Ida de Lula à Curitiba relembrou pontos polêmicos de sua carreira política
Lula
levou a Curitiba algumas das principais agruras da sua biografia
política, entre elas o mensalão e a corrupção na Petrobras. Chegou
à cidade, para interrogatório em processo no qual é réu por corrupção,
nas asas de um jato do empresário Walfrido dos Mares Guia, ex-deputado
federal pelo PTB. Dono de uma das maiores fortunas
de Minas Gerais, Mares Guia se destacou no papel de operador do
propinoduto que abasteceu campanhas eleitorais do PT e do PSDB, partidos
dominantes na política nacional nas últimas duas décadas.
Em
1998, Mares Guia esteve no centro do desvio de recursos públicos e de
doações privadas ilegais que irrigaram o caixa do PSDB mineiro na
eleição de Eduardo Azeredo para o governo de Minas. Quatro
anos depois, ministro de Lula, ajudou na montagem do acordo financeiro
para criação da "maior base parlamentar do Ocidente" — como na época
definiu José Dirceu, chefe da Casa Civil. No acerto estavam o PTB de
Mares Guia, mais o PR, PP, PRB, PSB e PPS.
Revelado
em 2005, pelo insatisfeito Roberto Jefferson, líder do PTB de Mares
Guia, o mensalão foi um ponto de inflexão do governo Lula. Descoberta mais tarde, a corrupção na Petrobras e outras estatais deixou o mensalão na categoria de gorjeta pluripartidária. Foram iniciativas simultâneas sob Lula. Ele
saiu da cobertura de São Bernardo do Campo (SP) com uma gravata
verde-amarela no pescoço. Desceu do jato privado em Curitiba e exercitou
cinco horas de negativas diante de um juiz que chegara ao trabalho
carregando sacola plástica branca com marmita do almoço. Como no
mensalão, o ex-presidente nada soube, viu ou assinou. Triplex no
Guarujá? "Tem que perguntar à dona Marisa" (falecida).
Quando
terminou, foi encontrar militantes agrupados pelo PT, CUT e MST. Falou
pouco mais de cinco minutos para uma praça semi-vazia, o que já não deve
surpreendê-lo (na campanha de 2014, houve comício em que não conseguiu
reunir mais que cinquenta pessoas na porta de uma montadora veículos, no
ABC paulista.) Lula, claro, não pode explicar o
inexplicável. Por exemplo, porque na sua administração a ética passou a
ser um procedimento aplicável exclusivamente aos adversários. Como
repetiu na praça, ele "continua em busca da verdade".