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sábado, 17 de junho de 2023

O lado oculto do 8 de janeiro - Revista Oeste

Silvio Navarro - Rute Moraes

Governo blinda o ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, barra quebra de sigilo e dá sinais de que esconde algo sobre os ataques em Brasília

 Luiz Inácio Lula da Silva empossa o general Marco Edson Gonçalves Dias para ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no seu governo, no dia 29 de dezembro de 2022 | Foto: Reuters/Adriano Machado

Nesta semana, a inepta articulação política do governo Lula no Congresso Nacional trabalhou como nunca para impedir a aprovação de um requerimento na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro.  
A pilha com centenas de pedidos de informações, quebras de sigilo e convocações de autoridades foi dividida em três grandes blocos na sessão de terça-feira, 13. Dois foram aprovados. 
O terceiro foi abortado na última hora sob intenso protesto da oposição. Quais informações podem sair desse lote de pedidos é um mistério. 
Mas já se sabe que há algo ali que o governo quer manter em segredo.

O requerimento leva o número 921. Tinha o aval e a assinatura da bancada governista, liderada pelo senador Randolfe Rodrigues (AP). Passaria pela comissão em acordo, já que reúne 63 itens aglutinados, tanto da oposição quanto da situação. O que houve, então, no meio do caminho, e quem determinou a mudança súbita nos planos?


Imagem do Requerimento 921, com assinatura da bancada governista | Foto: Reprodução

A primeira resposta está no Palácio do Planalto. Randolfe recebeu ordens de Lula e do ministro Flávio Dino (Justiça e Segurança Pública) para puxar o freio na comissão
O senador chamou alguns parlamentares à sua casa na manhã de terça-feira, entre eles a relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), Fabiano Contarato (PT-ES) e os deputados Rubens Júnior (PT-MA) e Jandira Feghali (PCdoB-RJ). 
A principal determinação foi que os governistas segurassem o depoimento do general da reserva Marco Edson Gonçalves Dias, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). 
Havia 14 pedidos de convocação dele na pauta da CPMI.
 
Conhecido como “G. Dias”, ele se aproximou de Lula no primeiro mandato, como guarda-costas, e acabou se tornando um dos seus principais conselheiros — sobretudo durante os voos mais longos. Também trabalhou na equipe de segurança de Dilma Rousseff
Em abril, imagens do circuito interno do Palácio do Planalto divulgadas pela emissora CNN colocaram o general na cena dos ataques em Brasília. Houve um terremoto político no frágil governo que acabara de completar cem dias. A versão do general de que estava no local orientando a dispersão dos baderneiros não colou nem na velha mídia. Lula teve de demitir o amigo — o mais rápido ministro a cair em um governo petista até hoje. Foi quando a instalação da CPMI se tornou irreversível.
 

Capa da Revista Oeste, Edição 161. Manifestantes fazem ato contra o governo no dia 8 de janeiro de 2023 | Foto: Joedson Alves/Agência Brasil
O general em seu labirinto
Se a intenção do governo de rifar G. Dias era estancar a sangria, tampouco deu certo. 
Logo em seguida, o jornal O Globo revelou que o general adulterou documentos para apagar alertas, recebidos na véspera, de que Brasília poderia sofrer ataques.
 As digitais do GSI têm potencial para implodir a tese absurda de que o país esteve diante de um iminente golpe de Estado sem tropas nem fuzis.  
Nesta semana, outra fraude veio à tona: segundo o jornal Folha de S.Paulo, ele também tentou esconder essas informações do Congresso, depredado pelos vândalos. 

Por muito menos — pelo menos o que se sabe até agora —, por exemplo, o ex-ministro e secretário de Segurança do Distrito Federal Anderson Torres passou quatro meses na prisão. Muitas pessoas, algumas que desembarcaram em Brasília depois dos ataques, foram obrigadas a usar tornozeleiras eletrônicas, e um indígena segue encarcerado. No próximo semestre, os réus serão julgados pelo Supremo em lotes. Até agora, o general G. Dias só prestou um depoimento à Polícia Federal.

Diante desse cenário, a convocação do general à CPMI era considerada inevitável até o início da sessão — inclusive, porque precisa constar do relatório final, conduzido pela senadora Eliziane Gama. A manobra foi tão escancarada que o presidente da CPMI, Arthur Maia (UB-BA), protestou em entrevista a Oeste nesta semana.  “É um contrassenso total o que o governo fez”, disse. “Quem quer investigar não faz uma manobra dessas. Eles usaram os votos da oposição para aprovar os requerimentos em que tinham interesse e, no momento de aprovar os documentos propostos pela oposição, eles não entregaram os votos.”

O fato é que não é necessária nenhuma análise refinada para entender o que o governo está fazendo: ganhando tempo, como fez desde o começo — a própria instalação da comissão levou três meses. A estratégia é simples: aguardar até que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, avance com os inquéritos sobre o 8 de janeiro — até os parlamentares têm dúvida se são quatro ou seis frentes de investigações abertas. Alexandre de Moraes disse que vai finalizar a papelada em 45 dias. 

A segunda parte da blindagem é coordenada diretamente por Flávio Dino. Ele colocou seis maranhenses na CPMI para defendê-lo. 
Dino não quer fornecer acesso ao circuito interno do Ministério da Justiça, nem o controle de quem entrou ou saiu do prédio ou de quem esteve em um dos anexos. 
O chamado Palácio da Justiça é contíguo ao Palácio do Planalto. 
No dia 8 de janeiro, o ministro chegou a escrever na sua conta no Twitter, às 15h43 — exatamente quando teve início a depredação —, que acompanhava a situação em Brasília de perto. Quando foi chamado à Câmara para falar sobre o assunto, contudo, ele apresentou outra versão e negou que estivesse no seu gabinete.
Em suma, a oposição quer saber se ele estava assistindo aos ataques da janela, como admitiu em entrevista ao Fantástico, da Rede Globo.

Outro motivo de faísca foi o pedido de acesso ao plano de voo do presidente Lula à cidade de Araraquara, no interior paulista, naquele dia. O município, de fato, foi um dos atingidos pelas fortes chuvas na região. Talvez a escolha do destino seja pela amizade de Lula com o prefeito, o petista Edinho Silva, ex-tesoureiro e ministro de Dilma Rousseff. A cidade também é conhecida na política nacional por dois episódios: Edinho comprou respiradores fantasmas do Consórcio Nordeste, adquiridos de uma empresa de maconha, no chamado “Covidão”; e era a residência do hacker da chamada “Vaza Jato” — criminoso que supostamente copiou mensagens da força-tarefa da Lava Jato.

Os requerimentos da oposição na CPMI têm a finalidade de responder a perguntas simples: houve a tradicional inspeção prévia da equipe de segurança da Presidência ao município paulista? 
 Ou foi uma viagem improvisada, às pressas, para que o petista não estivesse em Brasília naquela tarde
Quem estava na aeronave com Lula e com quem ele falou?

Por que a divulgação do simples plano de voo do Força Aérea 1, que decolou do Aeroporto de Congonhas, na capital paulista, às 14 horas e pousou na base aérea da Embraer em Gavião Peixoto (SP), nas cercanias de Araraquara, apenas 34 minutos depois, precisa ser mantida em sigilo? 

É provável que esse documento não contenha nada além de dados formais. Então por que o governo impede o acesso à informação?

“De repente, Lula resolveu fazer uma viagem naquele dia para Araraquara para visitar um aliado político. Ele foi verificar uma obra, um buraco que estava aberto desde dezembro. Queremos mostrar se houve planejamento com a segurança dele, pois já sabiam o que ia acontecer”, afirma o deputado Delegado Ramagem (PL-RJ), ex-chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e autor de alguns dos pedidos de investigação.

Deixa acontecer
A divulgação das imagens pela CNN em abril também jogou luz em outro ponto sobre o dia 8 de janeiro em que o governo se recusa a tocar. 
Um dos pedidos rejeitados na CPMI nesta semana trata do “Plano Escudo” para a defesa do Palácio do Planalto. 
Os vídeos mostram que a tropa recuou mais de uma vez, permitindo o acesso dos vândalos ao estacionamento do prédio. 
A porta de entrada estava destrancada. 
Os oficiais do GSI circularam à paisana entre os manifestantes — um deles ofereceu água aos manifestantes. Que general assiste inerte à sua fortaleza sendo atacada?
 
Como já foi provado que vários órgãos do governo receberam alertas de risco de ataque, inclusive o GSI e o gabinete de Flávio Dino, o governo obrigatoriamente deveria ter um Plano Escudo.  
O GSI precisa estar preparado para situações de emergência que, inclusive, envolvem a retirada de autoridades do local. 
Há comunicação prévia com as forças de segurança do Distrito Federal, com a Polícia Federal e Rodoviária e com as Forças Armadas. 
Uma das cenas não explicadas até agora foi o bate-boca entre os ministros Flávio Dino e José Múcio Monteiro (Defesa) na noite do dia 8 de janeiro, dentro do Palácio do Planalto.
 
Nos bastidores, os integrantes da oposição afirmam que a omissão ou conivência com a depredação em Brasília é a linha que desestabiliza o governo — muito mais do que a descoberta de eventuais infiltrados. 
Isso explica a blindagem ocorrida na terça-feira. 
O cálculo político é que, mesmo se um dos presos confessar a ação como infiltrado, isso não vai se converter em benefício a ele no julgamento do Supremo — não é como um acordo de delação, por exemplo. Ou seja, é um caminho mais difícil para a CPMI.
 
Já a comprovação de que o governo “deixou acontecer” o que se viu naquela tarde trágica para colocar em pé a tese de golpe “bolsonarista” pode sustentar um pedido de impeachment de Lula. 
A CPMI deixou claro um fato inequívoco: há um lado oculto no 8 de janeiro que o governo não quer mostrar.

Leia também “O triunfo da indecência”

 Silvio Navarro e Rute Moraes, colunistas - Revista Oeste