O governo
da presidente Dilma Rousseff conseguiu de novo combinar inflação muito alta,
6,41% no ano passado, com crescimento econômico muito baixo, provavelmente
inferior a 1%. Essa é uma combinação rara e nada invejável, só acessível em
certos cenários de crise internacional ou como produto de uma incompetência
hiperbólica. O caso brasileiro é obviamente o segundo. Na maior parte do mundo,
incluída a América Latina, os preços têm subido bem menos que no Brasil,
raramente superando 4%, enquanto a produção e o comércio exterior têm sido
muito mais dinâmicos.
Em 2014,
as façanhas comandadas do Palácio do Planalto incluíram um déficit comercial de
US$ 3,93 bilhões - o primeiro a partir de 2001, quando houve um superávit de
US$ 2,65 bilhões - e um encolhimento das trocas internacionais. A soma de
exportações e importações, de US$ 454,13 bilhões, foi 5,7% inferior à de 2013,
pela média dos dias úteis. As vendas ao exterior diminuíram 7% e as compras,
4,4%.
Excetuados
a produção agrícola e o bom desempenho comercial do agronegócio, num quadro de
preços internacionais em queda, nada, nos grandes números da economia
brasileira, vale uma comemoração. A alta dos preços ao consumidor, assim como o
resultado da balança comercial, claramente refletiu uma porção de graves
desajustes e, acima de tudo, uma política fundada em diagnósticos errados e
ainda conduzida com voluntarismo e teimosia.
As
consequências desse voluntarismo ainda se refletirão nos dados econômicos deste
ano. Ainda será preciso reajustar preços contidos politicamente. Se o governo
quiser evitar novos auxílios financeiros a empresas do setor elétrico, terá de
aceitar novos aumentos das contas de energia, com efeitos nos cálculos da
inflação. Além disso, tarifas de transporte público já estão sendo reajustadas,
depois de dois anos de congelamento político.
Nem com a
contenção voluntarista dos preços de combustíveis, das tarifas de energia
elétrica e do valor das passagens de ônibus, trens e metrôs, a inflação ficou
nos últimos anos em níveis decentes. Bateu no limite de 6,5% em 2011, recuou
para 5,84% em 2012 e voltou a subir nos dois anos seguintes, atingindo 5,91% em
2013 e 6,41% em 2014. Durante todo esse tempo a presidente Dilma Rousseff se vangloriou
de haver mantido a alta de preços dentro da meta, como se a meta oficial
incluísse todos os pontos entre 4,5% e 6,5%. Mas a meta é 4,5% e os dois pontos
acima ou abaixo são margens de tolerância - um espaço de acomodação para
circunstâncias excepcionais.
Não
houve, nesses anos, nenhuma circunstância bastante grave para justificar taxas
de inflação sempre muito próximas de 6% e às vezes acima disso. Grandes
pressões internacionais teriam aparecido também nos dados de inflação de outros
países, mas o Brasil tem permanecido, há muitos anos, como um dos campeões da
inflação. A própria meta oficial, de 4,5% a partir de 2005, é muito alta pelos
padrões internacionais, e a margem de tolerância, muito larga. Tem havido no
Brasil uma indisfarçável tolerância à inflação. A meta oficial tem sido 4,5%,
mas o alvo efetivo tem sido algo entre 5,5% e 6%. Não se tem deixado de cantar
vitória, no entanto, quando se obtém algum número até 6,5%.
Para um
combate efetivo à inflação o governo deveria ter sido muito mais econômico, mas
a presidente Dilma Rousseff e seus auxiliares preferiram manter uma política
orçamentária expansionista e maquiar os resultados. A gastança oficial foi
sempre o mais importante componente da demanda excessiva, mas, além disso,
ainda houve o aumento do crédito. O desajuste no mercado de trabalho, com a
escassez de mão de obra qualificada ou mesmo qualificável, completou o quadro,
com aumentos salariais bem acima dos ganhos de produtividade.
No começo
do ano, os economistas do setor financeiro projetaram para 2015 uma inflação de
6,56%. O presidente do Banco Central promete levar a variação do IPCA a 4,5%
até o fim de 2016. Para isso, os juros terão de continuar muito altos, exceto
se houver um firme e confiável ajuste das contas públicas. Falta saber como
pensa a presidente Dilma Rousseff.
Fonte: O Estado de São Paulo - Editorial