Saída tende a ser salomônica, se não houver outro pedido de vista do ministro Dias Toffoli
Eram 11 horas da manhã quando o senador Paulo Paim
(PT-RS) abriu a única sessão do dia, para homenagear ativistas dos
direitos humanos. [será que entre os elogiados pelo senador Paulo Paim está o vice-presidente do Conselho de Defesa dos Direitos Humanos de São Paulo - o Luiz Carlos, que está preso por ser também funcionário do PCC?]
No lado oposto ao plenário, o oficial de Justiça
Wessel Teles de Oliveira esperava pelo presidente do Senado, Renan
Calheiros, pelo vice, Jorge Viana, e pelo primeiro-secretário Vicentinho
Alves. Levava um envelope com intimações do Supremo Tribunal Federal .
No plenário, ecoou uma gravação do Hino Nacional — tradição em solenidades. Até que alguém gritou: “Quem é o presidente hoje?”
Paim sentou-se, e, calmamente, se apresentou como
presidente acidental: “Não me perguntem quem efetivamente é o
presidente. Em tempos tão tumultuados, eu diria que faço o discurso de
abertura, porque houve uma liminar, em nome do presidente do Senado.
Ponto.” Fez uma pausa, e acrescentou: “Pode ser assim?” Ninguém
discordou.
A sessão acabou hora e meia depois, e o servidor
público Teles de Oliveira continuava à espera do trio responsável pela
Mesa Diretora. Ali ficou por mais 90 minutos, até receber, por escrito,
uma recusa à notificação do Supremo. Ele não ouviu os impropérios de
Renan do outro lado da parede, em parte dirigidos a um assessor
presidencial, Moreira Franco, que considera responsável pelo estímulo a
organizadores do protesto de domingo passado.
Metros adiante, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia,
procurava ideias sobre o que fazer. Exaltados, os deputados Weverton
Rocha (PDT-MA), Afonso Florence (PT-BA) e Jandira Feghali (PCdoB-RJ)
insistiram que a Câmara se mobilizasse em “solidariedade” a Renan, num
desafio público ao Supremo. “Maluquice”, disse Rubens Bueno (PPS-PR) ao abandonar
a reunião. Maia concordou e passou à pauta do dia, onde havia um
projeto sobre impressão de papel-moeda.
No fim dessa tarde de surrealismo político, o Supremo
confirmou, para hoje, às 14 horas, a análise do caso. A saída tende a
ser salomônica, se não houver outro pedido de vista do ministro Dias
Toffoli. O STF confirmaria a expulsão de Renan da linha
sucessória da Presidência da República, por sua condição de réu em
processo criminal. Mas deixaria ao Senado a decisão sobre o afastamento
de Renan da presidência da Casa — como prevê a Constituição. Quando o dia terminou, não restavam vencedores na
Praça dos Três Poderes. No Congresso, lamentava-se a falta de liderança.
Os mais nostálgicos recordavam Tancredo Neves: “Na política, são as
ideias e não as pessoas que brigam”.
Artigo de José Casado, jornalista