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domingo, 3 de setembro de 2023

Darcy Ribeiro não deixaria André Mendonça citar seu nome em vão - O Globo

O ministro André Mendonça levou dois dias para ler seu voto a favor do marco temporal. A tese inexiste na Constituição, mas está em debate no Supremo. Se aprovada, pode inviabilizar a demarcação de terras indígenas no país. [pergunta aos que defendem terra e mais terra para indígenas; Que eles vão fazer com tanta terra?
Situação atual - eventual derrubada do MARCO TEMPORAL, provocará aumento exponencial das terras indígenas, já que toda Copacabana e metade da cidade de São Paulo, podem ser reivindicadas pelos indígenas - APENAS DOIS EXEMPLOS DO DESASTRE. (ee como ficam os direitos humanos dos milhões de brasileiros, tão brasileiros quanto os indígenas, que não dispõem de míseros 50m² para construir um barraco no qual chegam a morar 10 pessoas?  
DIVIDAM o total de hectares classificados como terras indígenas pelo número de indígenas e verão que caberá a cada um algo em torno de 4.000 hectares/índio = cada índio não cultiva sequer um hectare.]

A opinião do ministro “terrivelmente evangélico” não surpreendeu. Ele foi indicado por um presidente que hostilizou os povos originários e incentivou a mineração ilegal em seus territórios. Ainda assim, houve espanto quando Mendonça citou aliados da causa indígena para defender o contrário do que eles pregavam.

A principal vítima do truque foi Darcy Ribeiro, mencionado nove vezes em 203 páginas de voto. Morto em 1997, o antropólogo não pode pedir direito de resposta. Mas é seguro dizer, com base em suas próprias palavras, que ele não deixaria barato.“O que os índios pedem? A garantia da posse tranquila das terras, das matas, das águas onde eles vivem. E o direito de de viver segundo seus costumes”, sintetizou Darcy em 1991, em entrevista na TV Cultura.

“Eles estão a nos dizer, desde sempre: só queremos um pedaço da muita terra que tínhamos, porque a necessitamos para sobreviver”, escreveu cinco anos depois, em artigo na Folha de S.Paulo. [um 'pedaço', só um 'pedaço'; um pedaço de milhares de hectares para cada indígena.]

Em 1995, o antropólogo foi à tribuna do Senado e relatou um diálogo com o cacique Juruna, a quem definiu como muito inteligente. “Um dia ele me perguntou: ‘Darcy, quem é que inventou o papé?’ Tentei explicar como se fabrica papel, com madeira. Ele disse: ‘Não, papé de verdade’, acrescentando: ‘A gente está lá, sempre esteve lá, chega um com o papé e é o dono’.”

“Observem o agudo sentido do Juruna para perceber a força cartorial, a força burocrática, que permite a alguém criar concessões de terras sem limites para quem nunca as viu, expulsando de lá quem as cultiva desde sempre. O Brasil é feito, em grande parte, dessa realidade”, emendou.

No livro “O Brasil como problema”, de 1990, Darcy expôs a hipocrisia por trás das críticas às demarcações. “Pessoas que não se preocupam com o fato de que particulares tenham propriedades de até um milhão de hectares, que mantêm inexploradas numa operação puramente especulativa, não estão dispostas a dar aos índios aquilo que é a condição de sua sobrevivência: terras que a nossa Constituição reconhece que são deles. Para isso, estão dispostos a levá-los ao extermínio. Essa postura corresponde à pior tradição brasileira”.[lembramos ao ilustre repórter, que só lembra o que lhe convém, que o comentário do antropólogo foi expelido em 1990, época em que até havia algumas terras improdutivas nas mãos de brasileiros não indígenas; atualmente, as terras improdutivas que estão nas mãos dos indígenas.]

Na ausência do professor, a Fundação Darcy Ribeiro se manifestou sobre o julgamento em curso no Supremo. Para a entidade, que guarda o acervo do antropólogo, o marco temporal é uma “tese anti-indígena” porque significa “a negação do direito mais fundamental aos povos indígenas: o direito à terra”. A nota foi divulgada em junho, dois meses antes do voto de Mendonça.

Vai piorar
Quem se irritou com Nunes Marques e André Mendonça deve preparar o espírito para ouvir Gilmar Mendes. Na quinta-feira, em aparte a um colega, o supremo ministro defendeu o garimpo em terras indígenas.  
Como decano da Corte, ele será o penúltimo a votar sobre o marco temporal. O julgamento deve ser retomado no dia 20. [para felicidade de milhões de brasileiros que não dispõem de terra nem para construir um barraco de míseros 50m², os que tem um são muitas vezes obrigados a 'enfiar' dez pessoas dentro para dormir, o STF não vai aprovar a extinção do o MARCO TEMPORAL.
E, se extinguir, logo o Congresso promulgará uma Lei recriando,
 e com avanços a favor dos brasileiros não indígenas e que precisam de terra pelo menos para construir um barraco para morar com sua família.] 
 
Bernardo M. Franco, jornalista - O Globo 
 

domingo, 15 de abril de 2018

Lula não é o marechal Philippe Pétain


Quando ex-presidente vive rotina semelhante à de um marechal usurpador, alguma coisa está errada


Passará o tempo e o regime carcerário imposto a Lula deixará um travo amargo na memória nacional. Algo semelhante ao que resultou do embarque da família imperial para o exílio no meio de uma noite chuvosa, ou a ordem para que o caixão com o corpo de João Goulart percorresse os 180 quilômetros da fronteira argentina a São Borja, sem paradas no caminho.  Lula é um ex-presidente da República. [lembrando sempre que antes de tudo é um malfeitor condenado por NOVE JUÍZES e encarcerado com o aval de SEIS ministros do STF.] Está sozinho numa sala com cama, mesinha e banheiro. Não pode deixá-la e para se comunicar com os carcereiros deve bater na porta. À primeira vista deram-lhe uma regalia, pois está muito melhor que os detentos do sistema penal brasileiro. 

As condições da solitária-light de Lula assemelham-se ao regime imposto na França de 1945 ao marechal Philippe Pétain. Ele traíra seu país e presidira uma ditadura pró-nazista. Foi condenado à morte, teve a sentença comutada e morreu no cárcere, em 1951.
Indo-se para um exemplo brasileiro, Lula está num regime muito pior que aquele vivido em 1969 por Darcy Ribeiro, ex-chefe da Casa Civil de João Goulart. Ele ficou preso no Batalhão de Comando do Corpo de Fuzileiros Navais, no Rio.  Darcy ficava num quarto iluminado e espaçoso. Fazia suas refeições e via a novela “Nino, o Italianinho" com os oficiais. Podia conviver com outros presos e, depois do expediente, circulava no pavilhão onde estava seu alojamento. Pelas paixões da época, Darcy era detestado, uma espécie de José Dirceu de Jango. 

A prisão de Darcy havia sido ordenada pelo auditor Oswaldo Lima Rodrigues, que mandou-o para o Corpo de Fuzileiros Navais, comandado pelo almirante Heitor Lopes de Souza, um militar duro e direto a ponto de ter ganho o apelido de “Cabo Heitor”. Suas simpatias pelos janguistas, a quem chamava de “gregórios”, eram nulas.  Não havia emoções políticas no tratamento dado a Darcy, apenas uma espécie de cavalheirismo. Nessa época, a poucos quilômetros de distância, a Marinha institucionalizara a tortura de presos, massacrando jovens do MR-8. Lula passa os dias só, trancado. Sem muito esforço, a Polícia Federal, o Ministério Público e o juiz Sergio Moro podem redesenhar esse regime carcerário, sem estimular um circo petista.

Moro seguiu o manual. Em 1889 não existia protocolo para o embarque de um imperador deposto e em 1976 improvisou-se uma regra para o transporte de um ex-presidente morto. Nos dois casos os donos do poder fizeram o que achavam certo para a hora, sem perceber que estavam numa esquina da História.  Lula é um ex-presidente da República, levado ao poder pelo voto popular. Quando ele vive numa rotina semelhante à de um marechal usurpador e colaboracionista, alguma coisa está errada.

A PROVA HOROSCÓPICA DE RODRIGO JANOT
Uma amostra do grau da insanidade que foi injetada nas denúncias do ex-procurador-geral Rodrigo Janot.
Em 2015 a presidente Dilma Rousseff e a marqueteira Mônica Moura passaram a se comunicar por meio de um dissimulado sistema de mensagens eletrônicas dentro do endereço 2606iolanda@gmail.com.
Segundo Janot, “2606” é uma referência “à data de 26 de junho de 1968, em que o grupo Vanguarda Popular Revolucionária, integrado por Dilma Rousseff, praticou um atentado com carro-bomba em um quartel em São Paulo, durante a ditadura militar”.
Em junho de 1968 Dilma Rousseff não era militante da VPR. Ela estava no Comando de Libertação Nacional, o Colina. A prova horoscópica de Janot relacionou o “2606” ao atentado em que um grupo de terroristas matou o soldado Mário Kozel Filho em São Paulo. Tudo bem, mas naquele mesmo dia realizou-se no Rio a “Passeata dos Cem Mil”. Janot também poderia dizer que era uma homenagem a Gilberto Gil, pois é a data de seu nascimento.
Depois do realismo mágico, Janot expôs a prova mágica.
.
(...)
 
LULA E A VERDADE
Quem se der ao trabalho de ler a íntegra do discurso de Lula antes de se entregar à Polícia Federal verá que pela primeira vez ele reconheceu publicamente a derrota da greve que comandou em 1980.
Nas suas palavras:
“Ninguém aguentou 41 dias porque na prática o companheiro tinha que pagar leite, tinha que pagar a conta de luz, tinha que pagar gás, a mulher começou a cobrar o dinheiro do pão, ele então começou a sofrer pressão e não aguentou. Mas é engraçado porque na derrota a gente ganhou muito mais sem ganhar economicamente do que quando a gente ganhou economicamente. Significa que não é dinheiro que resolve o problema de uma greve, não é 5%, não é 10%, é o que está embutido de teoria política de conhecimento político e de tese política numa greve.
Agora, nós estamos quase que na mesma situação. Quase que na mesma situação.”

Tradução: Lula acha que transformará a derrota da condenação numa vitória. A ver.

(...)

A CARAVANA
Lula tem todo o direito de dizer que não é mais um ser humano, pois se transformou numa ideia, mas foi Temer quem zerou a fila do Bolsa Família, que chegou a ter 6 milhões de pessoas na espera e reajustou o benefício acima da inflação.  Hoje o programa atende 14,3 milhões de famílias, 160 mil acima do recorde de 2014.

Elio Gaspari, jornalista 


 

domingo, 29 de novembro de 2015

A transformação dos monumentos à ignorância - ainda que em presídios para abrigar os ladrões do dinheiro público

No fim de semana a imprensa recorda o rio de lama que escorreu da participação das empreiteiras na construção ou remodelação dos estádios de futebol para a copa do mundo de 2014. Dezenas de bilhões de reais foram superfaturados e roubados dos cofres públicos, com a correspondente distribuição de propinas para governantes, políticos e empresários. 
Erigiram-se monumentos à ignorância nacional. Nem ao menos ganhamos a competição,  pois oferecemos ao mundo um dos  maiores vexames esportivos de todos os tempos. Pior ficou no fim de  tudo, com os estádios vazios e inócuos, servindo de homenagem ao desperdício de recursos imprescindíveis ao nosso desenvolvimento. Os bilhões poderiam ter sido utilizados na implantação de hospitais, universidades e centros de pesquisa. O governo deu de ombros quando lhe caberia, ao menos, adaptar esses imensos elefantes brancos para finalidades paralelas que, longe de ser subsidiárias e supérfluas, teriam se tornado em principais aplicações necessárias.
Por que não transformaram em alternativas sociais o Maracanã remodelado, o Mané Garrincha, a arena da Amazônia e os demais palácios?   No fins de semana, futebol, mas nos demais dias, salas de aula, bibliotecas,  laboratórios, enfermarias e auditórios destinados a ampliar o saber de uns ou a minorar agruras de outros? Adaptações poderiam ter sido feitas durante o início das obras, mas, mesmo depois, valeria o investimento. Em especial se em vez da roubalheira e da distribuição de propinas e comissões agora reveladas.
No primeiro governo de Leonel Brizola, no Rio, graças também a Darcy Ribeiro e a Oscar Niemeyer, em poucos meses construiu-se o Sambódromo, que desde então abriga os espetaculares desfiles das Escolas de Samba. Só que durante o ano inteiro as instalações funcionam como outro tipo de escolas, frequentadas por centenas de crianças. Além de terem sido abertos montes de vagas para professores.
Voltando aos tempos de hoje, quem pagou a farra dos estádios exclusivos, tão a gosto das empreiteiras? Os governos estaduais subsidiados pelo governo federal, quer dizer, a população através de seus impostos. Ainda haveria tempo, caso houvesse arrependimento e disposição por parte das autoridades e das elites. Ou já se esqueceram das parcerias público-privadas e da participação do capital particular na tarefa de retomar o crescimento? Não faltariam grupos interessados em implantar universidades ou em investir na saúde, subsidiados pelo BNDES e sucedâneos, claro  que dessa vez  voltados para servir à população.
Falta imaginação aos detentores do poder, principalmente quando se trata de corrigir erros. Os monumentos à ignorância bem que poderiam ser transformados em bens a serviço da sociedade, até financiados com as multas que as empreiteiras se comprometem pagar. Se nada disso der certo, se as sugestões que a lógica indica forem  obstadas pela burrice que assola o país, fica pelo menos a opção de transformar os estádios em penitenciárias para abrigar os ladrões da coisa pública. O diabo é que talvez não bastem…
Fonte: Carlos Chagas 
[incompetência não houve; não foi por não saber que fizeram a coisa tão mal feita e de tão dificil adaptação para uso em outras atividades úteis à população.
Houve sim, o interesse, escudado na má-fé,  de permitir gastos grandiosos em obras inúteis (os 7 x 1 que a Alemanha enfiou no Brasil e de extrema eloquência)  e deixar as portas abertas para que no futuro sejam realizadas novas obras - fontes inesgotáveis de corrupção - para construir o que realmente o Brasil precisa.]