Haddad em busca da bênção do mercado
Fernando
Haddad desenvolveu dois discursos econômicos para tentar se cacifar para o
segundo turno das eleições. O primeiro, elaborado pelos petistas Marcio Pochmann
e Guilherme Mello, ambos da Unicamp, consta de seu programa de governo e prevê
as chamadas medidas “antimercado” — o que inclui a revogação da reforma
trabalhista e da PEC do teto de gastos, o uso de reservas internacionais para
investimento público, o aumento da tributação aos bancos e a instauração de
referendos para definir questões como o regime de participação da Petrobras no
pré-sal. A tônica é clara: “Os ricos pagarão o preço”.
A portas
fechadas com empresários, porém, Haddad tem demonstrado mais moderação. Nas
últimas semanas, sozinho ou com interlocução de Guilherme Mello ou do
economista Nelson Barbosa, ex-ministro de Dilma Rousseff, ele tem procurado
integrantes do setor financeiro e empresários, a quem diz entender que um
governo altamente endividado não consegue “governar contra o mercado” e que, se
ganhar, terá de empreender reformas para estabilizar o déficit fiscal. A
reforma da Previdência, à qual o PT historicamente se opõe, poderia ser empacotada
de forma a convencer seus eleitores de que não foram alvo de um estelionato
eleitoral. Segundo dirigentes petistas, o ônus de uma reforma feita por Haddad
recairia principalmente sobre as categorias mais altas do funcionalismo, para
que o partido consiga manter o discurso de “combate a privilégios”.
No caso da
reforma trabalhista, o petista tem dito em público que proporá uma revogação
completa, mas já reconhece, internamente, que será difícil angariar apoio no
Congresso para aprová-la no primeiro ano, diante do tamanho reduzido da base
política da sigla.
Quando
questionado sobre quem seria seu ministro da Fazenda, Haddad desconversa e diz
que a decisão será tomada em conjunto com Lula. A influência do ex-presidente
na campanha tem sido encarada pelo mercado como um ponto positivo. A avaliação
é que Lula é, antes de tudo, um pragmático, e seus conselhos deverão se
sobrepor aos da base petista. As andanças de Haddad, contudo, ainda não
surtiram efeito: ele continua sendo, aos olhos do PIB, a aposta mais arriscada
das eleições, ao lado de Ciro Gomes, que reza por uma cartilha semelhante para
a economia.
Ana Clara
Costa - Veja