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segunda-feira, 10 de agosto de 2020

A dúvida municipal - Alon Feuerwerker

Análise Política


O que vai decidir a eleição para prefeito e vereador em novembro? O quadro local ou o nacional? 
Ou vai ser uma coisa em alguns lugares e a outra em outros? 
E quais serão os requisitos para alguém alcançar a maioria absoluta dos votos, indispensável a quem deseja a vitória já no primeiro turno? E o perfil mais encaixado nos desejos do eleitor médio em meio a esta pandemia? Assuntos para daqui até novembro.

Começando pelo final, há quem aposte numa onda de candidatos médicos ou das demais carreiras da saúde. A economia preocupa, mas a principal angústia das pessoas neste momento concentra-se em escapar da perseguição do SARS-CoV-2 e sobreviver à onda da Covid-19. Analistas já intuem: assim como em 2018 tivemos a onda de candidatos ligados à segurança, talvez 2020 seja a hora dos identificados com a saúde.

Mas os nomes anticrime de 2018 surfaram a insatisfação popular diante dos índices de violência e da ameaça potencial à vida e ao patrimônio. [lembrando que todas as tentativas do presidente Bolsonaro de adotar medidas para combater a criminalidade foram abatidas pelo Congresso Nacional ou Poder Judiciário = alguns dos 'abates' procederam, devido a que por falhas, propositais ou não, da assessoria do presidente, foram editados decretos para alterar leis - qualquer estudante do pré vestibular para Direito sabe que tal atitude é totalmente absurda, inaceitável.]O intrigante neste momento da Covid-19 é não existir uma maré montante de insatisfação ou revolta popular contra as autoridades. Ao contrário, o eleitor médio parece considerar que os governos estão de algum modo agindo.

Contribui para isso o sistema hospitalar não ter entrado em colapso. Mérito do Sistema Único de Saúde (SUS) e das medidas de isolamento e afastamento social, que segundo a epidemiologia produziram achatamento das curvas de casos e mortes. As curvas estão num patamar alto, mas relativamente estáveis. Pressiona para um lado a tragédia dos números fatais. Para o outro, os números não estarem em escalada aguda.

Outra curiosidade é se virá uma “nova onda” política e qual seria. O PMDB sucedeu a Arena, o PSDB sucedeu o PMDB e o PT sucedeu o PSDB. Daí veio Bolsonaro, mas já está rompido com o partido da eleição, o PSL. Assim, se a onda bolsonarista tiver continuidade municipal, virá pulverizada em múltiplos partidos. Neste fim de semana o presidente disse que vai ficar fora do primeiro turno. Ou seja, vai entrar firme no jogo quando vier a polarização.

Aí a trágica contabilidade de mortes da Covid-19 será um trunfo do antibolsonarismo. A narrativa já vem sendo bem trabalhada, uma semeadura que talvez permita boa colheita em novembro. Do outro lado, o governo tem um trunfo na economia. Os números aqui tampouco são bons, mas o dinheiro distribuído como auxílio emergencial vai ter seu papel. Principalmente no até agora grande reduto da oposição, o Nordeste. [Bolsonaro pode provar que não foi causador da mortalidade advinda da pandemia (que em novembro terá cessado - caso persista, dificilmente haverá eleições - serão adiadas por razões sanitárias, saúde pública, etc.) nem promoveu quarentenas meia-boca, na base do abre e fecha, e totalmente fora do tempo.
Nos estados do Sul a quarentena começou quando a mortalidade era praticamente 0, valendo o mesmo para Brasília.]

São os fatores da nacionalização. Mas não será prudente subestimar o localismo. O melhor palpite por enquanto é apostar fichas na racionália de que prefeitos e candidatos serão julgados pelo que fizeram ou deixaram de fazer, em particular neste último período pandêmico. Enquanto políticos e analistas gastam o miolo em torno do “fator nacional”, o eleitor talvez queira saber o que pode melhorar a vida dele no local onde mora. 

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político