Esquerda atrelou o destino ao de um homem na cadeia, supondo que estava repetindo a história de Mandela
Manifestações
dos leitores são um estímulo para avançar um pouco nesse oceano de
emoções eleitorais. Alguns acham que trato de temas etéreos, que não
interessam agora. Outros, que sou condescendente com Bolsonaro. Talvez
as pessoas estranhem que me dedique a um cenário pós-eleitoral, pois
acho que o resultado do segundo turno é relativamente previsível. Os que
me acusam de condescendente não percebem que estou tentando transferir
uma experiência de relação com Bolsonaro para oferecer, se não uma
tática, elementos de uma tática para o futuro próximo.
Minha
experiência é de quem defendeu no Parlamento bandeiras que Bolsonaro
ataca. As frases preconceituosas que ele eventualmente dizia são as
mesmas que ouvimos nas ruas de todo o Brasil. Minha relação com
ele era de alguém que representava minorias, que até hoje apoio, com
alguém que, no meu entender, estava mais perto do espírito majoritário
das ruas. Um ponto de convergência foi a luta contra a corrupção.
Aliás, foi essa luta, que me permitiu disputar
com alguma chance eleições majoritárias.
Minha atitude não foi
a de rotular de fascista, misógino, racista ou homofóbico, mas
compreender que, por baixo dessas reações populares, existe uma
insegurança sobre as mudanças culturais, e é preciso buscar avanços que
não provoquem um retrocesso maior. Discussões embaixo nível no Congresso
contribuem para abrira Caixa de Pandora na sociedade. Hoje,
infelizmente, está aberta. O primeiro ponto de contato para
enfrenta ra maioria, portanto, é afirmar que movimentos minoritários e
culturais não precisam ser coniventes coma corrupção dos partidos de
esquerda, ter vínculos com o poder, nem depender financeiramente dele.
Delicado também será enfrentar a política ambiental de Bolsonaro, que
pretende fundir os ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente.
Compreendo
que existam interfaces entre agricultura e meio ambiente. Mas os
problemas ambientais são muito mais amplos: poluição urbana, destinação
do lixo, redução das emissões, e há ainda o mar com seus corais,
esperando uma ampla política de proteção. Um ministro da
Agricultura dificilmente seria capaz de cuidar de todos esses temas.
Bolsonaro afirma que uma de suas missões é acabar coma indústria de
multas do Ibama. É um erro acenar com isso, embora possam existir
multas excessivas ou mal aplicadas. O ideal seria uma política de
preparação dos próprios agricultores para que pudessem produzir nas
condições mais amigáveis ao meio ambiente.
Isso não é um
argumento apenas ecológico, no sentido de preservara produção alongo
prazo. As regras internacionais são cada vez mais exigentes: é também
uma questão econômica. Não pensem que não tenho consciência do
enorme trabalho que teremos. Desde o princípio, afirmei que a tática da
esquerda estava errada. Além de não reconhecer seus erros, atrelou o
destino ao de um homem na cadeia, supondo que estava repetindo a
história de Mandela.
Ao atrelar o destino a Lula, o PT escolheu o
caminho mais difícil. E a esquerda saiu dividida. Ciro talvez fosse um
pouco mais competitivo. Ainda assim, a onda era muito forte. Isso
tudo é passado. Estamos quase no meio do segundo turno. As grandes
escolhas foram feitas. Não criei essa situação. Forças poderosas
estiveram em choque. É razoável que, prevendo o desfecho da batalha,
comece a olhar para a frente, tentando desvendar, a partir da
experiência, uma fórmula de lidar com o poder emergente. Claro
que, nos embates que nos esperam, outras posições vão surgir. Creio ter
aprendido alguma coisa coma eleição de Donald Trump. Ali ficou claro que
era preciso rever a tática, pois as críticas acusatórias só o faziam
crescer.
Muita gente se disse surpreendida com o que aconteceu
nas eleições. Algumas surpresas sempre acontecem. Mas quantos não
quiseram ver, por achar que as coisas estavam se desenrolando de uma
forma que não lhes agradava. Bolsonaro era recebido por pequenas
multidões nos aeroportos. Falava de luta contra a corrupção e, embora
alguns concordem, foi ele que percorreu o Brasil defendendo-a.
Bolsonaro
falava de segurança pública, e não houve um programa de segurança
alternativa contra o seu. Vi seu crescimento e notei como os ataques o
fortaleciam. Só me resta agora segurar a onda do jeito que aprendi. Não significa que esteja certo. Apenas uma voz.
Fernando Gabeira - O Globo
Este espaço é primeiramente dedicado à DEUS, à PÁTRIA, à FAMÍLIA e à LIBERDADE. Vamos contar VERDADES e impedir que a esquerda, pela repetição exaustiva de uma mentira, transforme mentiras em VERDADES. Escrevemos para dois leitores: “Ninguém” e “Todo Mundo” * BRASIL Acima de todos! DEUS Acima de tudo!
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segunda-feira, 15 de outubro de 2018
Novos tempos, nova tática
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