O buliçoso procurador criou uma nova clivagem política: o mundo se divide entre corruptos e não-corruptos. É tudo o que as esquerdas querem ouvir
“Não se trata de direita contra esquerda; se trata de acusados de corrupção contra o povo: essa é a verdadeira luta.”
A bobagem acima é da lavra de Deltan
Dallagnol, o rapaz que atua como procurador na Lava Jato e como
parlamentar e juiz no Twitter. Ainda voltarei a ele, que anda inquieto
como nunca. Nas redes sociais, julga, sentencia, legisla, faz o diabo.
E, claro!, parte desse desassombro, que há muito deveria ter chamado a
atenção do Conselho Nacional do Ministério Público, acaba vazando em seu
trabalho. O resultado é o que vemos aí.
Então se criaram agora duas novas
categorias políticas ou, quem sabe, de pensamento: os corruptos e os
não-corruptos, estes corporificados no “povo”. Dallagnol, que combate a
corrupção, é, portanto, a voz e o braço do povo. Logo, contestá-lo
corresponde a ficar do lado dos corruptos. Que ele o diga, vá lá! Ver
jornalistas a repetir a mesma besteira, aí é de amargar.
O que posso dizer? Hugo Chávez usou
rigorosamente esse argumento para instaurar a ditadura na Venezuela. A
conversa mole também não é estranha à ditadura inaugurada em 1964 por
aqui. As primeiras cassações de vulto miravam os corruptos, não os
subversivos. A cada vez que governos comunistas promoveram autogolpes,
geralmente para endurecer o regime, a ala derrotada era acusada de…
corrupção! É prática corrente ainda hoje na China e na Coréia do Norte.
Então eu vou reformular a frase do
doutor: o que aí se vê nada tem a ver com combate à corrupção;
assiste-se, isto sim, é à união de interesses de fascistas de esquerda e
de fascistas de direita contra a democracia. Assim fica melhor.
Tudo o que PT sempre quis ouvir
Ainda que seja caracterizado como o verdugo do PT, o que julgo falso, Dallagnol fala tudo aquilo que o partido quer ouvir. Só um idiota acha que o mal maior que o partido fez ao país é a corrupção. Esta é, sim, nefasta. Causa danos imensos ao povo. Ocorre que o modelo econômico que resultou na maior recessão da história, que quebrou a Petrobras, que levou à falência o setor elétrico, que expandiu os gastos a um nível insuportável, que provocou um déficit fiscal histórico… Bem, isso tudo nada tem a ver com a corrupção.
Ainda que seja caracterizado como o verdugo do PT, o que julgo falso, Dallagnol fala tudo aquilo que o partido quer ouvir. Só um idiota acha que o mal maior que o partido fez ao país é a corrupção. Esta é, sim, nefasta. Causa danos imensos ao povo. Ocorre que o modelo econômico que resultou na maior recessão da história, que quebrou a Petrobras, que levou à falência o setor elétrico, que expandiu os gastos a um nível insuportável, que provocou um déficit fiscal histórico… Bem, isso tudo nada tem a ver com a corrupção.
Qualquer um que sustente isso é um
picareta. Qualquer um que leve isso a sério é um desinformado. Quando a
PF chuta alto, lá na estratosfera, estima que a corrupção provocou um
dano à Petrobras da ordem de R$ 40 bilhões. Só a política de preços dos
combustíveis da senhora Dilma Rousseff, que importava o produto mais
caro do que vendia no mercado interno, causou um rombo na empresa de R$
100 bilhões.
Acreditar, como querem os loucos e os
vigaristas, que o Brasil se divide hoje entre “corruptos” e
“não-corruptos”, entre os que querem e os que não querem combater a
safadeza, corresponde a fazer o jogo das… esquerdas! Para a alegria dos
especuladores. E, infelizmente, a direita costuma cair nessa conversa
mole. “E por que, Reinaldo, você diz que isso é
fazer o jogo das esquerdas?” Ora, porque elas sempre foram mais
eficientes para vender ilusões e impossibilidades em nome dos amanhãs
sorridentes, não é? Só as tiranias utilizam a honestidade e a
desonestidade como clivagem política. E a razão é simples: elas definem o
que é uma coisa e o que é outra.
Vejam o nosso caso: temos esse simulacro
de tirania do MPF, não é? E os bravos rapazes já fizeram de Joesley
Batista um patriota, que mereceu um galardão porque, como disse Janot em
um congresso de jornalistas — e sem contestação —, entregou as mais
altas autoridades da República. Eis aí: quando vigora um sistema que
divide a política entre honestos e desonestos, Joesley Batista veste a
máscara do cordeiro para que possa ser, ainda com mais determinação, o
lobo de sempre.
De todo modo, a definição de Dallagnol
me parece bastante adequada à forma como resumiu a sua biografia no
Twitter, com as maiúsculas como lá estão: “Seguidor de Jesus, Marido e
Pai Apaixonado, Procurador da República por Vocação (hoje coordenando o
MPF na #LavaJato em Curitiba) e Mestre em Direito por Harvard”.
Isso me faz supor que fosse ele ateu,
celibatário e sem filhos (ou gay ou mulherengo contumaz), o Brasil
poderia estar à beira do abismo, né?
Jesus recomendaria que ele não misturasse assim as coisas de Deus com as coisas de César!