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segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Bem-vindo ao talibã = Decálogo da nova democracia brasileira - Revista Oeste

Guilherme Fiuza

Se liga. Vê se não vai se engraçar pelo submundo da desinformação e aparecer com críticas ao processo eleitoral impecável conduzido pelo TSE 

 Foto: Shutterstock 

 Foto: Shutterstock 
 
 Decálogo da nova democracia brasileira:
    1. Em primeiro lugar, cala a boca que eu não te perguntei nada. Vai se acostumando ao status silencioso, em nome da paz e do amor. De preferência nem pensa, porque do jeito que você é horrendo o seu pensamento tende a ser uma usina de ódio. Chegou o tempo da harmonia, não há espaço para o que vem da sua mente;
    2. Um pensamento lhe será sempre permitido. Ou melhor, dois: pense duas vezes antes de abrir a boca. Nessa linha o seu livre pensar está garantido pelos talibãs do amor, a nova casta que te governa. 
    3. Pensando duas vezes, na segunda vez o seu pensamento com certeza virá coalhado de verdades amorosas, as quais você poderá expressar livremente. Por exemplo: a eleição presidencial foi limpa. Isso é uma verdade que conforta o coração talibã;
    4. No assunto eleição 2022 você já sabe: se não andar na linha, babau. O talibã brasuca tem neste assunto um dos seus grandes totens. Se liga. Vê se não vai se engraçar pelo submundo da desinformação e aparecer com críticas ao processo eleitoral impecável conduzido pelo TSE, a corte talibã que prende e arrebenta em nome do bem.                       A nova Constituição não escrita (escrever toma muito tempo e não leva a nada) aconselha inclusive o cidadão a jamais pronunciar a palavra “auditável”. Obedeça, não seja um subversivo;
    5. Se uma audiência no Senado trouxer servidores e técnicos mostrando por A + B que o processo eleitoral foi imundo, obscuro, pervertido, manipulado, completamente irregular e consagrou a volta de um ladrão à cena do crime, você tem as seguintes opções para reagir a isso:
    6. Finge que não viu;
    7. Nega tudo;
    8. Espera o William Bonner negar tudo às 20:30 e repete tudo que ele disser;
    9. Chama todo mundo de golpista;
    10. Pede ao Alexandre de Moraes pra avisar aos mortais que o Senado não manda porra nenhuma e vai ser multado em R$ 1 bilhão por hora cada vez que inventar uma audiência antidemocrática e fora de hora como essa aí;
    11. Jamais desrespeite a liberdade de expressão das urnas brasileiras. Elas têm vontade própria, e seu direito de escolha é garantido pelo TSE. Se a urna escolher um amor bandido, por exemplo, isso é problema dela.                                                     Se você teclou outra coisa no dia da eleição, paciência. Respeite a diversidade. Não queira atrair a urna eletrônica para o seu pensamento único;
    12. Quem não respeitar a vontade (própria) das urnas será processado por assédio eleitoral;
    13. Quem não disser que o Lula é inocente será processado por assédio político;
    14. Quem não disser que o Alexandre de Moraes manda na porra toda será processado por assédio alexandrino;
    15. Quem não disser que a expressão “Perdeu, mané” consagrou Luís Roberto Barroso como o novo Montesquieu, deixando no chinelo aqueles iluministas chinfrins do passado, que nem sabiam quem era João de Deus, será processado por assédio filosófico;
    16. Quem disser que nada disso pode ser feito contra o cidadão porque não está na lei provocará uma gargalhada geral no próximo banquete dos supremos talibãs.                                        A não ser que você tenha a ideia genial de desistir de ser mané.

  1. Leia também “Eleição à la carte”
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  3. Guilherme Fiuza, colunista - Revista Oeste
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