No fim de semana a imprensa recorda o rio de lama que escorreu da
participação das empreiteiras na construção ou remodelação dos estádios
de futebol para a copa do mundo de 2014. Dezenas de bilhões de reais
foram superfaturados e roubados dos cofres públicos, com a
correspondente distribuição de propinas para governantes, políticos e
empresários.
Erigiram-se monumentos à ignorância nacional. Nem ao menos
ganhamos a competição, pois oferecemos ao mundo um dos maiores vexames
esportivos de todos os tempos. Pior ficou no fim de tudo, com os
estádios vazios e inócuos, servindo de homenagem ao desperdício de
recursos imprescindíveis ao nosso desenvolvimento. Os bilhões poderiam
ter sido utilizados na implantação de hospitais, universidades e centros
de pesquisa. O governo deu de ombros quando lhe caberia, ao menos,
adaptar esses imensos elefantes brancos para finalidades paralelas que,
longe de ser subsidiárias e supérfluas, teriam se tornado em principais
aplicações necessárias.
Por que não transformaram em alternativas sociais o Maracanã remodelado,
o Mané Garrincha, a arena da Amazônia e os demais palácios? No fins
de semana, futebol, mas nos demais dias, salas de aula, bibliotecas,
laboratórios, enfermarias e auditórios destinados a ampliar o saber de
uns ou a minorar agruras de outros? Adaptações poderiam ter sido feitas
durante o início das obras, mas, mesmo depois, valeria o investimento.
Em especial se em vez da roubalheira e da distribuição de propinas e
comissões agora reveladas.
No primeiro governo de Leonel Brizola, no Rio, graças também a Darcy
Ribeiro e a Oscar Niemeyer, em poucos meses construiu-se o Sambódromo,
que desde então abriga os espetaculares desfiles das Escolas de Samba.
Só que durante o ano inteiro as instalações funcionam como outro tipo de
escolas, frequentadas por centenas de crianças. Além de terem sido
abertos montes de vagas para professores.
Voltando aos
tempos de hoje, quem pagou a farra dos estádios exclusivos, tão a gosto
das empreiteiras? Os governos estaduais subsidiados pelo governo
federal, quer dizer, a população através de seus impostos. Ainda haveria tempo, caso houvesse arrependimento e disposição por parte
das autoridades e das elites. Ou já se esqueceram das parcerias
público-privadas e da participação do capital particular na tarefa de
retomar o crescimento? Não faltariam grupos interessados em implantar
universidades ou em investir na saúde, subsidiados pelo BNDES e
sucedâneos, claro que dessa vez voltados para servir à população.
Falta imaginação aos detentores do poder, principalmente quando se trata
de corrigir erros. Os monumentos à ignorância bem que poderiam ser
transformados em bens a serviço da sociedade, até financiados com as
multas que as empreiteiras se comprometem pagar. Se nada disso der
certo, se as sugestões que a lógica indica forem obstadas pela burrice
que assola o país, fica pelo menos a opção de transformar os estádios em
penitenciárias para abrigar os ladrões da coisa pública. O diabo é que
talvez não bastem…
Fonte: Carlos Chagas
[incompetência não houve; não foi por não saber que fizeram a coisa tão mal feita e de tão dificil adaptação para uso em outras atividades úteis à população.
Houve sim, o interesse, escudado na má-fé, de permitir gastos grandiosos em obras inúteis (os 7 x 1 que a Alemanha enfiou no Brasil e de extrema eloquência) e deixar as portas abertas para que no futuro sejam realizadas novas obras - fontes inesgotáveis de corrupção - para construir o que realmente o Brasil precisa.]