiente
que frequentou (e frequenta), malhado em uníssono por todos os concorrentes.
Essa
rejeição geral, visível no tratamento agressivo e diferenciado que lhe dá a
mídia, acentua a percepção de que, se ele não é o novo, é ao menos o fator de
ruptura, desejado por amplos segmentos da população, ainda que ela própria não
saiba aonde isso a levará. O capital eleitoral de Bolsonaro é a rejeição que
provoca no establishment – do qual a mídia faz parte. Por isso, como massa de
bolo, quanto mais apanha, mais cresce.
De um
lado, ele simboliza o fim de um ciclo e atrai quem isso deseja (e não são
poucos); de outro, representa a hipótese de retorno ao ciclo militar, que a
falência do poder civil fez ressurgir no imaginário de razoável parcela da
população.
A ideia
de todos contra Bolsonaro, que o ex-presidente Fernando Henrique verbalizou
esta semana, ao propor ao PT e à esquerda em geral um pacto de união no segundo
turno, pode ser uma faca de dois gumes. No momento em que a própria política
sofre de rejeição em massa, elegê-la como instrumento de demolição de uma
candidatura, provoca efeitos que podem sair pela culatra. Se
aqueles que a população identifica como responsáveis pela derrocada do país
elegem um inimigo comum, esse personagem tende a ser visto como o antídoto para
os males presentes. Por essa via, acabarão por garantir o contrário do que
pretendem.[ = JAIR BOLSONARO, presidente.]