Há
quatro anos, os inimigos do presidente constroem narrativas, maximizam
seus erros e escondem suas realizações. Para todos os ataques, os
grandes veículos da imprensa brasileira proporcionam vasta propagação
nacional e internacional.
De sua parte, ele só dispõe de uma live
semanal disponibilizada pela Jovem Pan e limitada à audiência desse
veículo, naquele horário.
Diante de
tal realidade, o debate da Band, com oportunidade de contestação, de
revide e até de uma possível tréplica em direito de resposta deve ter
sido, até mesmo, objeto de euforia. Deu-lhe oportunidade de falar
através de canais até então bloqueados.
Foi nessa
perspectiva que assisti os dois eventos midiáticos transcorridos no
atual período eleitoral.
Eles tornaram evidente o que era previsível.
O
jornalismo militante se tornou marqueteiro do PT.
Na entrevista contra
Bolsonaro, porque foi isso o que aconteceu, a ordem da Globo era fazê-lo
sair do estúdio num ataúde político.
No entanto, o presidente saiu mais
vivo do que antes e a empresa tão reprovada e relegada por sua antiga
audiência quanto vem fazendo questão de se tornar.
Dois dias
mais tarde, a mesma Globo descalçou as chuteiras, vestiu as sandálias da
humildade franciscana e entrou direto na campanha de Lula. William
Bonner só faltou vestir estola sacerdotal, conceder a Lula absolvição
plenária e enunciar um solene “Vai em paz e não tornes a pecar”.
O jogo
eleitoral será muito pesado porque a política ficou assim desde que
esquerda encontrou um opositor disposto a enfrentá-la e a derrotou nas
urnas.
Tudo que veio depois de 2019 é consequência.
A agressividade
entre os participantes da disputa, portanto, é mera continuidade e veio
para ficar.
Não foi trazida nem provocada por Bolsonaro pois sendo o
alvo natural de todos, é o menos interessado nela.
Surpresa
Zero, também, no debate da Band. O que realmente esteve deslocado no
evento foi a performance dos jornalistas que dirigiram perguntas aos
candidatos. Fosse quem fosse o interrogado, a questão proposta era um
libelo acusatório ao presidente para ser comentado pelo oponente da vez.
Nada
incomum para quem acompanha o noticiário. Qual tem sido a tarefa
cotidiana das redações?
Quatro anos disso e ninguém mais sabe fazer o
básico da profissão. Virou vício.
Então, algo importante como um debate
presidencial vira instrumento para a repetição de chavões, etiquetas e
narrativas decoradas e já vulgarizadas pela oposição. É como se o
jornalismo, que já era militante, prestasse serviço aos marqueteiros do
candidato que não pode sair à rua.
Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,
empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores
(www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país.
Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia;
Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.