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terça-feira, 4 de julho de 2017

Fala de Dallagnol, “seguidor de Jesus, marido e pai apaixonado”, é música para as esquerdas

O buliçoso procurador criou uma nova clivagem política: o mundo se divide entre corruptos e não-corruptos. É tudo o que as esquerdas querem ouvir

 “Não se trata de direita contra esquerda; se trata de acusados de corrupção contra o povo: essa é a verdadeira luta.”



A bobagem acima é da lavra de Deltan Dallagnol, o rapaz que atua como procurador na Lava Jato e como parlamentar e juiz no Twitter. Ainda voltarei a ele, que anda inquieto como nunca. Nas redes sociais, julga, sentencia, legisla, faz o diabo. E, claro!, parte desse desassombro, que há muito deveria ter chamado a atenção do Conselho Nacional do Ministério Público, acaba vazando em seu trabalho. O resultado é o que vemos aí.


Então se criaram agora duas novas categorias políticas ou, quem sabe, de pensamento: os corruptos e os não-corruptos, estes corporificados no “povo”. Dallagnol, que combate a corrupção, é, portanto, a voz e o braço do povo. Logo, contestá-lo corresponde a ficar do lado dos corruptos. Que ele o diga, vá lá! Ver jornalistas a repetir a mesma besteira, aí é de amargar.


O que posso dizer? Hugo Chávez usou rigorosamente esse argumento para instaurar a ditadura na Venezuela. A conversa mole também não é estranha à ditadura inaugurada em 1964 por aqui. As primeiras cassações de vulto miravam os corruptos, não os subversivos. A cada vez que governos comunistas promoveram autogolpes, geralmente para endurecer o regime, a ala derrotada era acusada de… corrupção! É prática corrente ainda hoje na China e na Coréia do Norte.


Então eu vou reformular a frase do doutor: o que aí se vê nada tem a ver com combate à corrupção; assiste-se, isto sim, é à união de interesses de fascistas de esquerda e de fascistas de direita contra a democracia. Assim fica melhor.


Tudo o que PT sempre quis ouvir
Ainda que seja caracterizado como o verdugo do PT, o que julgo falso, Dallagnol fala tudo aquilo que o partido quer ouvir. Só um idiota acha que o mal maior que o partido fez ao país é a corrupção. Esta é, sim, nefasta. Causa danos imensos ao povo. Ocorre que o modelo econômico que resultou na maior recessão da história, que quebrou a Petrobras, que levou à falência o setor elétrico, que expandiu os gastos a um nível insuportável, que provocou um déficit fiscal histórico… Bem, isso tudo nada tem a ver com a corrupção.


Qualquer um que sustente isso é um picareta. Qualquer um que leve isso a sério é um desinformado. Quando a PF chuta alto, lá na estratosfera, estima que a corrupção provocou um dano à Petrobras da ordem de R$ 40 bilhões. Só a política de preços dos combustíveis da senhora Dilma Rousseff, que importava o produto mais caro do que vendia no mercado interno, causou um rombo na empresa de R$ 100 bilhões.


Acreditar, como querem os loucos e os vigaristas, que o Brasil se divide hoje entre “corruptos” e “não-corruptos”, entre os que querem e os que não querem combater a safadeza, corresponde a fazer o jogo das… esquerdas! Para a alegria dos especuladores. E, infelizmente, a direita costuma cair nessa conversa mole.  “E por que, Reinaldo, você diz que isso é fazer o jogo das esquerdas?” Ora, porque elas sempre foram mais eficientes para vender ilusões e impossibilidades em nome dos amanhãs sorridentes, não é? Só as tiranias utilizam a honestidade e a desonestidade como clivagem política. E a razão é simples: elas definem o que é uma coisa e o que é outra.


Vejam o nosso caso: temos esse simulacro de tirania do MPF, não é? E os bravos rapazes já fizeram de Joesley Batista um patriota, que mereceu um galardão porque, como disse Janot em um congresso de jornalistas — e sem contestação —, entregou as mais altas autoridades da República.  Eis aí: quando vigora um sistema que divide a política entre honestos e desonestos, Joesley Batista veste a máscara do cordeiro para que possa ser, ainda com mais determinação, o lobo de sempre.


De todo modo, a definição de Dallagnol me parece bastante adequada à forma como resumiu a sua biografia no Twitter, com as maiúsculas como lá estão: “Seguidor de Jesus, Marido e Pai Apaixonado, Procurador da República por Vocação (hoje coordenando o MPF na #LavaJato em Curitiba) e Mestre em Direito por Harvard”.


Isso me faz supor que fosse ele ateu, celibatário e sem filhos (ou gay ou mulherengo contumaz), o Brasil poderia estar à beira do abismo, né?   

Jesus recomendaria que ele não misturasse assim as coisas de Deus com as coisas de César!


 

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