Fernando Holiday, coordenador do MBL, é o vereador eleito mais jovem da cidade de São Paulo. Além disso, é negro, gay, pobre e nasceu na periferia. Seguindo a lógica dos simpatizantes do PT, PSOL, PC do B e afins, essa espécie de "combo" de minorias numa pessoa só deveria servir como símbolo do empoderamento dessas ditas minorias que são, de alguma forma, sistematicamente oprimidas pela sociedade. Na realidade, o que vimos foi uma verdadeira enxurrada de discursos de ódio contra o ativista.
Nos últimos dias, diversos blogs, "intelectuais" e militantes viúvos do petismo desferiram insultos absolutamente abjetos contra Holiday. Com delicadezas que vão de "capitão do mato", "negro da casa-grande" a "bicha homofóbica" e expressões ainda mais baixas, os monopolistas da virtude e da moral mostraram sua verdadeira natureza.
Tudo isso porque Holiday se nega a aceitar o cabresto ideológico dessa gente e pensa com os próprios miolos. Para o pessoal da patrulha, é um absurdo um negro ser contra as cotas, um gay ser contra as "políticas LGBT" –seja lá o que isso significa– ou um pobre ser a favor de privatizações. O discurso em favor dos pobres, contra o racismo e a homofobia desaparece quando a pessoa em questão discorda dos acólitos dessa antilógica.
A onda aumentou quando o jovem vereador eleito se posicionou a favor do corte de pastas como a Secretaria Municipal de Promoção da Igualdade Racial. Falam como se fosse impossível haver uma política pública contra o racismo sem que haja uma secretaria dedicada exclusivamente à pauta. É a mentalidade da "secretariocracia": tem de haver secretaria das mulheres, dos negros, dos gays, dos ruivos, dos japoneses, etc.
O fato é que secretarias em excesso só servem para manter cabides de emprego e facilitar a vida de quem quer parasitar o dinheiro público. A defesa desse tipo de discurso não passa de puro fisiologismo. Priorizar gastos com cargos inúteis em detrimento de investimentos essenciais em saúde e educação é pura canalhice.
Holiday defende, sim, os negros, os pobres e os gays. Mas não acredita que a solução para os seus problemas esteja em fazer com que o Estado os trate como seres incapazes, inferiores. Ele é uma inspiração, um exemplo e, como diz a máxima latina, "verba mouent exempla trahunt". Holiday quer mostrar que, apesar de todas as dificuldades e de todo tipo de discriminação que sofreu, está conseguindo alcançar o sucesso. A mensagem é simples, poderosa e passa bem longe da demagogia do discurso vitimista: você é senhor da sua própria vida e não há preconceito que o impeça de vencer.
No final das contas, o discurso "pró-minorias" mostra-se mero fruto do oportunismo eleitoral de uma esquerda que não sabe debater pautas econômicas e está desmoralizada demais para discutir o problema da corrupção. Gente que defende esse tipo de discurso não dá a mínima para os negros, os gays, os pobres e as mulheres. Eles apenas os utilizam como bandeira para promover interesses partidários. Se você discorda da ideologia deles, então você pode ser alvo de racismo, machismo e homofobia.
Por: Kim Kataguiri - Folha de São Paulo