Foi um salve-se quem puder! De uma só sentada o Procurador-Geral,
Rodrigo Janot, pediu a prisão do presidente do Congresso, do presidente
afastado da Câmara dos Deputados, de um ex-ministro e de um
ex-presidente da República. Todos do PMDB. Cada um deles, provavelmente,
com contas a pagar com a justiça. Mas seriam eles os únicos?
E seus
crimes, como a alegada obstrução na Operação Lava Jato, não foram também
praticados por outros personagens da política – tão ou mais graduados –
sem que a punição extrema da cadeia tenha sido aplicada ou solicitada
pelo senhor Procurador? Que razões ainda mais graves, do que a tornada
pública com a delação do executivo Sergio Machado, estariam por trás das
motivações que levaram a PGR a ato tão extremo?
Todos ainda esperam por
elas. Nas conversas, os protagonistas discutem o andamento das
investigações, manifestam preocupação com seu desfecho e até indicam
advogados. Mas as supostas tramas de obstrução estariam ao menos um
degrau abaixo das tentativas de promover fuga de acusados, de comprar o
silêncio de testemunhas ou de acobertar aliados encrencados, verificadas
anteriormente nas platitudes de Brasília. No Supremo Tribunal, o
vazamento do pedido de Janot causou balbúrdia. Gerou irritação, para
dizer o mínimo.
O ministro Gilmar Mendes classificou de crime a
liberação clandestina da informação. Muitos de seus pares no colegiado
avaliam a medida solicitada pelo nobilíssimo chefe do MP como
“exagerada”. A Corte ficou numa encruzilhada. Se negar a demanda de
Janot pode ser tachada de parcial e arbitrária, já que existe
jurisprudência de um senador ter ido parar atrás das grades. Se aprovar,
o STF abre uma nova temporada de guerra entre Poderes com o
Legislativo, que pode anular a decisão ao menos no caso dos três
parlamentares envolvidos. Não é sensato supor que a interpretação das
conversas captadas por Machado e interceptadas pela polícia tenha sido a
única fundamentação do Procurador.
Do contrário, há de se indagar: por
que ele não adotou igual procedimento no que tange as gravíssimas
gravações, provas e calhamaços de delações sobre outros políticos? É
indiscutível que, na comparação, os diálogos de improbidades, ou de
indícios delas, em situações anteriores deveriam, ao fim e ao cabo,
terem, pela mesma lógica, redundado em cadeia para os seus responsáveis.
Aos fatos: O que fizeram o ex-presidente Lula, a presidente afastada
Dilma e os ex-ministros Aluizio Mercadante e José Eduardo Cardozo não
foram, da mesma maneira – e até com maiores evidências –, claros atos de
obstrução da Justiça? Lula e Dilma, pilhados em flagrante numa conversa
nada republicana, arquitetaram um plano para livrar o primeiro da
prisão com um convite para integrar o ministério. Além da gravação da
conversa entre eles, manipulação de papéis como a publicação antecipada
da nomeação no Diário Oficial e conversas paralelas de correligionários
reforçam o ardil. Mercadante também foi pego numa gravação aonde ele
negocia pessoalmente o silêncio de uma testemunha.
Não perdeu sequer o
mandato de ministro por isso. E nem o ex-titular da Justiça, José
Eduardo Cardozo, que teria combinado com Dilma a nomeação de um ministro
para o STJ em troca da soltura de empreiteiros, foi condenado pelo
Procurador que, em última instância, é quem pode pedir qualquer medida
sobre personagens com foro privilegiado. No movimento de dois pesos,
duas medidas, a PGR pode colocar a perder a credibilidade da justiça
brasileira. Não deveria vingar a ideia de que “todos são iguais perante a
justiça, mas alguns são mais iguais que os outros”. Não neste momento!
Fonte: Editorial - CARLOS JOSÉ MARQUES - Isto É
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sábado, 11 de junho de 2016
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