Instituto espera até o final desta semana a confirmação do ministério sobre o segundo lote de 54 milhões de doses da vacina que produz. Caso não haja aceno da pasta para a obtenção, imunizantes serão vendidos a países vizinhos, que manifestaram intenção de compra
Depois de firmarem contrato, no início do ano, para o fornecimento de 46 milhões de doses da CoronaVac, o Ministério da Saúde e o Instituto Butantan vivem um novo capítulo da relação conturbada entre o governo federal e o de São Paulo. A instituição de pesquisa, que produz a vacina desenvolvida pela Sinovac no Brasil, cobra uma resposta da pasta para o lote adicional de 54 milhões de doses, que foi oferecido no primeiro acordo assinado entre os dois entes públicos. Caso não haja manifestação do ministério, o Butantan exportará os imunizantes a países da América Latina que anunciaram interesse.
Mesmo com o documento, Covas disse que “está na hora de
decidir”. “Não tivemos nenhum aceno (do governo federal). Isso me
preocupa um pouco. Se demorarmos, não vamos conseguir ampliar esse
número”, afirmou. Ele enviou um ofício, na última sexta-feira,
solicitando a manifestação da pasta sobre o lote com 54 milhões de
doses. “Aguardo até o final desta semana uma resposta, porque,
na semana que vem, eu vou fechar os contratos com os países, começando
pela Argentina. Então, vai ser importante que haja essa manifestação
para que, lá na frente, não possa alegar que não houve de fato essa
oferta, e a oferta está sendo feita, via contrato, via ofício e de
público”, disse.[outro disparate: parte da mídia informa que a Argentina vai começar a produzir vacina da Oxford em grande escala, para venda a países da América Latina. Ao mesmo tempo, o ainda diretor do Butantan,diz que vai vender vacinas CoronaVac para a Argentina.!!!]
Covas frisou que o Butantan tem compromisso com outros países, que estão cobrando cronograma. “Se houver resposta positiva do ministério, vamos fazer um planejamento para ter 54 milhões de doses adicionais, mais 40 milhões dos países vizinhos. Não havendo a manifestação do ministério, vamos dirigir nossa produção para atender aos países, inclusive com possibilidade de aumentar a oferta de vacina, porque a demanda é grande”, afirmou.
Mesmo sem manifestar interesse, o ministério conta com o lote de 54 milhões de doses nas apresentações feitas por secretários e pelo próprio ministro Eduardo Pazuello. Na última terça-feira, a coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI), Francieli Fantinato, informou ter um contrato com o Butantan para 100 milhões de doses durante uma live técnica para dar orientações aos profissionais de saúde sobre a operacionalização da vacinação contra a covid-19.“Fizemos um contrato com o Instituto Butantan para a aquisição de 100 milhões de doses, sendo 46 milhões para o primeiro semestre (...) e os 54 milhões de doses que estão aqui elencadas para o segundo semestre, provavelmente a partir de maio”, disse. Pazuello também já falou na contratação dos 100 milhões de doses, anunciados por ele em entrevista, em 7 de janeiro.
Vacina de uma só vez
O governo de São Paulo quer adiar a aplicação da segunda dose da vacina CoronaVac, com a intenção de imunizar mais pessoas neste primeiro momento, contrariando o que está previsto na bula do imunizante e a recomendação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que é seguir sempre o estabelecido na prescrição do fabricante. O documento, elaborado pelo Instituto Butantan, com base nos estudos realizados, prevê que a segunda dose deve ser aplicada em um intervalo de 14 a 28 dias.
No estado, a previsão é que seja aplicada a segunda dose em 28 dias. A intenção é aumentar mais 15 dias, indo para 43 o intervalo entre uma dose e outra, conforme informou, ontem, o diretor do Butantan, Dimas Covas. Ele afirmou que existe uma segunda recomendação que prevê que o prazo pode ser estendido por até 15 dias. “No estudo, aconteceram alguns casos que tiveram essa vacinação e não houve nenhum problema do ponto de vista da resposta imunológica”, garantiu.
A preocupação de Covas é com a alta demanda pelo
imunizante, afirmando não ser “eticamente justificável” guardar metade
das doses enquanto tantos precisam ser imunizados. “Se temos a vacina na
prateleira, temos do outro lado pessoas morrendo; precisamos usar essas
vacinas”, explicou, mesmo contrariando a prescrição do próprio
Butantan.[será que essa diretor não consegue entender que adiando em 15 dias o prazo máximo - atrasando em mais de 50% a aplicação da segunda dose - coloca em sério risco a manutenção da imunidade adquirida e aumenta de forma perigosa, o risco de que os já vacinados voltem a precisar recomeçar todo o processo - aí estaremos cuidando de milhões de brasileiros que tiveram o infortúnio de serem vacinados pela CoronaVac - o infortúnio deriva da ideia absurda apresentada pelo senhor Dimas.]
Em texto divulgado no site no último dia 22, a instituição diz que o estudo para testar a eficácia da CoronaVac, produzida em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac, apontou que “a melhor resposta imune acontece no maior intervalo de tempo entre a aplicação das duas doses — entre 21 e 28 dias”. O instituto ainda diz que, no estudo, “a maioria das vacinas foi aplicada no intervalo de 0 a 14 dias devido à situação emergencial da população envolvida”.
“Dos cerca de 13 mil voluntários que participaram do estudo no Brasil, 1.400 receberam suas doses com um intervalo de três semanas. A resposta imune desse grupo foi cerca de 20% melhor do que a observada nos demais participantes da pesquisa”, informou. Na última quinta-feira, o instituto também apontou que não seria possível saber a resposta imune dos pacientes se o intervalo entre uma dose e outra for prolongado.
Para que a mudança na aplicação aconteça, é preciso de uma manifestação formal do Programa Nacional de Imunização (PNI) para ajustar a orientação. O governador João Doria disse que o governo estadual enviaria solicitação ao Ministério da Saúde e ao coordenador do PNI ainda ontem. Na semana passada, o gerente-geral de Medicamentos e Produtos Biológicos da Anvisa, Gustavo Mendes, ressaltou que não seguir o que está na bula pode atrapalhar a eficiência da vacina. Ele explicou que não há uma sanção específica no caso do descumprimento, mas que a recomendação é seguir o que a bula determina. “Há expectativa que se cumpra os requisitos”, disse.[a sanção que pode existir é a mais severa: eventual perda da imunidade do vacinado com atraso.]
Correio Braziliense