José
Dirceu endossa o impeachment: ‘Qualquer deputado pode pedir à Câmara a abertura
de processo contra o presidente. Dizer que isso é golpe é falta de assunto’
Presidente do PT, José Dirceu caprichou na pose de
defensor da pátria em perigo ao tentar justificar o que acabara de fazer naquele
25 de agosto de 1999. “Qualquer deputado
pode pedir à Mesa a abertura de processo de impeachment contra o presidente da República”,
declamou depois de entregar ao presidente da Câmara, Michel Temer, o documento
que propunha o afastamento de Fernando Henrique Cardoso, reeleito dez meses
antes. “Dizer que isso é golpe é falta de
assunto”.
Se os celebrantes de missa negra
acreditassem nos sermões que Lula lhes sopra, o PT de 2015 teria a obrigação de enxergar no PT de 1999 um
bando de golpistas a serviço do capitalismo selvagem — e o PT do século 20 teria o dever de
achar que o PT do século 21 sofre de falta de assunto. Mas vigaristas sem
cura não perdem tempo com o que disseram, dizem ou dirão.
No vídeo
abaixo, uma amostra da reação indignada de Dirceu ao arquivamento do pedido de
impeachment, o comandante da tropa petista no Congresso afirma que FHC
descumpriu promessas de campanhas, favoreceu esquemas corruptos, conduziu a
economia a um beco sem saída e fez concessões absurdas ao PMDB, fora o resto.
Quem ouve o samba do mineiro doido deduz que, em 1999, FHC era uma Dilma
Rousseff em miniatura, com terno, gravata e cérebro.
Vídeo: Dirceu sobre o
arquivamento do pedido de Impeachment de FHC em 1999
Com a expressão colérica
recomendada a quem repetia de meia em meia hora que o PT “não róba nem dexa robá”, o orador trata
com igual ferocidade a gramática e o chefe de governo que considera incapaz de
governar. A perda do cargo seria um castigo até brando para FHC, brada o
pregador de cabaré. (Por tais critérios,
que punição mereceria Dilma Rousseff além do impeachment? Duzentas chibatadas?
A guilhotina?)
Passados
16 anos, o moralista amoral curte a
segunda temporada na cadeia.
Descobriu-se que o
guerreiro do povo era o disfarce do corrupto onipresente. A herança
bendita de FHC está em frangalhos. Por tudo isso e muito mais, o vídeo virou
uma perturbadora relíquia histórica. É outra prova de que, durante longos anos,
os bandidos do faroeste à brasileira assumiram o
controle do lugar e fizeram o diabo sob os aplausos do rebanho na plateia.
Pena
que o reincidente engaiolado não tenha tempo nem ânimo para comentar o que
andou fazendo em 1999. Absorvido
por uma guerra particular, o guerrilheiro de festim agora luta para safar-se da
cadeia. Abre o bico apenas para conversar com vizinhos de cela ou com o
advogado. E só pensa no impeachment do
juiz Sérgio Moro.