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sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Haddad faz jogo duplo e sujo - no palanque a favor dos pobres, entre quatro paredes garante que vai governar com o mercado: mais ferro nos pobres

Haddad em busca da bênção do mercado

Fernando Haddad desenvolveu dois discursos econômicos para tentar se cacifar para o segundo turno das eleições. O primeiro, elaborado pelos petistas Marcio ­Pochmann e Guilherme Mello, ambos da Unicamp, consta de seu programa de governo e prevê as chamadas medidas “antimercado” o que inclui a revogação da reforma trabalhista e da PEC do teto de gastos, o uso de reservas internacionais para investimento público, o aumento da tributação aos bancos e a instauração de referendos para definir questões como o regime de participação da Petrobras no pré-sal. A tônica é clara: “Os ricos pagarão o preço”.

A portas fechadas com empresários, porém, Haddad tem demonstrado mais moderação. Nas últimas semanas, sozinho ou com interlocução de Guilherme Mello ou do economista Nelson Barbosa, ex-ministro de Dilma Rousseff, ele tem procurado integrantes do setor financeiro e empresários, a quem diz entender que um governo altamente endividado não consegue “governar contra o mercado” e que, se ganhar, terá de empreender reformas para estabilizar o déficit fiscal. A reforma da Previdência, à qual o PT historicamente se opõe, poderia ser empacotada de forma a convencer seus eleitores de que não foram alvo de um estelionato eleitoral. Segundo dirigentes petistas, o ônus de uma reforma feita por Haddad recairia principalmente sobre as categorias mais altas do funcionalismo, para que o partido consiga manter o discurso de “combate a privilégios”

No caso da reforma trabalhista, o petista tem dito em público que proporá uma revogação completa, mas já reconhece, internamente, que será difícil angariar apoio no Congresso para aprová-la no primeiro ano, diante do tamanho reduzido da base política da sigla.
Quando questionado sobre quem seria seu ministro da Fazenda, Haddad desconversa e diz que a decisão será tomada em conjunto com Lula. A influência do ex-­presidente na campanha tem sido encarada pelo mercado como um ponto positivo. A avaliação é que Lula é, antes de tudo, um pragmático, e seus conselhos deverão se sobrepor aos da base petista. As andanças de Haddad, contudo, ainda não surtiram efeito: ele continua sendo, aos olhos do PIB, a aposta mais arriscada das eleições, ao lado de Ciro Gomes, que reza por uma cartilha semelhante para a economia.


Ana Clara Costa - Veja