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sexta-feira, 17 de junho de 2016

Um salto sem paraquedas



O que disse Machado arranhou a imagem de Temer e foi muito ruim para ele, mais ainda dada às circunstâncias
Um político precisa ser descuidado, inexperiente ou plenamente convencido de sua inocência para dizer como disse, ontem, o presidente em exercício Michel Temer:  - Alguém que teria cometido aquele delito que o cidadão [Sérgio Machado] mencionou não teria condições de governar o país.

Descuidado, Temer não costuma ser. Inexperiente, definitivamente não é. Então deve ter certeza de que nunca pediu a Sérgio Machado, na época presidente da Transpetro, dinheiro lícito ou ilícito para pagar despesas de campanha de Gabriel Chalita, candidato a prefeito de São Paulo em 2012.  Foi o que Machado, em delação à Lava-Jato, disse que ele fez quando se reuniram numa sala reservada da Base Aérea de Brasília em setembro daquele ano. À Eliane Cantanhêde, colunista do jornal O Estado de S. Paulo e comentarista da Globo News, Temer acrescentou em sua defesa: – Você acha que eu preciso de intermediários para falar com empresário, para pedir doação de campanha para a empresa X, Y ou Z? Ainda mais de um sujeitinho [ Machado] como esse?

Temer admitiu a Cantanhêde que recebeu Machado, pelo menos uma vez, no gabinete de vice-presidente e no Palácio do Jaburu, aonde mora quando está em Brasília. E que, de fato, vez ou outra, para ganhar tempo, mantém conversas na Base Aérea. Mas disse que não se lembra do encontro mencionado por Machado 2012.  A Aeronáutica informou que não tem mais os registros de entradas e saídas de pessoas da Base Aérea justamente naquele ano. Por ora, então, fica a palavra de Temer (de que não pediu dinheiro a Machado) contra a palavra do delator (que não apresentou provas de que ele lhe pediu dinheiro). Com algumas diferenças, a saber:

* Machado é réu confesso. Roubou e deixou que roubassem;
* Temer não é;
* Machado diz que tem como provar que ele e Temer se reuniram na Base Aérea de Brasília em setembro de 2002;
* Temer diz que não se lembra de tal encontro. Por não lembrar, portanto, não descarta que ele tenha ocorrido;
* Machado arrisca-se a perder os benefícios da delação premiada caso tenha mentido sobre Temer ou sobre qualquer outra coisa que contou aos procuradores da Lava-Jato;
* Temer, como de resto qualquer pessoa, não é obrigado a falar a verdade se ela puder resultar na produção de provas contra si.

É razoável o argumento de Temer de que como vice-presidente da República e presidente de um partido importante como o PMDB, ele não precisasse pedir a ninguém, muito menos a uma pessoa como Machado com a qual só mantinha relações formais, para interceder junto a empresas capazes de ajudar a pagar despesas de campanhas.

Mas o contrário não seria de todo absurdo. Foi o senador Waldir Raupp (PMDB-RO), segundo Machado, que o avisou sobre a preocupação de Temer com a falta de dinheiro para eleger Chalita. Sabendo disso, Machado, que devia o emprego na Transpetro a senadores do PMDB, pode ter procurado Temer para oferecer ajuda.

Por falta de testemunhas da suposta conversa de Temer com ele na Base Aérea, Machado até poderá provar que a reunião dos dois existiu, mas não provará que Temer lhe pediu dinheiro. De todo modo, o que disse Machado arranhou a imagem de Temer e foi muito ruim para ele, mais ainda dada às circunstâncias. Doravante, qualquer bala perdida da Lava-Jato que o atinja poderá ser mortal para Temer.

Fonte: Blog do Noblat – Ricardo Noblat