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sábado, 27 de outubro de 2018

A autocrítica que o PT nunca fez

Se partido tivesse falado sobre seus erros seria muito mais fácil prometer que nada disso aconteceria de novo

Só Fernando Haddad e o Partido dos Trabalhadores podem defender a República brasileira da ameaça Bolsonaro. Não, não é a situação ideal. 

Mas é o que temos para hoje. A República exige que os brasileiros tenham em quem votar contra Bolsonaro. Para se tornar essa opção, o PT precisa deixar claro que, se Fernando Haddad for eleito presidente, não repetirá os erros que causaram a queda de Dilma Rousseff em 2016.  O partido deveria ter feito uma autocrítica nos últimos anos. Se tivesse falado abertamente sobre os casos de corrupção envolvendo petistas ou sobre o desastre da política econômica do primeiro mandato de Dilma, seria muito mais fácil prometer que nada disso aconteceria de novo. 

Em primeiro lugar, o PT deveria ter reconhecido que desviou bastante dinheiro da Petrobras. Depois do que a Lava Jato revelou, sabemos que os esquemas que abasteceram o PT já existiam havia décadas; mas garanto que não foi o presidencialismo de coalizão ou a cultura política brasileira que obrigaram os petistas a aceitar subornos milionários do cartel das empreiteiras. Como disse Jaques Wagner, o partido lambuzou-se. 

O PT se defende dizendo que nenhum partido fortaleceu mais as instituições de controle, que os ministros que condenaram os petistas foram nomeados por Lula e Dilma e que foram presidentes petistas que assinaram a Lei da Ficha Limpa e a Lei das Delações Premiadas. Os fatos eram: o PT tomou iniciativas importantes contra a corrupção, mas também cometeu grandes crimes.

Para corrigir seu surto de estupidez pós-impeachment, o PT tem de se comprometer a respeitar a Lava Jato. [só pós-impeachment?] O PT não pode propor nada que enfraqueça o Ministério Público ou possa ser interpretado como ameaça à imprensa. Tem de propor, enfim, o mesmo respeito às instituições que demonstrou quando foi governo. 

(...)

O PT também deve desculpas ao público pela política econômica implementada por Dilma Rousseff em seu primeiro mandato, a chamada Nova Matriz Econômica (NME). A NME começou como um programa mais ou menos ideológico reivindicado pelo setor industrial — o que a economista Laura Carvalho chamou de “Agenda Fiesp” —, com redução forçada de juros e intervenções no setor elétrico. Deu errado e, conforme a eleição se aproximava, virou um negócio meio avacalhado, com desonerações de impostos para o empresariado. No fim das contas, o crescimento não veio, e o governo quebrou, processo bem descrito no livro Como matar a borboleta azul , da economista e colunista de ÉPOCA Monica de Bolle.

(...) 

E, finalmente, a Venezuela.
Esse talvez seja o erro mais estúpido do PT, porque, nesse caso, não há qualquer fator atenuante. Não há crise do euro, não há política do Fed, não há necessidade de montar alianças no Congresso, não há nada que tenha obrigado o PT a apoiar Nicolás Maduro.
Em 13 anos de governo, o PT não deu um único passo em direção à venezuelização. A imprensa investigativa, os tribunais, o Congresso, todos viveram uma era de ouro durante os governos petistas — e, no fim das contas, derrubaram Dilma em 2016. Não conseguiram a mesma coisa contra Temer, que muito mais o merecia. E ninguém investiga, condena ou derruba general.

Por que, então, defender Maduro? Os parentes ideológicos do PT são Mujica e Bachelet. Esses, sim, governaram no espírito da social-democracia que Haddad invocou em sua entrevista ao Jornal Nacional .

Celso Rocha de Barros é doutor em Sociologia pela Universidade de Oxford, Inglaterra