Seguranças receberam quase mil diárias do
Planalto para ficar 283 dias em imóvel que ex-presidente afirma ser de
"amigos" - embora a Odebrecht, empreiteira do petrolão próxima do petista, tenha
custeado R$ 700 mil em reformas no local
Relatórios
de viagem produzidos pelo Palácio do Planalto revelam que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
contou com sua segurança pessoal por 111 vezes em Atibaia, entre
2012 e 11 de janeiro deste ano. É nas matas de Atibaia, no interior de São
Paulo, que fica o sítio Santa Bárbara, no qual a Odebrecht gastou R$ 700 mil em
reformas. No papel, o sítio está em nome
de um amigo de Lula e do sócio de um dos filhos dele - Fábio Luís, aquele que enriqueceu graças à
parceria empresarial com a telefônica Oi. [Lula assinou um decreto facilitando a
fusão da OI, antiga TELEMAR, com a Brasil Telecom, resultando na maior
telefônica do Brasil.
Para estimular Lula a assinar o
decreto a Telemar fez um investimento de US$ 5 MI, em uma empresa de fundo de
quintal (a GAMECORPS que fabricava joguinhos para computador) de propriedade de
um dos filhos do Lula – Fábio Luiz, o Lulinha, biólogo, que antes de se tornar
milionário, era monitor do Jardim Zoológico de São Paulo, com um
salário de R$ 600.] Lula nega ser dono do sítio e disse, por meio de
assessoria, frequentar o local somente em “dias
de descanso”.
As evidências obtidas
por ÉPOCA, porém, confrontam
fortemente a versão do ex-presidente. A cada cinco dias, um segurança de Lula era deslocado para
Atibaia. Quem visita sítio de
amigos com tamanha frequência?
ÉPOCA mapeou os dados a partir das diárias dos
sete servidores que fizeram parte da equipe de segurança do ex-presidente.
No total, eles
receberam 968 diárias da presidência, custando R$ 189 mil. Os dados
mostram que, em muitos casos, os seguranças tiveram de alternar turnos em
Atibaia, como forma de garantir que assim sempre estivesse alguém na cidade num
determinado período. Se, por exemplo, um segurança ficou de segunda-feira a quinta-feira, e outro chegou na quarta-feira e
ficou até sábado, ÉPOCA
contabilizou apenas uma viagem, de segunda a sábado. O itinerário é quase
sempre o mesmo: São Bernardo do Campo
(onde Lula mora), Atibaia e retorno para a mesma cidade.
A versão de Lula para o caso do
sítio é clara. Segundo
a assessoria de imprensa de Lula, "o
ex-presidente Lula e também Dona Marisa, frequentam em dias de descanso um
sítio de propriedade de amigos da família na cidade de Atibaia". ÉPOCA questionou o Instituto Lula sobre as
viagens dos seguranças a Atibaia, mas a assessoria não fez comentários. Disse
que "tentativa de associá-lo a
supostos atos ilícitos tem o objetivo mal disfarçado de macular a imagem do
ex-presidente".
Para fazer essas 111
viagens, os
seguranças de Lula pernoitaram um total
de 283 vezes em Atibaia. O período total dos documentos é
de cerca de 1400 dias _ as
datas na cidade representam cerca de 20%. Em junho e julho de 2014, por
exemplo, os seguranças de Lula passaram seis finais de semanas seguidos na
cidade do sítio. há casos em que as idas a Atibaia representam quase a metade
de todas as viagens feitas por um segurança de Lula.
Fora do país
Como todo ex-presidente, Lula tem por direito
contar com segurança e assessores. A lei, contudo, não estende esse benefício a familiares. ÉPOCA cruzou
as viagens dos segurança a Atibaia com dados produzidos pela Polícia Federal
sobre entradas e saídas do país por Lula, material que integra a
investigação do Ministério Público Federal sobre tráfico de influência
internacional.
Em seis datas, os seguranças de Lula estão em Atibaia enquanto
o ex-presidente ou estava retornado ou deixando o país. Às 7h57 do dia 13 de março de 2013, a PF registrou a saída
de Lula do país. Ele começava ali um tour pela África. Naquele mesmo dia 13, o militar Elias dos Reis deixava São
Bernardo, rumo a Atibaia. Recebeu de diária R$
265, voltando a São Bernardo no dia seguinte.
Enquanto Lula estava na África, o Planalto assim registrou a viagem a
Atibaia: “Compor a equipe de segurança do Sr
Ex-Presidente da República”. O que um segurança do ex-presidente fazia em Atibaia enquanto Lula
estava na África?
As diárias estão disponíveis a
partir de 2012. A
primeira ida registrada é em 30 de março de 2012. Naquele ano, as viagens eram
curtas. Em 14 ocasiões, foi apenas um bate volta, sem pernoite.
A frequência começa a se intensificar ao longo dos meses,
chegando ao auge em julho de 2014 _ era a Copa do Mundo. Lá, os seguranças de Lula estiveram presentes
nas partidas contra Chile e Colômbia, na fase final do torneio. Depois,
ficaram o maior período no sítio. A partir do dia 17 de julho, por onze dias seguidos algum segurança presidencial esteve
presente em Atibaia.
As visitas mais recentes foram no
começo do ano. Os
seguranças de Lula passaram o réveillon de 2016 em Atibaia e, depois, ficaram
por lá de quinta-feira, dia 7, a segunda-feira, dia 11. Nos documentos do
Planalto, há casos em que os seguranças tiveram que
registrar as viagens depois do ocorrido. Isso porque, segundo os
assessores, a viagem foi feita em cima da hora. “O servidor viajou para atender a demanda da agenda do ex-presidente
Lula. E devido a urgência no atendimento não foi possível enviar o SCDP
[registro] antes da ocorrência da respectiva viagem”, diz um dos registro.
Os dados denotam que a frequência
de Lula em Atibaia pode ser maior do que a visita a amigos donos do sítio, como ele já admitiu em nota à
imprensa. Os donos do sítio são dois
sócios do filho de Lula, Fábio Luís. Segundo a
Folha de S. Paulo, fornecedores
da obra disseram que o sítio foi reformado pela Odebrecht.
Fonte: Revista Época