Josias de Souza - UOL
Quem olha para Daniel Silveira logo percebe que lhe sobram músculos. Quem ouve o personagem não demora a notar a falta que lhe fazem os miolos. O tronco hipertrofiado leva o deputado a fazer do exercício do seu mandato um ato físico O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, deseja adornar a perna esculpida do parlamentar com uma tornozeleira eletrônica. E o encrenqueiro bolsonarista decidiu testar as dimensões de suas costas largas arrastando a Câmara para sua encrenca. Entrincheirou-se no plenário até o início da madrugada.
Depois, transformou o gabinete em dormitório. Moraes ordenou que a Polícia Federal fosse à Câmara para cumprir sua decisão. Silveira avalia que os policiais não podem importuná-lo nas dependências do Congresso. E reivindica que seus colegas cassem a decisão judicial no plenário, o que exigiria o voto favorável de 258 dos 513 deputados.
Na origem da encrenca de Daniel Silveira está um vídeo. Nele, o deputado estimulou a agressão física de ministros do Supremo, desqualificou a Corte e defendeu o AI-5, instrumento usado pela ditadura militar para anular a democracia. Passou uma temporada na cadeia. Saiu sob o compromisso de se comportar. Voltou a surtar. Daí a ordem para a instalação da tornozeleira.
Toda decisão judicial é passível de contestação. Mas o destrambelhamento não é o recurso adequado. Ou a Câmara toma distância da pantomima [sic] de Daniel Silveira [abrindo mão das prerrogativas que a Constituição Federal lhe concede e se desmoraliza ] ou transformará uma refrega jurídica que que deveria ser resolvida nos autos do inquérito num processo de desmoralização institucional.
Josias de Souza, jornalista - Blog UOL