A Folha informa
na edição desta quinta que o ex-presidente voltou a reclamar de Dilma
Rousseff em conversa com sindicalistas no encontro de terça-feira. Já
havia feito o mesmo com dirigentes petistas na segunda. Ele estrila para
que ela saiba, não para que não saiba.
O chefão
decadente criticou a coordenação política do governo, a cargo de Aloizio
Mercadante, no que está certo (é ruim de doer mesmo), mas o fez, não
duvidem nunca, por motivos errados. Os sindicalistas, por sua vez, se
queixaram da falta de diálogo com o governo, e o Babalorixá de Banânia
não se fez de rogado: tornou-se o porta-voz da chiadeira no discurso que
fez:
“Dilma, se estiver ouvindo,
gostaria de dizer o seguinte. Você precisa lembrar sempre que quem está
aqui é o seu parceiro, nos bons e nos maus momentos. A gente não quer
ser convidado só para festa, não. A gente quer ser convidado para
discutir coisas sérias, para fazer boas lutas e boas brigas.”
As
palavras fazem sentido. Prestem atenção ao “se estiver ouvindo”. Poderia
ser substituído por sua “teimosa”, “cabeça-dura”, “desobediente”. Lula
tem dito por aí que Dilma está isolada no Palácio, que tem de andar mais
e se aproximar dos movimentos sociais. Ou por outra: ele quer que ela
cole justamente nos setores que pretendem mandar às favas o ajuste
fiscal.
Isso é o
que Lula diz. E o que ele não diz? O homem quer voltar, sim, e acha que a
ainda aliada está obstruindo o seu caminho. Não é só ele. Boa parte da
máquina petista e da máquina sindical pensa a mesma coisa. Ou, na
expressão de um petista graúdo, conversando com um de seus pares: “Ela
[muitos “companheiros” só se referem a Dilma por “ela”] vai conseguir o
que a direita não conseguiu; vai quebrar as pernas do PT”.
Lula diz
por aí que, no primeiro ano de seu primeiro mandato, viveu
circunstâncias até piores do que as de Dilma, mas as venceu “conversando
com a sociedade”. É claro que se trata de uma mentira. Entre outras
delicadezas, o chefão se esquece de que ele e o PT não tinham a memória
de 12 anos de poder, com todos os seus descalabros.
Um dos
luminares petistas lembra que o partido não dispõe hoje, e não disporá
nos próximos três anos e pouco, de uma alternativa a Lula para disputar
a sucessão de Dilma e que ouvi-lo antes de tomar decisões seria uma
espécie de obrigação da presidente. Com ironia, comentou com um
interlocutor: “Só faltava agora ela estar preocupada com a própria
biografia. Há outras prioridades”. Dilma tem, sim, de se preocupar com as ruas. Mas quem mais a ameaça hoje é Lula, que não aceita o óbvio: seu tempo acabou!